Para motorista e parentes, libaneses assassinados levavam vida comum

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Por Agencia Estado
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O motorista do casal de libaneses mortos na madrugada de quinta-feira, José Petrolino Santos, não acredita no envolvimento do empresário Mikhael Youssef Nassar no fornecimento de armas para o Exército Libanês do Sul. Santos trabalhava há três anos para Mikhael e sua mulher, Marie Noel Mimassi Nassar. "Depois de seis anos morando no Brasil, você acha que ele não teria sido morto antes, se tivesse envolvimento com armas?", questiona o motorista. Na noite de quinta-feira, Santos tinha levado as duas filhas do casal, de 6 e 4 anos, para uma festa infantil. Era o único motorista que trabalhava para Mikhael, que também não tinha seguranças. "Ele não usava muito meus serviços. Eu trabalhava mais para a Marie, umas 12 horas por dia. Levava-a ao escritório da construtora Nassar, para ela assinar papéis, e à academia." Tratamento igual Santos está abalado com o assassinato dos patrões que, segundo ele, o consideravam integrante da família. "Na casa deles, não tinha essa história de empregado ter um tipo de comida e patrão outro. Eles nos tratavam como iguais". O motorista diz que conversava pouco com Mikhael, que alternava a rotina de trabalho entre o escritório e a casa. "Ele não era de falar muito quando estava trabalhando em casa", disse Santos. Marie Nassar era comunicativa e muito religiosa. De acordo com o secretário da Igreja Maronita Católica, freqüentada pelo casal, o assassinato foi "um desastre" para a família e as duas crianças. "Estamos todos chocados." De cama, dopado com remédios, e "arrasado" com a notícia da morte do casal, um dos tios de Marie, que não se identifica para não se "envolver com política", diz que o empresário não vendia armas, e sim, cigarros. "Ele era um dos maiores distribuidores de cigarros na Rússia e na Romênia." Benfeitor No Líbano, garante, Nassar era construtor, mesma atividade que exercia em São Paulo. "Não sei de onde inventaram isso. Será que Israel, que financia um exército e vende tanques e armamentos para o mundo todo, precisa que alguém lhe venda armas?" Segundo esse tio, comerciante, Nassar era um benfeitor. "Ajudou a construir creches, igrejas e instituições de caridade do Líbano derrubados em bombardeios, ajudava os pobres, sem distinção entre cristãos ou muçulmanos." Essa "falta de motivo" para o crime, de acordo com ele, estaria deixando os parentes "loucos". "A gente não sabe de nada e nem a polícia. Até agora, só há hipóteses." O comerciante admite que o empresário veio para o Brasil por "motivos políticos e briga de partidos". Segundo ele, a única ligação de Nassar com o Exército Libanês do Sul é o parentesco com o general Lah´d. "Essa é a pura verdade." Incalculável Outras fontes, no entanto, confirmam o envolvimento do empresário com o comércio internacional de armas, origem da "incalculável" fortuna. Nassar, dono de uma mansão na Riviera de São Lourenço, no litoral norte paulista, tinha muito medo que o Líbano usasse o acordo de extradição assinado com o Brasil, em 1999, e pedisse que ele fosse entregue às autoridades daquele país. Os corpos de Nassar e Marie serão enterrados no Líbano.

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