Obra em presídio federal contra fuga de detentos tem atrasos e prejuízos

Construção de muralhas foi prometida por Lewandowski após detentos escaparem no RN em fevereiro. Procurada, pasta culpou a empresa que conduz projeto e informou que pediu o rompimento unilateral do contrato

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Foto do author Gustavo Côrtes
Atualização:

BRASÍLIA - Nove meses após o ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, prometer a construção de muralhas em torno de cada um dos cinco presídios sob sua gestão, a única que saiu do papel, em Porto Velho, enfrenta falhas de planejamento, atrasos e prejuízos aos cofres públicos. A obra, atualmente orçada em R$ 45 milhões, já deveria estar com mais da metade do cronograma completo, mas tinha apenas 8% das ações concluídas até outubro, conforme a Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen). Foi preciso ainda aditivo de R$ 1 milhão para corrigir erros de projeto. O valor é insuficiente, segundo a empreiteira contratada.

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Procurada, a Senappen afirmou que a lentidão é “responsabilidade exclusiva” da empresa que conduz a obra e disse que abriu processo para rompimento unilateral do contrato. Lewandowski assumiu o compromisso de criar estas barreiras de segurança em fevereiro, após dois detentos fugirem da unidade de segurança máxima de Mossoró (RN). Lá, a iniciativa está em fase de assinatura do contrato.

Em Campo Grande e Catanduvas, as licitações estão previstas para 2025. A prisão da Papuda, no Distrito Federal, é a única que já conta com a estrutura.

O contrato foi firmado em outubro de 2022, no fim da gestão Jair Bolsonaro (PL), mas coube à gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) executá-lo. A TL Engenharia, escolhida em licitação para pôr de pé o paredão com torres de vigia e passarelas, alega em defesa no processo que o governo cometeu falhas técnicas ao projetar a sustentação da estrutura e subestimou o custo de materiais.

O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, durante coletiva para falar da recaptura dos dois fugitivos da penitenciária federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Foi a primeira fuga de um presídio de segurança máxima do país. Após 50 dias de buscas, os dois detentos foram encontrados em Marabá (PA), a cerca de 1.600 km de Mossoró. Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Inicialmente, o projeto previa estacas mecânicas, mas um laudo de especialistas em geotecnia revelou a inviabilidade dessa solução devido à presença de água no solo em níveis que impediriam a concretagem adequada. Por isso, adotou-se a alternativa de estacas em hélice contínua, o que resultou no aumento de 50% na quantidade de concreto necessário.

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A Senappen diz desconhecer laudo que aponte falhas no projeto. O órgão afirma que o contrato sofreu duas alterações até o momento: uma para ajustes de planilha orçamentária e outra para prorrogação de prazo. Alega também que a correção do modelo de fundação havia sido feito antes da assinatura do contrato. “Os ajustes de execução em obras de engenharia são normais ao processo e previstos na Lei de Licitações.”

Os estudos de revisão citados pela TL já estavam concluídos em janeiro de 2023, quando teve início o terceiro mandato de Lula, mas as alterações e o reequilíbrio econômico financeiro de R$ 1 milhão só foram autorizados dez meses depois. A empreiteira pleiteou aditivo de R$ 3,4 milhões. O Departamento Penitenciário Nacional (Depen) negou o pedido.

Segundo a empreiteira, a demora na aprovação causou desmobilização da mão de obra e custos adicionais devido à necessidade de recontratar trabalhadores. As informações constam no processo administrativo aberto contra a empresa para a rescisão unilateral do contrato.

O governo teria ainda subestimado custos operacionais e de insumos e também desconsiderado dificuldades da região, como falta de oferta de serviços e período de chuvas intensas na região amazônica.

Já o Ministério da Justiça afirma que a empresa, além de atrasar a conclusão da obra, não apresentou proposta para ajustar o cronograma e descumpriu cláusulas contratuais, como a que exige um número mínimo de funcionários empregados na obra. Segundo a pasta, a TL Engenharia ignorou comunicados oficiais da equipe técnica.

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Procurada, a TL Engenharia afirmou por meio de nota que pretende concluir a muralha do presídio de Porto Velho até dezembro de 2025 e atribuiu o atraso a características atípicas do projeto. “O projeto enfrentou desafios técnicos complexos devido à peculiaridade da obra e do local, incluindo condições geográficas e climáticas atípicas que impactaram o cronograma inicial.”

Também reconheceu o esforço do governo para solucionar o impasse. “A Senappen sempre imbuiu esforços para o bom andamento da obra, tendo inclusive cobrado soluções da empresa.”

O presídio federal de Porto Velho abriga alguns dos mais perigosos líderes de facções criminosas do Brasil. Até janeiro de 2023, Marco Herbas Willians Camacho, o Marcola, chefe do Primeiro Comando da Capital (PCC) cumpria pena lá. Ele é condenado a 330 anos de cadeia por diversos crimes. O traficante Fernandinho Beira-Mar, do Comando Vermelho, também passou pela penitenciária.

BRASILIA DF METROPOLE 17-02-2024 PRESIDIO FEDERAL BRASILIA Muralhas nos presídios federais: medida de segurança anunciada após fuga em Mossoró já existe em Brasilia Estrutura que cerca penitenciaria federal no DF abrange área de 12.300 m² e conta com blindagem especial 'de guerra'. Após fuga de dois presos no Rio Grande do Norte, ministro Lewandowski afirmou que medida deve ser adotada em todas as prisões federais.FOTO SENAPPEN  Foto: SENAPPEN

A construção de uma muralha em torno do local tem como objetivo evitar casos como o de Mossoró, onde dois detentos escaparam através de um buraco sob a luminária das celas em que estavam presos. A recaptura dos fugitivos levou 51 dias. O caso foi a primeira crise de Lewandowski à frente da Justiça e expôs a falha de segurança das penitenciárias de segurança máxima.

Em resposta à crise, o ministro anunciou uma série de medidas para aprimorar a segurança dos presídios com recursos do Fundo Penitenciário Nacional (Funpen). A principal delas foi erguer muralhas com torres de vigia no entorno, a exemplo da estrutura que já existe na penitenciária da Papuda, no Distrito Federal.

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