Uma operação do Ministério Público de São Paulo e da Polícia Militar prendeu, nesta terça-feira, 2, dois operadores financeiros suspeitos de lavar R$ 100 milhões por ano para a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Os suspeitos mantinham contas virtuais e faziam operações com criptomoedas, dificultando o rastreio. A quadrilha já enviou para o exterior R$ 1,2 bilhão, segundo o MP. Um dos suspeitos tinha relógios avaliados em R$ 2 milhões.
A segunda fase da Operação Sharks (Tubarões, em inglês) cumpriu 22 mandados de busca e apreensão na capital paulista e na Baixada Santista e outros dois na Bahia. De acordo com o procurador-geral de Justiça Mario Sarrubbo, nas buscas foram apreendidas armas, munições, relógios, celulares, notebooks, pendrives e farta documentação, além de cerca de R$ 100 mil em moeda nacional, dólares, euros e pesos argentinos.
“O interesse das investigações é por contas bancárias, cartões e escriturações de imóveis”, disse Sarrubbo, durante entrevista coletiva que apresentou os resultados da operação.
Segundo o MP, os operadores presos se reportavam diretamente a dois dos principais líderes do PCC, Marcos Roberto de Almeida, o ‘Tuta’, e Odair Mazzi, o ‘Dezinho’. O ‘Dezinho’ está preso desde julho e ‘Tuta’ é considerado foragido.
“Só esses eixos movimentaram em certo período mais de R$ 100 milhões. Estamos atacando o patrimônio deles. Com os mandados cumpridos, verificaremos a questão do sequestro de imóveis e bens de luxo, como joias e relógios”, disse o promotor Lincoln Gakiya, conhecido por sua atuação na repressão ao PCC.
Um dos alvos de mandados de busca cumpridos na operação foi a casa de ‘Dezinho’, uma mansão de 600 m2 em Alphaville, em Barueri, avaliada em R$ 4 milhões. Foragido desde 2020, o líder do PCC foi preso em um condomínio de luxo na Praia dos Carneiros, uma das mais badaladas do litoral de Pernambuco. A mulher dele é dona de uma clínica de estética que, segundo declarou, fatura R$ 100 mil por mês.
Segundo a investigação, os operadores usavam criptomoedas e contas em bancos digitais para dificultar a identificação dos caminhos percorridos pelo dinheiro. Conforme o promotor Fabio Bechara, do Gaeco, a fragilidade dos sistemas de abertura e alteração de empresas foi explorada pela quadrilha, assim como a falta de rigor na fiscalização dos documentos públicos e particulares.
“Isso traz grande facilidade para que essas transações de lavagem de dinheiro aconteçam de forma muito diluída e capilarizada”, disse.
Operação Sharks
Esta fase da operação é um desdobramento da Operação Sharks que, em 2020, mirou o tráfico internacional de cocaína através do Porto de Santos, na Baixada Santista. Na época, a investigação apontou que ‘Dezinho’ atuava no setor financeiro da organização e lavava dinheiro para o PCC através de contas bancárias de laranjas e empresas fantasmas.
Ele foi acusado de ficar responsável pela recepção da maioria das cargas de cocaína que chegavam à capital e à Baixada Santista. Em 2021, o MPSP identificou Dezinho como um dos gerentes do PCC na Bolívia, responsável pelo transporte de ao menos 15 toneladas de cocaína por ano.
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