PETRÓPOLIS - Quando foi inaugurado, em 12 de fevereiro de 1944, o Hotel-Cassino Quitandinha levou o glamour e o luxo à cidade de Petrópolis, na Região Serrana do Rio. O objetivo de seu idealizador, Joaquim Rolla, era fazer do empreendimento o maior hotel-cassino da América Latina, capaz de atrair personalidades do mundo todo. A ideia inicial durou pouco - os jogos de azar foram proibidos no Brasil em 1946 -, mas a sofisticação e a atratividade turística permanecem até hoje, quase oito décadas depois, quando o Sesc-RJ inaugurou um sofisticado centro cultural.
Rolla era um famoso empreendedor de seu tempo, dono de cassinos no Rio e em Minas. Ao erguer o Quitandinha, obra que levou três anos para ser concluída numa área de fazenda, a ideia era oferecer uma opção de luxo justamente em um período em que se vivia um momento de escassez. O mundo enfrentava a Segunda Guerra Mundial, e a Europa era destruída pelo maior conflito bélico da história.
Com arquitetura europeia e decoração em estilo hollywoodiano, o hotel esbanjava ao mesmo tempo riqueza e excentricidades. A cúpula de um de seus salões conta com 30 metros de altura e 50 de diâmetro - à época, era a segunda maior do mundo. Havia uma piscina térmica e até mesmo uma praia artificial em frente ao prédio, em plena serra. A areia fora levada da Praia de Copacabana.
Não demorou para que seus salões e quartos fossem frequentados por personalidades e políticos e fossem palco de momentos marcantes. Foi no Quitandinha, por exemplo, que o então presidente Getúlio Vargas assinou a declaração de Guerra contra o Eixo - Vargas, aliás, tinha um quarto próprio no hotel.
O local recebeu algumas das pessoas mais famosas do mundo naquela época. Greta Garbo, Lana Turner, Walt Disney e Orson Welles são alguns. A Miss Brasil Martha Rocha ganhou sua coroa lá, em 1954 - o Quitandinha ainda sediou outros concursos do gênero.
Mas o maior sonho de Rolla, de fazer o Quitandinha ficar conhecido como o maior cassino da América Latina, durou pouco. Com a decisão do presidente Eurico Gaspar Dutra de proibir os jogos de azar no Brasil, a casa de jogos foi fechada. Assim, o Quitandinha virou “apenas” um hotel de luxo. Em 1954, seus apartamentos foram vendidos para se transformar em um condomínio. Nove anos depois, o palácio foi inteiramente negociado.
Sesc
Em 2007, o Sesc-RJ adquiriu a parte administrativa do Palácio Quitandinha e transformou o local num importante ponto cultural de Petrópolis. Desde então, visitas guiadas pelos corredores e salões espaçosos eram uma opção de lazer para moradores da cidade e turistas. Exposições e apresentações culturais passaram a ser corriqueiras.
Na sexta-feira, 14, a entidade deu um novo passo e iniciou mais uma etapa da história do Quitandinha. O Sesc-RJ inaugurou oficialmente no local o Centro Cultural Sesc Quitandinha (CCSQ). A partir de agora, o palácio abrigará exposições de longa duração e terá calendário permanente de shows. O local também ganhou um bistrô, um café e uma butique. No próximo ano, será inaugurado um cinema e um mercado gastronômico - no mesmo espaço onde, há mais de sete décadas, funcionava a cozinha do Hotel-Cassino Quitandinha.
“O presente é o resultado da nossa história, e ao longo dos anos passamos a virar às costas um pouco ao valor histórico dessa construção. Temos focado muito nisso, não só em espaços nossos, mas também em atividades empresariais históricas”, diz o presidente do Sesc e do Fecomércio-RJ, Antonio Florencio de Queiroz Junior.
Nos últimos anos, o Sesc-RJ tem investido na recuperação de casarões e espaços históricos, mantendo a essência dos lugares, mas adaptando-os aos novos tempos. Entre os exemplos estão a reabertura da Casa Villarino, no Centro do Rio, e a restauração do casarão onde morou Frederico Figner, pioneiro da indústria fonográfica no Brasil. O local fica no Flamengo, zona sul do Rio, e se transformou também num centro cultural.
“O restaurante Villarino assumimos porque ele havia fechado, e exatamente para resgatar a história. A Bossa Nova foi criada lá, é um ícone do nosso País. O Brasil no mundo inteiro é conhecido pela Bossa Nova, e não poderíamos nunca deixar que o nascedouro fechasse. Esse é um foco muito grande nosso. Queremos convidar as pessoas a valorizarem cada vez mais o que foi construído ao longo dos anos e que transformou a nossa sociedade ao longo de sua história”, comenta Florencio.
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