O diretor artístico da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Paris, Thomas Jolly, negou neste domingo, 28, ter zombado do cristianismo durante o espetáculo. Uma encenação foi associada à representação da Última Ceia, pintura do italiano Leonardo da Vinci. No desfile desta sexta-feira, 26, na capital francesa havia um DJ no lugar que seria de Jesus e drag queens atuando como apóstolos.
“Você nunca encontrará da minha parte nenhum desejo de zombar, de desmerecer nada. Quis fazer uma cerimônia que reparasse, que reconciliasse. Também que reafirmasse os valores da nossa República”, disse Jolly à emissora de televisão BFMTV. No dia anterior, ele também já havia afirmado que sua ideia era passar uma mensagem de inclusão e diversidade.
A conferência episcopal Francesa (CEF) condenou no sábado, 27, o que considera “cenas de escárnio e zombaria do cristianismo”. Mas segundo Jolly, a Santa Ceia não foi sua inspiração. “A ideia era fazer um grande festival pagão conectado com os deuses do Olimpo... Olympus... Olimpismo”, afirmou.
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Anne Descamps, porta-voz dos Jogos Olímpicos de Paris, também comentou o episódio. “Claramente nunca houve a intenção de demonstrar desrespeito a qualquer grupo religioso. Ao contrário, eu penso como Thomas Jolly. Realmente tentamos celebrar a tolerância comunitária”, disse.
“Olhando para o resultado das pesquisas que fizemos, acreditamos que essa ambição foi alcançada. Se as pessoas se sentiram ofendidas, estamos, é claro, realmente sentimos muito”, acrescentou ela, em coletiva de imprensa neste domingo.
Encenação motivou críticas pelo mundo
A conferência dos bispos da Igreja Católica Francesa e líderes religiosos espalhados pelo mundo protestaram no fim de semana contra a encenação.
“Nossos pensamentos estão com todos os cristãos de todos os continentes que foram feridos pela ofensa e provocação de certas cenas”, disse o coletivo de bispos em nota. “Esperamos que eles entendam que a celebração olímpica se estende muito além das preferências ideológicas de alguns artistas”, afirmou a entidade francesa.
No Brasil, o arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, classificou um “deboche” a encenação no desfile em Paris. “Será que o deboche a partir da última ceia não reproduz e reforça os preconceitos que se querem combater, fazem sofrer… levaram a violências?”, escreveu no X (antigo Twitter).
Outros líderes religiosos também endossaram as críticas e reclamações da Conferência dos Bispos da Igreja Católica Francesa, segundo a agência de notícia CNA (Catholic News Agency).
O bispo Andrew Cozzens, presidente do Comitê Episcopal dos Estados Unidos para Evangelização e Catequese, emitiu uma declaração pedindo aos católicos “que respondam ao incidente de Paris com oração e jejum”.
“Jesus viveu sua Paixão novamente na sexta-feira à noite em Paris, quando sua Última Ceia foi publicamente difamada”, disse Cozzens. “Não ficaremos de lado e ficaremos quietos enquanto o mundo zomba de nosso maior presente do Senhor Jesus”, escreveu o bispo.
O bispo alemão Stefan Oster chamou a cena da “Última Ceia queer” de “um ponto baixo e completamente supérfluo na encenação”, em uma publicação da Conferência Episcopal Alemã, segundo a CNA. O arcebispo Peter Comensoli de Melbourne, na Austrália, usou o X (antigo Twitter) para dizer que prefere “o original”, com a foto da obra de Da Vinci. / COM AP E AFP
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