ONU critica gestão de abastecimento de água às vítimas de Mariana
Em duas semanas, esta é a terceira vez que a organização critica situação no Brasil após rompimento de barragens da Samarco
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Por Jamil Chade
GENEBRA - O relator das Nações Unidas para o Direito à Água e ao Saneamento Básico, o brasileiro Léo Heller, criticou o governo por não estar garantindo acesso à água às vítimas do desastre ambiental em Mariana, em Minas Gerais, e alerta que análises do Rio Doce revelaram "níveis de elementos tóxicos que superam os níveis aceitáveis".
"Mais de um mês após o evento, centenas de milhares de pessoas dos Estados de Minas Gerais e do Espírito Santo ainda sofrem com interrupções no abastecimento de água", alertou o relator da Organização das Nações Unidas (ONU).
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Essa é a terceira vez em duas semanas que a ONU emite um comunicado sobre o desastre no Brasil. Nesta segunda-feira, 7, a entidade indicou que fará uma inspeção em Mariana, enquanto outro comunicado apontou que o caso não poderia ser visto como um acidente, mas, sim, um crime.
Agora, a preocupação é com a água. "Compreensivelmente, as pessoas estão preocupadas com a qualidade da água distribuída pelos sistemas de abastecimento que já foram restabelecidos. Também estão frustradas por receberem informações inconsistentes e inadequadas sobre a segurança da água, por parte das diferentes autoridades", disse Heller.
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Exército distribui água mineral em Governador Valadares
1 / 4Exército distribui água mineral em Governador Valadares
Enorme fila se formou sob forte calor
Com o tempo quente, a tarefa de aguardar na fila representou esforço excessivo para algumas pessoas Foto: Gabriela Biló/Estadão
Enorme fila se formou sob forte calor
População teve de esperar horas para conseguir pegar garrafas de água mineral em Governador Valadares Foto: Gabriela Biló/Estadão
Enorme fila se formou sob forte calor
A cidade interrompeu a captação no Rio Doce em razão da chegada à região dos rejeitos das barragens em Mariana Foto: Gabriela Biló/Estadão
Enorme fila se formou sob forte calor
Centenas de pessoas formavam filas que davam voltas no quarteirão da Praça dos Esportes, no centro Foto: Gabriela Biló/Estadão
Segundo a ONU, algumas análises da água e dos sedimentos do Rio Doce revelaram "níveis de elementos tóxicos que superam os níveis aceitáveis"
"O governo deve fortalecer o monitoramento da água bruta e tratada, aperfeiçoar o tratamento de água e divulgar informação clara à população para proteger assim seus direitos humanos à água segura e ao esgotamento sanitário", pediu Heller.
O brasileiro admite que, "como medida de emergência", as autoridades públicas vêm distribuindo água em alguns pontos, e as companhias minerárias têm levado água engarrafada às áreas afetadas. "No entanto, várias pessoas continuam expressando sua insatisfação com a distribuição de água, julgada insuficiente e desorganizada", declarou Heller.
Segundo ele, relatos apontam que as pessoas têm necessitado fazer filas durante horas para conseguir pequenas quantidades de água. Esse volume seria "insuficientes para manter práticas adequadas de esgotamento sanitário e de higiene".
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Abrigo de animais resgatados em Mariana
1 / 12Abrigo de animais resgatados em Mariana
Bichos estão em uma área de 1.700 m²
Em espaço bancado pela mineradora Samarco, há cães, gatos, cavalos, porcos, galinhas, patos e vaca Foto: Bruno Ribeiro/Estadão
Bichos estão em uma área de 1.700 m²
Alguns animais estão em jaulas; outros estão acorrentados Foto: Bruno Ribeiro/Estadão
Bichos estão em uma área de 1.700 m²
Os cachorros, especialmente os filhotes, passam o dia cavando o chão para tentar escapar Foto: Bruno Ribeiro/Estadão
Bichos estão em uma área de 1.700 m²
Os cães passam o dia nas gaiolas, mas voluntários e os próprios donos dos bichos frequentam o espaço para levá-los para passear Foto: Bruno Ribeiro/Estadão
Bichos estão em uma área de 1.700 m²
Os animais que ainda não tiveram os donos localizados serão colocados para adoção Foto: Bruno Ribeiro/Estadão
Bichos estão em uma área de 1.700 m²
Os cães e gatos estão em um galpão, que abriga também uma clínica veterinária e onde foram feitas pequenas cirurgias Foto: Bruno Ribeiro/Estadão
Bichos estão em uma área de 1.700 m²
Já chega a 605 o número de animais resgatados na região de Mariana após o rompimento das barragens de rejeito de minério de ferro da Samarco Foto: Bruno Ribeiro/Estadão
Bichos estão em uma área de 1.700 m²
A data de adoção dos animais sem dono ainda não foi definida Foto: Bruno Ribeiro/Estadão
Bichos estão em uma área de 1.700 m²
O espaço que abriga os bichos foi mantido com serviços de voluntários que se encarregaram de limpar as gaiolas e dar alimento aos bichos Foto: Bruno Ribeiro/Estadão
Bichos estão em uma área de 1.700 m²
Como em um hospital, as gaiolas dos cães são numeradas e, na porta delas, há papéis com as recomendações para cada bicho Foto: Bruno Ribeiro/Estadão
Bichos estão em uma área de 1.700 m²
Voluntários passeiam com os animais, que ficam o dia todo no galpão Foto: Bruno Ribeiro/Estadão
Bichos estão em uma área de 1.700 m²
Segundo o veterinário responsável pelos animais de grande porte, cavalos e vacas que chegaram ali, na maior parte dos casos, apresentava quadro de des... Foto: Bruno Ribeiro/EstadãoMais
"O descontentamento geral vem se aumentando devido à má gestão dessa crise no abastecimento de água, que já gerou algumas situações violentas e pode levar a mais agitação ainda", alertou o relator da ONU.
Para ele, o atendimento à população é uma obrigação do Estado. "Relembro ao governo brasileiro que a lei internacional dos direitos humanos estabelece que o Estado tem a obrigação de intervir em situações como esta, proporcionando acesso à água segura e suficiente, bem como a alternativas para o esgotamento sanitário", completou Heller.