PF investiga ligação de prefeito com Bin Laden

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Por Agencia Estado
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O brasileiro-libanês Mohamad Kassem Jomaa, prefeito reeleito de Chuí, um pequeno município gaúcho na fronteira com o Uruguai habitado por descendentes árabes, está sendo investigado pela Polícia Federal por suas supostas ligações com a máfia árabe e com o terrorista inimigo número 1 dos Estados Unidos, Osama Bin Laden. De acordo com informações do serviço de inteligência uruguaia relatadas no Inquérito Policial 715/00 da Superintendência Regional da PF no Rio Grande do Sul, o prefeito gaúcho do PFL "seria um representante do terrorista Osama bin Laden, mundialmente procurado, que encaminharia para Mohamad dinheiro para ser lavado na fronteira Brasil/Uruguai". O documento confidencial, obtido pelo jornal Zero Hora, diz ainda que "sempre que Mohamed viaja ao Líbano, mantém contato com Osama bin Laden no Afeganistão", e que o terrorista saudita estaria disposto a ajudar com US$ 2 milhões a construção de uma mesquita no Chuí. "Nunca na minha vida vi esse Bin Laden nem mais gordo, nem mais magro, muito menos agora que ele é acusado desse atentado", afirma Jomaa. Ele admite que viaja com freqüência ao Líbano, onde sua ex-esposa vive com um dos dois filhos do casal, mas nega qualquer envolvimento com os crimes que lhe são imputado pelas autoridades uruguaias. "Desafio que eles provem o mínimo do que estão dizendo. Se um porcento disso for verdade, juro que renuncio", disse o prefeito, que teve todos os seus documentos brasileiros apreendidos pela PF por suspeita de fraude. De acordo com um atestado apresentado por sua mulher, Nabiha Jomaa, à embaixada brasileira em Beirute, o prefeito teria nascido no dia 16 de agosto de 1959 na cidade libanesa de Konaitra (hoje localizada na Síria). Na certidão brasileira de Jomaa consta que ele nasceu em 25 de novembro de 1960 no bairro da Mooca, em São Paulo. "Sou filho de libaneses, mas nasci no Brasil e vivo há 32 anos na fronteira", garante o prefeito, que como outros moradores da região possui cidadania uruguaia também. Jomaa atribui as acusações provenientes do Uruguai à sua intenção de concorrer a intendente do Departamento de Rocha. Oficialmente, a PF reconhece apenas as investigações sobre a suposta falsificação de documentos. O inquérito ainda não foi concluído e deverá ser analisado pela 4ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado, foro privilegiado que julga os crimes de prefeitos. "A gente está tão distante que eu acho muito pouco provável qualquer ligação de Bin Laden com o prefeito, ainda mais tratando-se de uma cidadezinha como o Chuí", afirmou o superintendente regional da PF, delegado Rubem Albino Fockink. O inquérito 715/00, entretanto, possui 14 páginas com informes detalhados das investigações da PF, do Serviço de Inteligência do Exército, da Interpol, do DNII (órgão de inteligência do Uruguai) e da CIA. De acordo com as investigações, Jomaa é suspeito de estar envolvido em um esquema da Máfia Árabe para proteger e ocultar estrangeiros ilegais no Brasil. Essas pessoas pagariam a sua "internação" trabalhando durante um ano sem receber salário, apenas roupa e comida. Segundo o relatório, existiriam 27 homens e 42 mulheres palestinos e jordanianos, ex-presidiários de Israel, que ganharam liberdade condicional e um passaporte israelense com a obrigação de se apresentarem periodicamente nas repartições consulares israelenses. Parte deles estaria vivendo no Brasil, beneficiando-se do esquema de "proteção". O egípcio El Said Hassan Aly Mohamed Mokhles, por exemplo, foi preso em janeiro de 1999 no Uruguai sob a acusação de envolvimento com o terrorismo. Ainda pelas investigações dos uruguaios, haveria ligações da Máfia Árabe com a Máfia Libanesa, que atua em São Paulo, em torno do tráfico de drogas. De acordo com a chefia de Polícia de Rocha, cerca de 200 quilos de cocaína estariam escondidos no Chuí e seriam levados clandestinamente para a Europa, via porto de Montevidéu. "O dinheiro obtido com a venda do produto estaria sendo usado para financiar o terrorismo internacional", afirma o documento confidencial da PF.

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