País tem pelo menos 194 assassinatos de políticos ou ativistas sociais em 5 anos
Homicídio de vereadora Marielle Franco, com suspeita de execução, traz à tona debate sobre ameaças contra defensores de direitos humanos; só neste ano, 12 lideranças foram mortas no Brasil – o dobro de casos no mesmo período de 2017
BRASÍLIA - O assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do seu motorista Anderson Gomes, na noite de quarta, no Rio, trouxe à tona o aumento dos homicídios de políticos e ativistas sociais no Brasil. Até agora, neste ano, pelo menos 12 lideranças foram mortas em situação de crime de mando no País – o dobro dos casos no mesmo período em 2017. O número de ativistas executados nos últimos cinco anos já chega a 194, sendo 20 apenas no Rio, segundo levantamento feito pelo Estado.
A principal linha de investigação da polícia é de que Marielle foi executada. A direção dos tiros mostra que os assassinos sabiam exatamente onde ela estava sentada no carro. Os bandidos fugiram sem levar nada.
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Atuante na defesa de mulheres, negros e homossexuais, ela também fez recentes denúncias contra a violência policial. A última delas, no dia 10, foi contra o 41.º Batalhão da Polícia Militar (Irajá), do Rio. Segundo informação que ela havia recebido de moradores da favela do Acari, na zona norte, PMs haviam matado dois jovens na comunidade. A corporação nega.
Ativistas que atuam contra excessos de tropas legais e milícias na cidade ou no campo sempre estiveram nas estatísticas. A novidade é que eles passaram a predominar, nesta década, na lista de mortos ou marcados para morrer. “Isso mostra a falência do Estado, da institucionalidade brasileira, a partir do momento em que pessoas estão sendo mortas por manifestar opiniões ou denunciar mazelas em defesa de setores mais vulneráveis, como a corrupção, as irregularidades em administrações ou a violência policial”, diz o advogado Ariel de Castro Alves, do Conselho Estadual de Direitos Humanos de São Paulo.
Manifestantes vãos às ruas do País após morte de Marielle e Anderson
1 / 24Manifestantes vãos às ruas do País após morte de Marielle e Anderson
Ato em Brasília
Servidores e deputados federais fizeram um ato na Câmara, em Brasília, em homenagem à vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e ao motorista Anderson Gome... Foto: Gilmar Félix/Câmara dos DeputadosMais
Ato no Rio
Manifestantes fazem ato em homenagem à vereadora Marielle Franco (PSOL) em frente à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), na reg... Foto: Wilton Júnior/EstadãoMais
Ato no Rio
Manifestantes começam a chegar à Câmara Municipal, no centro do Rio, onde foi velado o corpo da vereadora Marielle Franco Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO
Ato no Rio
'Não à intervenção militar', pedem manifestantes reunidos no centro do Rio nesta quinta-feira, 15 Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO
Ato no Rio
Manifestação em frente à Câmara Municipal do Rio, nesta quinta-feira, 15 Foto: REUTERS/Ricardo Moraes
Ato no Rio
Multidão se reúne em frente à Câmara Municipal do Rio de Janeiro, nesta quinta, 15 Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO
Ato no Rio
Clima na manifestação em frente à Câmara Municipal do Rio é de indignação e muita tristeza pela morte da vereadora Marielle Franco Foto: AP Photo/Leo Correa
Ato no Rio
Multidão se reúne no centro do Rio para assitir ao velório da vereadora Marielle Franco Foto: EFE/Antonio Lacerda
Ato no Rio
Cartazes dizem: "Vidas negras importam" no centro do Rio, nesta quinta-feira, 15 Foto: AP Photo/Leo Correa
Ato em São Paulo
Na capital paulista, a concentração do ato ocorreu no vão do Museu de Arte de São Paulo (Masp), na Avenida Paulista, região central da cidade Foto: Daniel Teixeira/Estadão
Ato em São Paulo
Organizadores estimam que entre 3 e 5 mil pessoas participem do protesto na capital paulista Foto: Daniel Teixeira/Estadão
Ato em São Paulo
O ato na Avenida Paulista assumiu um tom de defesa do feminismo e das minorias Foto: Daniel Teixeira/Estadão
Ato em São Paulo
Manifestantes na Paulista fazem velório simbólico para a vereadora Marielle Franco Foto: Miguel Schincariol/AFP
Ato em São Paulo
Folheto distribuído durante a manifestação na Avenida Paulista, na região central de São Paulo Foto: Luiz Fernando Toledo/Estadão
Ato em Salvador
Com gritos contra a intervenção federal e pela luta dos negros no Brasil, os manifestantes seguiram pelas ruas de Salvador com cartazes e faixas Foto: Cleusa Duarte/Estadão
Ato em Salvador
Em Salvador, cerca de 2 mil pessoas entre estudantes, professores, representantes partidários ligados à esquerda e participantes do Fórum Social Mundi... Foto: Cleusa Duarte/EstadãoMais
Ato no Recife
A mobilização no Recife teve início em frente à Câmara Municipal do Recife, na região central da cidade Foto: Monica Bernardes/Estadão
Ato no Recife
Com faixas e cartazes, os manifestantes no Recife gritaram palavras de ordem e músicas contra a violência Foto: Monica Bernardes/Estadão
Ato em Brasília
Ato na Câmara dos Deputados, em Brasília, nesta quinta-feira, 15 Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Ato em Brasília
Ato na Câmara dos Deputados em Brasília, nesta quinta-feira, 15 Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Ato em Brasília
Ato de servidores e deputados no Congresso Nacional, em Brasília, nesta quinta-feira, 15 Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Ato em Brasília
'Transformar o luto em luta', diz um dos cartazes no ato em Brasília, nesta quinta-feira, 15 Foto: Luis Macedo/Câmara dos Deputados
Ato em Belo Horizonte
Segundo os organizadores, cerca de 5 mil pessoas participaram em Belo Horizonte de protesto contra o assassinato da vereadora e do motorista Foto: Leonardo Augusto/Estadão
Ato em Belo Horizonte
Papéis em homenagem a Marielle são colados por manifestantes na capital mineira Foto: Leonardo Augusto/Estadão
Se confirmada que a morte de Marielle foi execução, ele vê a abertura de um precedente. “Sabe-se que ativistas ou políticos mais vulneráveis são os do interior, em áreas rurais, dominadas pela pistolagem ou por coronéis que mandam na polícia, no Judiciário, no Executivo e no Legislativo”, diz Alves, ativista há mais de 20 anos. “Mas quando uma ativista com cargo na Câmara é morta no centro de uma das cidades mais importantes do País – e isso não faz parte da tradição –, deixa a mensagem de que corremos risco.”
Imprensa estrangeira repercute o assassinato da vereadora Marielle Franco
1 / 9Imprensa estrangeira repercute o assassinato da vereadora Marielle Franco
Imprensa estrangeira repercute o assassinato da vereadora Marielle Franco
Veículos de comunicação internacionais e organizações de defesa dos Direitos Humanos repercutem o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PS... Foto: ReproduçãoMais
Imprensa estrangeira repercute o assassinato da vereadora Marielle Franco
Veículos de comunicação internacionais e organizações de defesa dos Direitos Humanos repercutem o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PS... Foto: ReproduçãoMais
Imprensa estrangeira repercute o assassinato da vereadora Marielle Franco
Veículos de comunicação internacionais e organizações de defesa dos Direitos Humanos repercutem o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PS... Foto: ReproduçãoMais
Imprensa estrangeira repercute o assassinato da vereadora Marielle Franco
Veículos de comunicação internacionais e organizações de defesa dos Direitos Humanos repercutem o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PS... Foto: ReproduçãoMais
Imprensa estrangeira repercute o assassinato da vereadora Marielle Franco
Veículos de comunicação internacionais e organizações de defesa dos Direitos Humanos repercutem o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PS... Foto: ReproduçãoMais
Imprensa estrangeira repercute o assassinato da vereadora Marielle Franco
Veículos de comunicação internacionais e organizações de defesa dos Direitos Humanos repercutem o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PS... Foto: ReproduçãoMais
Imprensa estrangeira repercute o assassinato da vereadora Marielle Franco
Veículos de comunicação internacionais e organizações de defesa dos Direitos Humanos repercutem o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PS... Foto: ReproduçãoMais
Imprensa estrangeira repercute o assassinato da vereadora Marielle Franco
Veículos de comunicação internacionais e organizações de defesa dos Direitos Humanos repercutem o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PS... Foto: ReproduçãoMais
Imprensa estrangeira repercute o assassinato da vereadora Marielle Franco
Veículos de comunicação internacionais e organizações de defesa dos Direitos Humanos repercutem o assassinato da vereadora carioca Marielle Franco (PS... Foto: ReproduçãoMais
Dos 342 beneficiados pelo Programa de Proteção dos Defensores de Direitos Humanos, do governo federal, apenas três atuam no combate à violência da polícia. A maioria está ligada à militância pelo direito à terra (54) seguido de defensores de povos indígenas (43).
Ao Estado, o ministro dos Direitos Humanos, Gustavo do Vale Rocha, disse ter compromisso de combater esses casos. “Quando assumi, a primeira coisa que pedi foi esse levantamento (de mortes). É uma demanda recorrente dos organismos internacionais, não só quanto aos defensores, como também a jornalistas. Este ano consegui que o orçamento do programa (de proteção) aumentasse. Quero buscar mais recursos.” Segundo ele, a verba do programa já aumentou de R$ 4 milhões para R$ 6 milhões este ano. “Esse assassinato (de Marielle) mostra o quão importante é a questão.”
Sem solução
Um dos ativistas ameaçados por policiais que tiveram pedido de proteção negado foi Paulo Sérgio Nascimento, de Barcarena (PA). Ele foi morto no dia 12, após denúncias de crimes ambientais. Lideranças sociais temem que o crime fique sem solução.
“A família de Paulo Sérgio e os companheiros dele estão com muito medo”, diz o padre Paulo Joanil, da Comissão Pastoral da Terra. Integrantes da Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia, entidade em que Nascimento atuava, continuam a sofrer ameaças. O padre tenta levar o caso para a Polícia Federal.
Ele observa que a PF apontou, rapidamente, que a chacina de dez sem-terra em Pau D’Arco (PA), em junho, foi de autoria de policiais. “Só a federalização do crime pode garantir uma linha investigativa técnica.” Investigações são federalizadas quando há delito contra os direitos humanos e incapacidade do Estado para apurar. Nesses casos, a PF apura e a ação tramita na Justiça Federal.
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A desconfiança marca também a apuração do homicídio de Everaldo Batista (Pros), ex-presidente da Câmara de Parintins (AM), em janeiro. A polícia investiga latrocínio (roubo seguido de morte) – o que é criticado pela família, que acredita em crime de mando. Amigo da vítima, o também ex-vereador Carlos Augusto Neves está em Manaus, onde busca apoio para a investigação. “Só aqui conseguimos fazer a coisa andar”, diz. “Ele estava sofrendo ameaças.”
Monitoramento
O Estado monitora assassinatos de agentes políticos há cinco anos. O trabalho envolve acompanhar informações de tribunais, cartórios, entidades de direitos humanos e acervos de Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs).
Desde a Lei da Anistia, em 1979, 1.345 pessoas foram mortas por motivações políticas no País. No período, houve a execução de 38 agentes políticos do Rio, por causa de suas atividades. Na soma, a cidade lidera o ranking de crimes por motivações políticas. / COLABORARAM FELIPE RESK e FELIPE FRAZÃO