Os passageiros do transatlântico Queen Mary 2 desistiram do motim e passearam pelo Rio, onde desembarcaram de manhã, com a promessa de que receberão o dinheiro da passagem de volta. O supernavio, o mais grandioso do gênero do mundo, atracou no porto carioca às 5 horas, vindo dos Estados Unidos. Não parou antes em Saint Kitts e em Barbados, na América Central, nem em Salvador (BA), conforme previsto, por conta de um problema num dos motores. A mudança revoltou muitas pessoas, que chegaram a gritar e xingar o comandante e anunciar que não desceriam nos portos seguintes. A oferta de ressarcimento agradou ao médico americano Edmond Slakter, de 73 anos, que viaja com duas amigas. "Fiquei chateado porque queria muito ter desembarcado nas outras paradas, mas acho que a oferta foi justa", disse. "Agora quero aproveitar e conhecer as belezas daqui". Dezenas de estrangeiros, dos EUA, da Europa e da Austrália, também declararam estar satisfeitos. Outros turistas demonstraram indignação. "Vou processar a Cunard (companhia armadora)", reclamou a espanhola Carmen Galceran, de 46 anos. Ela preferia saltar no Rio e voltar para casa de avião. Mas, como foi informada de que só teria o dinheiro se seguisse até o destino final, em Valparaiso, no Chile, desistiu. "Isso é um mini-seqüestro. O Queen Mary 2 nem é tudo o que falam". A embarcação partiu de Nova York no dia 19 de janeiro, com 2.620 passageiros (sendo 220 brasileiros) e 1.300 tripulantes. Fez uma escala em Fort Lauderdale, na Flórida, para que mais gente embarcasse. Quando deixava o porto da cidade, sofreu uma avaria. Um de seus quatro motores quebrou e a velocidade teve de ser diminuída. Por isso, a Cunard decidiu cancelar as três escalas. Os viajantes, recebidos no Rio com a tradicional combinação mulata e bateria de escola de samba, contaram que só ficaram sabendo do que acontecera dois dias depois. Ficaram irados e ameaçaram não deixar o transatlântico, de modo que os novos passageiros não pudessem embarcar nas escalas seguintes. A tensão aumentou quando o comandante anunciou que a companhia lhes daria somente metade do valor da tarifa paga - que varia entre US$ 2 mil (R$ 4,9 mil) e US$ 17 mil (R$ 41 mil). "As pessoas se uniram e exigiram explicações. Vi gente falando palavrões para o capitão", relatou um tripulante. A presidente da Cunard, Carol Marlow, veio da Inglaterra só para pedir desculpas pelo transtorno. "É a primeira vez que isso acontece. Os passageiros não estão satisfeitos e, por isso, decidimos devolver o que gastaram. É assim que trabalhamos", afirmou Carol. Ela prometeu que os 1.400 passageiros que tinham o Rio como destino ganharão todo o dinheiro de volta. Já os 1.220 que seguirão viagem para Montevidéu, no Uruguai, Buenos Aires, na Argentina, Punta Arenas, Puerto Mond e Valparaíso, no Chile, poderão escolher entre ficar com o dinheiro equivalente à tarifa até o Rio ou a metade deste valor e mais um crédito de 75% do montante, para viagens futuras. Mil e quatrocentos passageiros tinham embarque previsto para o fim da tarde. Depois do passeio pela América do Sul, o navio retorna para os EUA. Nos dias 3 e 4 de abril, no caminho de volta, atraca novamente no porto do Rio.
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