De domingo a domingo, a partir das 14h até o último cliente. Uísque, vinho, cerveja, refrigerante e água de graça. Até cigarros são distribuídos para quem é frequentador dos cassinos domésticos. O único preço pago é pelas fichas e apostas. Apesar de toda a mordomia aparente, as paredes das casas que servem de esconderijo para a jogatina revelam que, às vezes, falta recheio na carteira para sustentar a noitada. Um aviso pregado deixa claro: "Não aceitamos cheque. Nem emprestamos dinheiro". Segundo uma frequentadora ouvida pela reportagem, a média de gasto por dia de bingo é de R$ 500. "Mas tem gente, especialmente estrangeiros, que chega a gastar R$ 10 mil por noite." Para atrair a clientela mais abastada, as estratégias são muitas. "São feitos jantares temáticos, como a noite italiana, com cardápios variados, tudo de graça", contou ela. Outra apostadora informou que as grandes festas são acontecimentos esperados entre os apostadores, por vezes marcados com até dois meses de antecedência. "O local é sigiloso." Para os frequentadores mais assíduos, as melhores poltronas são reservadas. Já no prédio residencial na Alameda Barros, em Santa Cecília, o conforto não era uma das características. Segundo a chefe de gabinete da Subprefeitura da Sé, Marília Marton, funcionária que descobriu o bingo/apartamento e realizou a operação no local mês passado, 15 máquinas de videobingo estavam em um espaço inferior a 30 metros quadrados. "Era um escritório apertado, nunca tinha visto uma coisa assim." O jogo funcionava no primeiro dos 12 andares. Os vizinhos - médicos, advogados e contadores - não entenderam como um bingo funcionou lá. Mas a medicina tem algumas explicações para tantos frequentadores de bingos, que sobrevivem mesmo na ilegalidade e no constrangimento. A dependência do jogo foi estudada e tem mecanismos parecidos com o do vício das drogas.
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