'No início, efeito era maravilhoso. Mas é tudo ilusão', conta usuário de ketamina

Ex-policial de 52 anos, Yan (nome fictício) usa a droga há mais de dez anos e em ritmo quase diário

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Foto do author João Ker

Apesar de não ser exclusiva desses espaços, a ketamina é popular nas baladas de música eletrônica por São Paulo, onde é conhecida como "keta", "key", "keyla" ou, se misturada com cocaína, como "c.k." ou "calvin klein". Assim Yan (nome fictício), de 52 anos, foi apresentado à droga. "Já conhece a keyla?", indagou um amigo em uma balada na Lapa, zona oeste paulistana. 

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A primeira droga que tomou foi a "balinha" (ecstasy), mas ele conta que depois de um tempo não sentia mais efeito. Aí resolveu provar a ketamina. "No início, o efeito das luzes e do som era maravilhoso. Mas é tudo uma ilusão, né?", conta.

Na última década, foram três overdoses por cocaína. "Não sei como sobrevivi." Ele conta só escapar do vício de ketamina quando não está em São Paulo, onde o acesso à droga é mais fácil. "Às vezes tenho esses 'starts' de jogar fora (vidros de ketamina). Alguns amigos até falam 'louco, desperdiçando dinheiro!'" Ele diz pagar de R$ 250 a R$ 350 em um vidro com 50 ml do produto no estado líquido, que ele transforma em pó. Nas baladas, um pacote de 1g da droga já solidificada e pulverizada chega a R$ 100. 

Ex-policial de 52 anos, Yan (nome fictício) é usuário de ketamina há mais de uma década e conta o acesso à droga é mais fácil em São Paulo. Na foto, ele segura um vidro da substância, que depois transforma em pó para aspirar Foto: TIAGO QUEIROZ / ESTADÃO

"Hoje em dia ela já é encontrada até de cores diferentes, com a adição de corantes. Também já encontramos misturada com álcool e outras substâncias adulterantes", explica Marcos Franco, perito criminal do núcleo de entorpecentes da Polícia Técnico-Científica de São Paulo. 

Segundo Yan, "o esquema é uma incógnita, porque quem pega não conta" de onde a droga vem. Delegados ouvidos pela reportagem afirmaram que a ketamina vem de outros países para o Brasil, mas usuários e peritos relataram que há a compra direta em lojas de produtos veterinários e agrários, com desvios de receita ou da própria substância. Em nota, a Polícia Federal disse não ter encontrado a substância em nenhum exame toxicológico feito pela instituição. 

Já a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) reforça que "não foi localizado registro legal e válido de medicamento contendo a substância" no Brasil.

A agência também afirma que a inclusão da cetamina na lista B1 de substâncias controlas é "mais adequada" porque, para a prescrição dos itens listados nesta categoria, a numeração dos receituários - que possuem um modelo oficial -é concedida pela Autoridade Sanitária local "e, portanto, por meio do gerenciamento desta atividade, se torna mais ágil o monitoramento das prescrições emitidas pelos profissionais, os quais já poderão ser previamente conhecidos, bem como possibilita quaisquer intervenções necessárias de forma mais eficiente".

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