O papa Francisco elogiou neste domingo, 11, o exemplo, especialmente para os mais jovens, da brasileira Isabel Cristina Mrad Campos, beatificada neste fim de semana, 40 anos após ter sido assassinada, em 1982, por resistir a uma tentativa de estupro. ”Esta jovem foi assassinada em 1982, aos 20 anos, por ódio à fé, por defender sua dignidade de mulher e o valor da castidade”, disse o pontífice depois de rezar o Ângelus dominical da janela do Palácio Apostólico.
”Que o seu exemplo heroico estimule em particular os jovens a darem um generoso testemunho de fé e de adesão ao Evangelho”, acrescentou Francisco, para depois pedir aos fiéis que o ouviam na Praça de São Pedro que aplaudissem a nova beata.
Isabel Cristina foi beatificada no sábado, 10 de dezembro, no Santuário de Nossa Senhora da Piedade, em Barbacena, Minas Gerais, na presença do cardeal Raymundo Damasceno Assis, arcebispo emérito de Aparecida.
A nova beata, cujo martírio foi reconhecido por Francisco em 2020, foi assassinada por um homem que tentou estuprá-la e que, após não conseguir consumar o estupro, a torturou e a esfaqueou brutalmente. Sua morte violenta foi considerada pelos católicos um verdadeiro martírio e os fiéis compararam a jovem vítima à Santa Maria Goretti, que também morreu lutando contra seu agressor.
O túmulo da jovem. localizado na igreja de Nossa Senhora da Piedade em Barbacena, é um local de peregrinação para fiéis que saem de diferentes pontos do Brasil para depositar bilhetes com orações e pedidos de graça.
Cerimônia de beatificação
Em sua homilia, d. Raymundo Damasceno citou uma passagem evangélica da liturgia do dia em que Jesus diz a seus Apóstolos: “Não tenhais medo daqueles que matam o corpo, mas não podem matar a alma”, em referência ao martírio de Isabel. Citando Santo Oscar Romero, bispo e mártir salvadorenho, disse: “O martírio é uma graça de Deus, que eu não mereço. Com o sacrifício da minha vida, espero que meu sangue seja semente de liberdade e sinal de que a esperança se tornará realidade”.
O irmão de Isabel, Paulo Roberto Mrad Campos, e outros familiares estavam presentes à cerimônia que reuniu cerca de 10 mil fiéis no Parque de Exposições de Barbacena. “O martírio de Isabel Cristina nos leva também a pedir a Deus a graça de que as mulheres sejam respeitadas em sua dignidade; que cessem a exploração e os crimes sexuais contra as mulheres; que cesse o feminicídio! Não tenhamos medo de romper as cadeias da violência e da opressão”, afirmou d. Raymundo Damasceno, de acordo com a Arquidiocese de Mariana.
Vida de fé
Isabel Cristina Mrad Campos nasceu em 29 de julho de 1962, em Barbacena. Mudou-se para Juiz de Fora (MG) em 1982, para se preparar em um curso pré-vestibular. Seu desejo era fazer medicina e tornar-se pediatra. Filha de uma família católica vicentina, levava uma vida normal e participava de atividades da igreja.
No dia 1º de setembro de 1982, um homem foi montar um guarda-roupa no apartamento para onde se mudara com seu irmão, Paulo Roberto. O homem tentou violentá-la. Ela levou uma cadeirada na cabeça, foi amarrada, amordaçada e teve suas roupas rasgadas. Isabel resistiu o quanto pôde e foi morta com 15 facadas.
Pela forma violenta como morreu e por sua vida de fé, uma campanha por sua beatificação foi iniciada. A solicitação foi aceita pelo Vaticano e, no dia 26 de janeiro de 2001, em Barbacena, foi instalado o processo, quando Isabel Cristina recebeu do Vaticano o título de Serva de Deus. “Isabel Cristina afirmou: ‘É preciso resistir ao mal, custe o que custar’. E custou a vida dela. Por isso, nós agradecemos a Deus o testemunho de fé desta jovem”, disse o coordenador geral da cerimônia, Monsenhor Danival Milagres Coelho, de acordo com a Arquidiocese de Mariana.
Beatificação no Crato
Em outubro, outra jovem brasileira morta de forma violenta foi beatificada pela Igreja Católica. A cearense Benigna Cardoso da Silva foi beatificada no Crato, no sertão do Ceará, pelo cardeal Leonardo Steiner, arcebispo de Manaus, que representou o papa Francisco. Benigna foi brutalmente assassinada aos 13 anos, em 1941, por um rapaz que a assediava. Ela é venerada por católicos como um mártir da pureza e da castidade.
Ainda com 12 anos de idade, Benigna começou a ser assediada por Raul Alves, quatro anos mais velho que ela. Os dois estudavam no mesmo colégio e o rapaz começou a persegui-la. Benigna recorreu ao então pároco da cidade, o padre Cristiano Coelho, para falar do assédio. Ele a aconselhou a ir estudar na sede do município e lhe presenteou com uma Bíblia que, segundo sua biografia, tornou-se o seu livro de cabeceira.
Em 24 de outubro de 1941, Benigna foi ao poço com seu pote para pegar água e Raul estava à espreita, perseguindo ela. O jovem tentou estuprá-la e, com a resistência de Benigna, a matou.
“Ela rejeitou por ver no ato uma ofensa a Deus e, em consequência, ele a golpeou várias vezes com facão, tirando a sua vida. Desde então, ela é invocada como mártir, heroína da castidade, mártir da pureza”, disse Danilo Sobreira, coordenador de Pastoral da Paróquia Senhora Sant’Ana de Santana do Cariri, cidade natal de Benigna, à agência Vatican News./ Com informações da EFE
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