Os riscos que traz a nova Braskem

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Por Redação
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Quase duas décadas depois de deixar a petroquímica, a Petrobrás retorna ao setor com grande poder, em razão da compra da Quattor pela Braskem, negócio que resultará na formação da oitava maior petroquímica do mundo e que, no Brasil, deterá o monopólio da produção de resinas termoplásticas. Formalmente, a nova Braskem é uma empresa privada - pelo acordo de acionistas concluído na semana passada, o Grupo Odebrecht deterá 50,1% do capital votante -, mas nela a Petrobrás terá enorme poder.Em anúncio nos principais jornais, a Braskem informa que, com o controle da Quattor, terá capacidade de processar 5,5 milhões de toneladas de resinas por ano em 26 unidades industriais e faturamento anual de R$ 26 bilhões, mantendo-se como "uma empresa privada brasileira, de capital aberto, com vocação para o crescimento e capacidade de investir". Esclarece que é "uma empresa comprometida com os melhores princípios de governança corporativa reconhecidos mundialmente, uma empresa comprometida com a transparência, com a autonomia de gestão executiva e com a busca de resultados consistentes e sustentados para os acionistas".Para o público interessado - clientes, investidores, analistas do mercado, entre outros profissionais - este tem sido, na prática, o comportamento do Grupo Odebrecht e de sua controlada Braskem. A entrada da Petrobrás na gestão da empresa, no entanto, pode alterar de maneira significativa esse histórico empresarial."Vamos compartilhar as decisões", garantiu ao Estado o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli. "Deixamos de ser um minoritário para ter um papel mais importante na gestão (da Braskem)."A presença da Petrobrás na nova empresa será muito maior do que a que tinha na antiga Quattor e na Braskem. Em números, a fatia dos dois sócios principais no capital total da Braskem dependerá da participação dos minoritários no aumento de capital, de cerca de R$ 5 bilhões. Se nenhum minoritário aderir, a fatia da Odebrecht se manterá em 38,3% do total, e a da Petrobrás, que teve forte papel financeiro na aquisição da Quattor, subirá de 25,3% para 36%. Se todos os minoritários aderirem, a fatia da Odebrecht diminuirá para 34,5% e a da Petrobrás subirá para 32%.Em qualquer dos casos-limite, a participação da Petrobrás será muito parecida com a da Odebrecht, o que lhe assegurará forte presença no Conselho de Administração e na diretoria executiva da Braskem, assegurando-lhe, como disse Gabrielli, o direito de "compartilhar as decisões". É nesse "compartilhamento" que está o risco de a nova empresa ser submetida a métodos de gestão diferentes dos que seu sócio privado vinha praticando.É claro o interesse do governo Lula de participar da gestão da nova empresa. Desde seu início, ele vem apregoando a necessidade de ampliação do Estado em setores que considera estratégicos e que, nos últimos anos, tiveram sua gestão transferida para o setor privado. O fortalecimento da presença da Petrobrás na petroquímica é o passo mais recente da política de reestatização, parcial ou integral, implícita ou explícita, desses setores, entre os quais estão o de telecomunicações, de mineração, o elétrico e o de petróleo.Em alguns casos, o governo tentou interferir na gestão de empresas privatizadas, como a Vale. Em outros, como o de telefonia, forçou fusões ou incorporações. Agora, na petroquímica, aumenta sua presença, por meio da Petrobrás. Em quase todos, oferece apoio financeiro público, por meio de participação acionária de fundos de pensão de empresas estatais ou farto financiamento pelo BNDES.Para o País, a nova configuração da indústria petroquímica brasileira traz o risco da volta de práticas danosas para os contribuintes e que retardaram o crescimento da economia. Para as empresas que utilizam resinas em seus processos industriais, traz a ameaça de aumento de preços. A Braskem alega que seus produtos são de fácil importação, razão pela qual o preço interno será determinado pelo preço externo. Mas, entre seus clientes, muitos são de pequeno e de médio portes que não têm condições de se abastecer no exterior. Além disso, o produto importado é sujeito a uma pesada tarifação, que o encarece.

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