A mudança do comunicado final da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) deixa bem claro que seus membros não compartilham da convicção de que a taxa Selic atual seja condizente com um cenário benigno de inflação. Ao contrário, temem que o País entre em fase de forte consumo. A divulgação da ata da reunião, na próxima semana, deve esclarecer se veem ameaça apenas num descasamento entre demanda e produção domésticas - sabendo que uma desvalorização da moeda nacional dificulta a cobertura desse "gap" pela importação - ou se a maior preocupação é com as transferências oficiais num ano de eleição.De qualquer modo, o comunicado final torna mais provável a elevação da taxa Selic na reunião de março. Isso atrapalharia os planos do governo num ano de eleições.A primeira reação vem do secretário do Tesouro, Arno Augustin, que declarou que, na sua visão, a política monetária deve acompanhar a necessidade de retomada do crescimento. É a primeira vez que o Tesouro, em princípio muito ligado à atuação do Banco Central (BC) na administração da dívida, se permite condenar a política monetária.A reação do governo foi muito mais hábil ao anunciar que até março vai limitar os gastos para evitar a elevação da taxa de juros e, segundo anunciou o ministro do Planejamento, cortes no Orçamento serão feitos em março.Outras medidas foram anunciadas para conseguir recursos dos bancos, como por exemplo a autorização do governo de dar seu aval para que as usinas elétricas em construção possam receber créditos.A questão é saber se as autoridades monetárias, de um lado, acreditarão na firmeza das decisões do governo; de outro, se as acharão suficientes; e, finalmente, se considerarão que não é preciso - como é do costume no Copom - adiantar-se às consequências de uma elevação da liquidez. Deve-se acrescentar que o fato de dar um aval a algumas companhias públicas representa uma garantia para as autoridades monetárias, na medida em que, provavelmente, o governo teria de cobrir a inadimplência delas.Os erros cometidos nos últimos tempos, como o aumento dos salários e de funcionários, têm efeito duradouro que nenhum corte orçamentário possa neutralizar. Dificilmente o governo, num ano de eleição, cortará os investimentos. Nesse quadro, se não for em março o aumento da Selic, isso acontecerá em abril, a menos que a equipe do BC seja trocada.