Os apertos do euro

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Por Gilles Lapouge
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A Grécia se resfria e a Europa inteira fica com tosse. E a moeda única, o euro, tem calafrios. No início da semana, o medo já se instalava, mas depois, alívio: a Grécia conseguiu levantar alguns bilhões de euros nos mercados financeiros, embora à taxa exorbitante de 6%, e cumprir com suas obrigações no prazo. Mas como o "buraco" grego não tem fundo, Atenas continua desesperada. Como resultado, o euro despenca. Seu valor em dólar caiu para US$ 1,40, o seu mais baixo patamar depois de seis meses. O que a Grécia pode fazer? Não muita coisa. Como ela faz parte da zona do euro, não pode fazer o que é habitual com moedas que não valem muito, ou seja, desvalorizar. Portanto, o que lhe resta é apelar ao estrangeiro. Na sexta-feira, falava-se que Atenas seria salva pela China. Mas os chineses estão impassíveis, nem um pouco dispostos a adquirir empréstimos podres. E o FMI - Fundo Monetário Internacional? Até agora, não reagiu. Então, por que a Grécia não apela a outros países da zona do euro, como a Alemanha ou a França? Essa solução foi considerada, mas Paris e Berlim já desmentiram. Na verdade, os desmentidos de Paris e Berlim em geral são mentiras: se a Grécia naufragar, os alemães e franceses serão obrigados a salvar esse "elo fraco", que é a Grécia, sem o que o euro afundará. Na sexta-feira, a frustração tomava conta não só na Grécia, mas das altas esferas da zona do euro. Em compensação, há capitais com o "sorriso largo", como é o caso de Londres. A Inglaterra, embora faça parte da União Europeia, jamais aderiu à zona do euro. Conservou sua boa e velha libra esterlina e não aceitou o euro. Entre os conservadores (que têm chances de voltar ao poder) e os trabalhistas de Gordon Brown, o número de eurocéticos não para de crescer. Tudo o que é ruim para o euro, é bom para o Reino Unido. Os alemães são melhores europeus do que os ingleses. Mas, quando aderiram ao euro, há dez anos, o fizeram resmungando. Estavam aterrorizados com a ideia de uma fusão do seu caro "marco" numa moeda comum, o euro, junto com divisas tão medíocres como o dracma. Os banqueiros alemães falavam com desprezo dos "países do Clube Med" e dos "países catadores de azeitona" (Grécia, Portugal, Espanha, e até a Itália). É claro que a queda do euro pode ter algumas vantagens. A moeda está muito "sobrevalorizada" em relação ao dólar, o que prejudica o comércio do Velho Continente. Os produtos estrangeiros chegam à Europa facilmente, enquanto que os produtos europeus encarecem por causa do valor exagerado do euro. Por isso, alguns economistas chegam até a se alegrar com os apuros da Grécia e o enfraquecimento do euro. Mas esse raciocínio seria correto se a Grécia fosse o único país insolvente. Afinal, ela representa apenas 3% do PIB (Produto Interno Bruto) da zona do euro. Só que o drama não acaba na Grécia. A Espanha corre perigo, e Portugal e a Irlanda também não estão muito fortes. Se a Grécia despencar, pode-se produzir um "efeito dominó", e três ou quatro países da zona do euro mergulharem também. Nessa hipótese, não se pode conceber que os dois países mais sólidos da zona do euro, França e Alemanha, iriam se furtar a despender uma enorme fortuna para salvar o euro, que, no momento, ainda é um dos mais brilhantes sucessos da União Europeia. Gilles Lapouge é correspondente em Paris

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