O culpado, no caso Carlinhos, pode ser quem se imaginava

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Por Agencia Estado
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O detetive particular Bechara Jalkh, que nos anos 70 investigou o seqüestro do menino Carlinhos, acredita que se ficar comprovado que Carlos Alberto de Souza é o mesmo garoto levado de casa no Rio de Janeiro, finalmente será esclarecida a participação do pai do menino, João Mello da Costa, no crime. ?Não tenho dúvidas de que o pai está por trás de tudo. A família do Carlos Alberto terá que contar o que de fato aconteceu?, afirmou o detetive. Segundo Jalkh, Costa era dono de um laboratório farmacêutico e estava falido. Ele teria forjado o seqüestro do filho para se recuperar financeiramente. ?Ele sempre foi falido, vivia de aplicar golpes. A casa em Santa Teresa era muito humilde, as portas não fechavam, os vira-latas ficavam soltos num quintal sujo. Nenhum seqüestrador agiria ali?, diz. Quando passou a investigar o caso, contratado pelo jornal O Globo, Jalkh enviou o bilhete com o pedido de resgate a exames grafotécnicos, que comprovaram que a letra era de Sílvio Azevedo Pereira, funcionário de Costa. ?A filha mais velha, Vera Lúcia, reconheceu Sílvio como o seqüestrador, mas o João advertiu a filha que se ela falasse sobre isso, ele acabaria preso?, conta o detetive. Jalkh descobriu ainda que Carlinhos foi levado para Campos no carro do pai, um Fusca azul. O motor do veículo fundiu e o carro reapareceu em Duque de Caxias, onde funcionava o laboratório. ?Foi aberta uma conta bancária para o pagamento do resgate que juntou Cr$ 300 mil, três vezes mais do que o exigido pelos supostos seqüestradores. João e Sílvio melhoraram de vida?, afirma Jalkh. Sílvio Pereira foi condenado a 13 anos e oito meses em primeira instância. Mas foi absolvido. Costa nega o seqüestro do filho. ?Nunca fui indiciado, nem chamado como testemunha?, diz. Perguntado se tem interesse em conhecer o rapaz que pode ser o filho desaparecido, respondeu secamente: ?Não quero tomar conhecimento?. Aos 81 anos, Costa mora numa modesta casa em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense. Vizinhos dizem que ele leva vida de dificuldades. A mãe de Carlinhos, Maria da Conceição Ramires da Costa, também acredita no envolvimento do ex-marido. ?Seis meses depois do seqüestro, eu já não contava com o apoio dele?. Ela confirma que houve uma conta bancária aberta para arrecadar dinheiro para o pagamento do resgate em nome de uma cunhada, Carmen Costa. ?Não sei que destino levou o dinheiro. O resgate nunca foi pago. Era uma situação incômoda depender de doações anônimas. Uma vez uma vizinha ofereceu-se para comprar um terreno nosso em Laranjeiras, mas ele (Costa) se recusou.? O delegado titular de Homicídios, Carlos Henrique Machado, disse que o crime já prescreveu, mas que há possibilidade de o inquérito ser reaberto se ficar comprovado que Carlos Alberto é Carlinhos. Amigo de Carlinhos, Marcelo Bezerra, de 35 anos, disse que não reconheceu o companheiro de brincadeiras nas fotos divulgadas de Carlos Alberto de Souza. ?Eu também mudei, fiquei mais gordo. Mas o cabelo dele está diferente, a cor dos olhos também. Não parece o menino com quem eu brincava?, disse. O pai dele é dono da Mecânica Bezerra, que fica ao lado da casa em que Costa vive hoje e funcionou como laboratório farmacêutico até a década de 70. ?Éramos muito amigos. Ele me deu um cachorro, certa vez. Ainda encontro os irmãos dele, mas não comentamos o caso?.

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