Uma equipe do 51º Distrito Policial, do Butantã, bairro da oeste de São Paulo, prendeu nesta quinta-feira à tarde o pediatra e terapeuta de adolescentes Eugenio Chipkevitch, sob a acusação de pedofilia. O médico russo, naturalizado brasileiro, foi detido quando chegava em casa, por volta das 14 horas, num prédio de alto padrão no Brooklin, zona sul. Chipkevitch tinha o hábito de gravar as cenas de abuso sexual, cujas imagens foram exibidas por emissoras de televisão. A polícia chegou ao médico por meio de uma denúncia anônima. O delegado-titular do 51º DP, Virgilio Guerreiro Neto, decidiu montar uma campana para deter Chipkevitch. No momento da prisão, o terapeuta havia acabado de descer do carro, um Peugeot, e foi abordado pelo delegado-assistente, Pedro Luiz Porrio, na garagem do edifício, na Rua Michigan. Nas primeiras consultas, o médico permitia que os pais dos pacientes acompanhassem as sessões. Ganhava a confiança das famílias, principalmente ao relatar o currículo profissional. Chipkevitch, de 47 anos, formou-se pela Universidade de São Paulo (USP) em 1978 e vive no Brasil há 32 anos. Integra entidades nacionais e internacionais de medicina voltada para adolescentes e preside o Instituto Paulista de Adolescência (IPA), fundado em 1996. Conquistada a credibilidade, Chipkevitch passava a atender os jovens sozinho, sem a presença dos pais, quando podia praticar os abusos sexuais. Em muitos dos casos, as vítimas eram sedadas e mal tinham conhecimento do que se passava. ?Era um homem acima de qualquer suspeita. Vivia num prédio de alto padrão, e tem clínica em local de alto nível?, comentou Porrio. Simultaneamente à ação da polícia, o Ministério Público Estadual (MPE) pedia a prisão temporária de Chipkevitch, por atentado violento ao pudor qualificado. ?Esse homem é um monstro?, definiu o promotor José Carlos Blat, que teve acesso a uma das fitas. Nesta quarta-feira, o Programa do Ratinho, do SBT, exibiu uma das fitas do médico. Nesta quinta-feira, foi a vez de o Jornal Nacional mostrar cenas semelhantes. A Rede Globo, segundo informou a reportagem, teve acesso a 35 fitas gravadas pelo terapeuta, com mais de 15 horas de imagens. Os vídeos foram encontrados por acaso. Um rapaz que presta serviços de telefonia viu um homem deixar um saco com as fitas em uma caçamba, na Alameda Lorena, na zona sul. Pensando em reaproveitá-las, o técnico levou o material para casa. Quando viu as cenas, procurou o SBT e a Globo. A última emissora enviou um trecho das imagens para o MPE, que requisitou nesta quinta as demais 35 fitas. Produtores do Ratinho descobriram nesta quinta a identidade de Chipkevitch, por meio de uma revista, e passaram as informações a Blat. Segundo o delegado, a polícia começa nesta sexta-feira a fazer diligências na casa e na clínica de Chipkevitch. ?Vamos fazer um levantamento dos clientes para localizar possíveis vítimas?, explicou Porrio. ?Ele atendia cerca de cem pacientes por mês?, disse Blat. O terapeuta pode pegar 10 anos de prisão por crime cometido. O médico passou a noite no 13º DP (Casa Verde), por ter nível superior, e voltará nesta sexta-feira ao 51º DP, para prestar novos esclarecimentos.
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