O BNDES e a criação de monopólios

PUBLICIDADE

Foto do author Redação
Por Redação
Atualização:

O objetivo do BNDES de favorecer a criação de "campeões nacionais" - empresas brasileiras com caráter de multinacionais - é louvável, embora enfrente diversas dificuldades, entre elas o atraso tecnológico de nossas empresas e a concorrência das multinacionais que procuram se instalar no País.É claro que, no contexto da economia mundial atual, grandes empresas levam grande vantagem. No entanto, sua expansão se baseia, em primeiro lugar, na superioridade tecnológica e na capacidade de inovação. Nesse campo, o Brasil sofre um grande atraso, que tem suas raízes num sistema educacional muito deficiente. Seguramente, o grande sucesso das empresas da Califórnia, do Japão e dos países asiáticos em geral repousa na inovação tecnológica.No Brasil, as vantagens comparativas se baseiam na disponibilidade de riquezas naturais: minérios, produtos agropecuários, madeira. São commodities cujos preços são formados fora do País. Seria necessário industrializar essas matérias-primas com tecnologias inovadoras, que impusessem ao mercado externo os produtos resultantes. Nesse sentido, a melhor contribuição do BNDES seria estimular as pesquisas tecnológicas.As descobertas de grandes reservas de petróleo deveriam estimular-nos a que nos tornássemos um país inovador na área da petroquímica, setor em que colhemos o nosso maior malogro até agora. Embora sejamos um dos maiores produtores mundiais de minério de ferro, a existência de outros grandes produtores nos impede de pensar em exercer um monopólio no setor siderúrgico. A situação é muito mais cômoda no caso da produção de carne ou de celulose.A vantagem de termos um grande mercado doméstico é, seguramente, importante, porém precisamos ter o cuidado de não criar monopólios que possam prejudicar os consumidores nacionais. Nesse sentido, caberia mais ao governo facilitar a criação de empresas multinacionais brasileiras mediante reformas tributárias e administrativas que as favorecessem.Devemos atentar para o movimento atual de transferência de fábricas de multinacionais para nosso país, que procuram implantar-se aqui para fornecer ao mercado doméstico com equipamentos já amortizados. De certo modo, isso dificulta a pretensão do BNDES de criar grandes empresas nacionais, pois elas teriam de enfrentar uma competição estrangeira mesmo dentro do Brasil.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.