No Suriname, escravidão e ameaças de morte

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Por Carlos Mendes
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A dançarina R.S., de 26 anos, nunca imaginou que sua vida iria mudar tanto, para pior, quando, em 2004, deixou Belém para trabalhar em boates de Paramaribo, capital do Suriname, a convite de um empresário holandês. "Virei escrava sexual. Até ameaça de morte sofri." A história de R. é apenas uma entre outras de 450 mulheres que nos últimos dez anos deixaram Belém rumo ao Suriname. Retrata também a violência do tráfico humano praticado por aliciadores em cidades como Belém, Macapá e Manaus. A proposta a R. era tentadora: R$ 150 por noite. Ela só conseguiu escapar do "inferno" ao ser salva pelo atual marido, um taxista. Recomeçou a vida há um ano e hoje tem uma filha de 8 meses. Um dos aliciadores, que responde a quatro ações na Justiça Federal, é o surinamês Henk Kunath, proprietário da boate Diamond e de duas casas na Holanda. Ele é apontado pela Polícia Federal como um dos principais traficantes de mulheres para Holanda e Alemanha. Paramaribo é rota obrigatória. Kunath, que ficou 90 dias na cadeia, nega a acusação. "Eu não convido ninguém, elas que estão sempre atrás de mim." Admite atuar como agenciador de viagens das mais bonitas para trabalhar na Holanda e diz receber US$ 500. "É mentira. Ele recebe no mínimo US$ 1 mil e a gente ganha R$ 100", denuncia A.V.F., de 31 anos, que trabalhou para Kunath. As mulheres estão divididas em três classes. As da classe A, depois de um "estágio", vão à Europa. As da B ficam nas boates de Paramaribo, enquanto as da C vão para garimpos. "Nesses garimpos, algumas acabam assassinadas", diz o delegado substituto da Delegacia de Defesa Institucional da PF em Belém, André de Lavor. Ele diz que é fácil identificar as jovens que embarcam para o Suriname como prostitutas. "Elas nunca sabem dizer onde vão ficar ou o valor da passagem, porque os aliciadores tratam disso."

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