Número de crianças baleadas na região metropolitana do Rio triplica em um ano

Ao todo, 25 crianças foram atingidas por disparos no ano passado, com dez mortes; Secretaria de Estado de Polícia Militar diz que ‘combate aos grupos criminosos é uma das prioridades’

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Foto do author Marcio Dolzan
Atualização:

A região metropolitana do Rio teve 25 crianças baleadas no ano passado, número três vezes maior do que o registrado em 2022. Desse total, dez acabaram morrendo, cinco vezes mais do que no ano anterior. É o maior registro de crianças baleadas desde 2018, e isso num contexto em que o número total de tiroteios diminuiu em praticamente todas as regiões.

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A única exceção foi a zona oeste carioca; em meio a sucessivos confrontos entre facções criminosas, os tiroteios aumentaram 53%, e o número de mortes mais do que dobrou de um ano para o outro.

Os números fazem parte de um levantamento do Instituto Fogo Cruzado, divulgado nesta segunda-feira, 29. Chama a atenção o alto número de crianças baleadas, que igualou o ano de 2018 e é o maior da série histórica iniciada em 2017. Nunca, porém, tantas crianças acabaram morrendo após serem atingidas.

Em nota, a Secretaria de Estado de Polícia Militar do Rio informou que “o combate aos grupos criminosos envolvidos em disputas territoriais na zona oeste da cidade do Rio é uma das prioridades do comando da corporação”. Afirma ainda que prendeu 589 criminosos envolvidos com milícias em diversos bairros da região metropolitana, em especial na zona oeste e na baixada fluminense (leia mais abaixo).

O Instituto Fogo Cruzado ressalta que é difícil fazer um diagnóstico preciso sobre as razões desse aumento, mas explica que é inegável que ele tem a ver com o “descontrole da violência armada” no Grande Rio.

“Quando a gente fala de crianças baleadas, comparando com outros indicadores do Fogo Cruzado, a gente percebe que elas acabam sendo vítimas de dinâmicas de violência diferentes”, diz Maria Isabel Couto, diretora de Dados e Transparência do Instituto Fogo Cruzado

Ela lembra que, na maioria das vezes, homicídios ou mortes em confrontos decorrem de alguma disputa - o responsável pelo disparo visava de alguma forma àquela pessoa -, o que não acontece no caso de crianças. “A proporção de crianças vítimas de balas perdidas é muito alta. Desde o início do nosso levantamento, na maior parte dos casos, dois terços foram vítimas de bala perdida”, ressalta a diretora.

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O levantamento do instituto mostra que, na média, um terço das crianças que morrem por disparos acabaram atingidas durante alguma ação ou operação policial na região. No ano passado, um dos casos de maior repercussão envolveu a morte da menina Heloísa dos Santos Silva, de apenas 3 anos, ocorrido em setembro.

Na ocasião, ela estava no carro da família, que transitava pelo Arco Metropolitano, quando agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) dispararam alegando se tratar de um veículo roubado - o que não procedia. Três agentes foram denunciados pelo Ministério Público Federal (MPF) e vão responder por homicídio e fraude processual.

No ano passado, um dos casos de maior repercussão envolveu a morte da menina Heloísa dos Santos Silva, de apenas 3 anos, ocorrido em setembro Foto: Acervo pessoal/Reprodução

Em nota, a PRF informou que desde o início do ano passado “criou a Coordenação-Geral de Direitos Humanos para acompanhar as ações dos policiais e manter o trabalho da instituição de acordo com normas internacionais e a legislação brasileira que trata dos direitos humanos”.

A instituição declarou ainda que está desenvolvendo um projeto para uso de câmeras corporais, que deverão chegar a todo o efetivo até o fim de 2025.

Por fim, a PRF informou que publicou no mês passado a ‘Nova Matriz de Fundamentos de Formação da Polícia Rodoviária Federal’, um documento que “permite o acompanhamento interno e externo da atividade desempenhada pela PRF e busca o respeito aos direitos humanos”.

Número de tiroteios aumenta 53% na zona oeste em meio a disputa entre traficantes e milicianos

O levantamento do Instituto Fogo Cruzado mostra que houve melhora nos índices de tiroteios em praticamente todas as regiões do Grande Rio. No geral, houve redução de 18%.

A única área que registrou aumento foi a zona oeste carioca: por lá, enquanto em 2022 foram registrados 561 tiroteios, com 138 mortos, no ano passado esse número saltou para 860 trocas de tiros, que resultaram em 281 mortos.

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“Os dados mostram de forma muito clara que o que está acontecendo na zona oeste é um descontrole da luta armada”, afirma Maria Isabel Couto, do Fogo Cruzado. Ela diz que os confrontos entre milicianos e traficantes pelo domínio de territórios explicam esse aumento - seja por causa das trocas de tiros entre eles, seja por operações policiais para tentar debelar isso.

“Não à toa, os cinco bairros que mais registraram tiroteios são bairros da zona oeste. Muitos desses conflitos são entre milicianos e traficantes, mas também houve aumento de casos envolvendo ações policiais”, explica a diretora.

Ao Estadão, a Secretaria de Estado de Polícia Militar informou que “o combate aos grupos criminosos envolvidos em disputas territoriais na zona oeste da cidade do Rio é uma das prioridades do comando da corporação”.

A PM declarou que a 8.ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM) da corporação “atua diretamente no combate a tal modalidade criminosa”, e que no ano passado policiais militares prenderam 589 criminosos envolvidos com milícias em diversos bairros da região metropolitana, em especial na zona oeste e na baixada fluminense.

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