O que esperar de outono sem La Niña nem El Niño no Brasil?

Ondas de calor que marcaram o verão não devem se repetir; segundo especialistas, Rio Grande do Sul não está sob risco de novas tempestades, como as do ano passado

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Foto do author Roberta Jansen

As seguidas ondas de calor que marcaram o verão ficaram para trás. Segundo as previsões meteorológicas, elas não devem se repetir no outono, que começou no dia 20. De forma geral, no entanto, a nova estação terá temperaturas acima da média, seguindo a tendência registrada nos últimos anos e atribuída ao aquecimento global. O planeta vive um período de neutralidade, sem influência dos fenômenos climáticos La Niña e El Niño, que costumam alterar o regime de chuva e o padrão de temperaturas em várias regiões da Terra.

Tendência é de estação menos chuvosa em São Paulo e outros Estados Foto: Taba Benedicto/Estadão

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Transição entre o verão e o inverno, o outono é marcado por um clima mais ameno. As temperaturas variam muito entre as diferentes regiões do País, com mínimas médias de 24ºC no Norte e de 10ºC no Sul. A nova estação se estende até às 23h42 de 20 de junho, quando começa o inverno.

Foi justamente no outono do ano passado que o Rio Grande do Sul enfrentou uma das maiores enchentes de sua história, sob a influência do El Nino, caracterizado pelo aquecimento das águas do Pacífico. Este ano, a tragédia de 2024 não deve se repetir.

“A chuva recorde do ano passado no Rio Grande do Sul não deve se repetir este ano; pelo contrário, as previsões indicam chuvas ligeiramente abaixo da média na região Sul e também em São Paulo e no Mato Grosso do Sul”, afirma Luiz Felippe Gozzo, pesquisa da Universidade Estadual Paulista (Unesp). “Obviamente temporais pontuais podem acontecer, mas nada da magnitude do que ocorreu no ano passado.”

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Segundo ele, isso está relacionado ao fim do fenômeno La Niña (de resfriamento das águas do Oceano Pacífico) que estava ativo até o início de 2025. O La Niña, que acontece desde dezembro de 2024, foi mais curto do que o habitual, segundo a Organização Mundial de Meteorologia (OMM)

Agora, o oceano entra num período de neutralidade (sem La Niña, nem El Niño), com temperaturas variando entre - 0,4ºC e 1,4ºC.

“Nesta fase neutra (sem El Niño ou La Niña) outras condições oceânicas ganham mais importância, como o aquecimento do sudoeste do Oceano Atlântico, ali perto da Bacia do Prata (no sul do continente)”, explica o meteorologista. “E este fenômeno também desfavorece as chuvas no Sul e no Sudeste.”

“De forma geral, podemos dizer que o outono terá temperaturas acima da média em quase todo o Brasil, em especial no norte da região Sudeste e no Centro-Oeste”, acrescenta Gozzo. “Mas não há perspectivas de ondas de calor tão intensas e abrangentes como as registradas no verão.”

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Conforme o prognóstico climático da estação produzido pelo Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), embora a tendência deste outono seja de temperaturas acima da média, haverá também as características incursões de massas de ar frio, oriundas do sul do continente, que provocam a queda das temperaturas, sobretudo nas regiões Sul e Sudeste.

Na cidade de São Paulo, as temperaturas médias para o período variam de 12,4ºC a 27,4ºC. Para este ano, a previsão é de que os termômetros fiquem um pouco acima da média, com pequenas quedas pontuais. O clima no outono também é marcado pela amplitude térmica, quando as mínimas e as máximas ficam mais distantes e a temperatura oscila muito ao longo do dia.

Ainda estão sendo registrados volumes importantes de chuva nas regiões Norte e Nordeste, mas a tendência geral da estação é de precipitações ligeiramente abaixo da média em todo o Brasil, o que explica parcialmente as temperaturas mais altas.

“Quando temos menos chuva, temos menos umidade, e a temperatura sobe”, afrima a especialista em meteorologia, Maria Clara Sassaki, da empresa Tempo Ok. “A população muitas vezes não percebe porque saímos das temperaturas muito altas da primavera e do verão, muitas vezes acima dos 36ºC, e vamos para temperaturas mais amenas.”

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De forma geral, nos últimos anos, os oceanos têm apresentando temperaturas acima da média, contribuindo para a elevação recorde das temperaturas que vem sendo registradas.

“Essa elevação (da temperatura dos oceanos) é atribuída ao aquecimento global”, continua Maria Clara.

O outono também marca as primeiras ocorrências do ano de fenômenos adversos relacionados à estação, como nevoeiros nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste; geadas no Sul, no Sudeste e em Mato Grosso do Sul; neve nas áreas serranas e nos planaltos da região Sul, além de friagem no sul da Região Norte e em Mato Grosso do Sul e Mato Grosso até o sul de Goiás.

Os ventos mais fortes costumam soprar na forma de ciclones extratropicais (sistemas de baixa pressão), fenômeno que se torna mais frequente no outono e que impulsiona o ar polar em direção ao Sul do País. Quando ocorrem ciclones, as rajadas de vento são de, em média, 50 a 100 quilômetros por hora. Em casos extremos, podem ultrapassar os 100 quilômetros por hora no sul e no leste do Rio Grande do Sul, com risco de ressacas.

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A ocorrência menos duradoura do La Niña não significa, necessariamente, que teremos um retorno rápido do El Niño, que geralmente provoca temperaturas mais altas nas regiões tropicais, como no Brasil.

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