SÃO PAULO - Um universitário foi morto após ser atingido por quatro tiros dados pelo pai, que em seguida se suicidou, em Goiânia, na terça-feira, 15. O estudante de Matemática da Universidade Federal de Goiás (UFG), Guilherme Silva Neto, de 20 anos, queria acompanhar uma reintegração de posse que seria cumprida na UFG, tomada por estudantes, mas foi proibido pelo pai, o engenheiro Alexandre José da Silva Neto, de 60 anos.
O engenheiro discordava do envolvimento do filho em movimentos sociais. A mãe do jovem, Rosália de Moura Rosa Silva, fez carreira na Delegacia da Mulher. Conforme relatos dados por ela e por outras testemunhas à Polícia Civil, o autor do crime “não concordava com o comportamento do filho, que se vestia de forma alternativa, com coturnos, calça jeans com as barras para dentro, jaquetas jeans, colares, cabelo e barba grandes”. Alexandre não aceitava “o estilo revolucionário do qual (o filho) era integrante, participando de movimentos estudantis e de manifestações contrárias às medidas governamentais, como as invasões de colégios e prédios públicos”.
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O delegado Hellynton Carvalho, que estava de plantão e atendeu o caso, disse que a tragédia foi causada pela intolerância extrema com a divergência de ideias. Pai e filho viveriam uma relação conflituosa havia quatro anos. “Temos material mostrando que o estudante contestava o governo, defendia o voto nulo e não só participava, como incentivava, as invasões. O pai, até em razão da idade, não admitia os arroubos do filho e isso causava conflitos. Há relatos de discussões e ameaças que serão apuradas no decorrer do inquérito.”
Premeditação. Segundo o delegado, embora não haja outra linha de investigação, o inquérito vai seguir o curso formal, com perícias, depoimentos de familiares e testemunhas. “Vamos investigar as circunstâncias, descobrir a origem da arma de fogo e se houve premeditação ou algo que possa ter influenciado para o resultado.” Conforme Carvalho, a mulher do engenheiro informou que o marido estava com depressão, mas não vinha se tratando. “Esse fato pode ter contribuído para o desfecho. Em quatro anos trabalhando com homicídios, não tinha visto um caso assim.”
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As 25 cidades mais violentas do Brasil
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As 25 cidades mais violentas do Brasil
O 'Mapa da Violência 2016 - Homicídios por Armas de Fogo no Brasil', elaborado pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), aponta qu... Foto: DivulgaçãoMais
25 - Macaíba (RN)
Segundo o 'Mapa da Violência', Macaíba, no Rio Grande do Norte, é a 25ª cidade com a maior quantidade de homicídios por arma de fogo por número de hab... Foto: DivulgaçãoMais
24 - Santa Cruz Cabrália (BA)
A cidade de Santa Cruz Cabrália, na Bahia, é a 24ª mais violenta do País e apresenta taxa de 75,1 assassinatos com arma de fogo por habitante Foto: Divulgação
23 - Fortaleza (CE)
De acordo com o estudo da Flacso, Fortaleza é a 23ª cidade mais violenta do Brasil, com índice de 75,3 mortes por arma de fogo por habitante; entre as... Foto: EstadãoMais
22 - Jaguaribara (CE)
Outra cidade cearense na lista das mais violentas do Brasil é Jaguaribara, com taxa de 76,8 Foto: Divulgação
21 - Maceió (AL)
Segundo o 'Mapa da Violência', a capital de Alagoas, Maceió, é a mais violenta do País, com índice de 77,2 homicídios com armas de fogo por habitante ... Foto: DivulgaçãoMais
20 - Horizonte (CE)
Com taxa de 77,9, Horizonte, no Ceará, é o 20º cidade mais violenta do Brasil Foto: Divulgação
19 - Tabuleiro do Norte (CE)
Em 19º no ranking da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, com taxa de 78,1, está Tabuleiro do Norte, também no Ceará Foto: Divulgação
18 - Arapiraca (AL)
Arapiraca, em Alagoas, é o 18º município mais violento do País, com 79,7 assassinatos com arma de fogo por habitante Foto: Divulgação
17 - Itaitinga (CE)
A 17ª cidade mais violenta do Brasil é Itaitinga, no Ceará, com índice de 79,9 Foto: Google Street View/Reprodução
16 - Santa Rita (PB)
De acordo com o 'Mapa da Violência', Santa Rita, na Paraíba, é a 16ª cidade com a maior taxa de homicídios com arma de fogo por habitante: 80 Foto: Divulgação
15 - Rio Largo (AL)
Rio Largo, em Alagoas, é o 15º município mais violento do Brasil, com taxa de 80,5 Foto: Divulgação
14 - Porto Seguro (BA)
Na 14ª colocação entre as cidades com maior taxa de homicídios com arma de fogo por habitante está Porto Seguro, na Bahia, com 81 Foto: Rita Barreto/Divulgação
13 - Itabuna (BA)
Também na Bahia está Itabuna, a 13ª cidade mais violenta do País, com índice de 81,2 Foto: Divulgação
12 - Quixeré (CE)
No 12º posto do estudo elaborado pela Flacso está Quixeré, no Ceará, com 85,1 homicídios com arma de fogo por habitante Foto: Divulgação
11 - Marechal Deodoro (AL)
Com taxa de 85,2, Marechal Deodoro, em Alagoas, é o 11º município mais violento do País Foto: Divulgação
10 - Lauro de Freitas (BA)
Lauro de Freitas, na Bahia, é a 10ª cidade com maior número de assassinatos com arma de fogo por habitante: 85,9 Foto: Divulgação
9 - Pojuca (BA)
Outro município baiano entre os mais violentos no 'Mapa da Violência' é Pojuca, com taxa de 87,3, na nova posição Foto: Informações Policiais de Pojuca/Facebook/Reprodução
8 - Simões Filho (BA)
Também na Bahia, Simões Filho é considerada pela Flacso a oitava cidade mais violenta do País, com taxa de 91,4 Foto: Divulgação
7 - Ananindeua (PA)
Entre as 25 cidades mais violentas do Brasil, a única que não se localiza no Nordeste é Ananindeua, no Pará, que aparece com índice de 91,6 na sétima ... Foto: DivulgaçãoMais
6 - Pilar (AL)
Pilar, em Alagoas, é o sexto município com maior taxa de assassinatos com arma de fogo por habitante: 92,5 Foto: Google Street View/Reprodução
5 - Eusébio (CE)
Na quinta colocação entre os municípios mais violentos do País está Eusébio, no Ceará, com taxa de 93,4 Foto: Pedro Queiróz Ribeiro/Wikimedia Commons
4 - Conde (PB)
A quarta cidade mais violenta do Brasil é Conde, na Paraíba; sua taxa é de 94,4 Foto: João Francisco/Secom/Governo da Paraíba
3 - Satuba (AL)
Segundo o 'Mapa da Violência', Satuba é o terceiro município com maior índice de assassinato com arma de fogo por habitante: 95,5 Foto: Divulgação
2 - Murici (AL)
De acordo com a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, Murici, em Alagoas, é a segunda cidade mais violenta do País, com taxa de 100,7 homicí... Foto: DivulgaçãoMais
1 - Mata de São João (BA)
Segundo o 'Mapa da Violência', a cidade mais violenta do País é Mata de São João, na Bahia, com 102,9 assassinatos com arma de fogo por habitante. Loc... Foto: Marco Antonio de Carvalho/EstadãoMais
No dia da tragédia, o estudante pretendia acompanhar a desocupação da UFG e o pai impediu. Depois de uma discussão acirrada em casa, Guilherme teria assentido em não ir à desocupação. Quando o pai saiu, o estudante avisou a mãe que ia apenas ver a movimentação e saiu a pé, levando uma mochila. O delegado espera ouvir os depoimentos para confirmar se Alexandre já saiu armado de casa, o que confirmaria a hipótese de premeditação. Segundo ele, o pai soube que o filho tinha saído e foi atrás, de carro, alcançando o estudante na Praça do Avião, onde disparou o primeiro tiro.
Guilherme ainda correu e tentou voltar para casa, na esquina da Avenida República do Líbano com a Rua 25-A, mas o pai o alcançou e fez novos disparos. Em seguida, ele se debruçou sobre o corpo do filho caído, recarregou a arma – uma pistola 6.35 – e atirou contra a própria cabeça. A mãe ouviu os tiros, saiu de casa e encontrou os corpos.
Acirramento. Em nota oficial, a reitoria da Universidade Federal de Goiás (UFG) lamentou a morte do estudante e afirmou que as invasões de prédios escolares durante as manifestações estudantis causam o acirramento dos conflitos. O jovem estudava no câmpus de Goiânia, um dos seis que estão tomados no Estado. “As ocupações, que já se estendem por mais de três semanas, têm provocado o acirramento de posições antagônicas no seio da própria comunidade universitária e gerado tensões e situações de conflito preocupantes, tanto em Goiânia quanto na Regional Jataí, colocando em risco a integridade física das pessoas”, diz a nota.
Já a União Nacional dos Estudantes (UNE) disse que “embora o caso revele uma relação particular entre pai e filho, a UNE enxerga com preocupação o fato de que a morte de Guilherme tenha envolvido uma discussão sobre as suas preferências políticas e a intolerância que isso causou no ambiente familiar”. O Diretório Acadêmico dos Estudantes de Matemática da UFG optou por “oferecer solidariedade à família do estudante”