A Polícia Civil de Goiás investiga a morte de uma estudante de 21 anos depois de ser atendida com crise de ansiedade no Hospital Municipal de Silvânia, a 80 km da capital Goiânia. A família diz que Vitória Cristina Queiroz dos Santos recebeu uma superdosagem de medicamentos, o que teria provocado uma parada cardiorrespiratória e, consequentemente, sua morte, em 9 de julho.
Segundo a farmacêutica Raquel Príncipe dos Santos, mãe de Vitória, as duas chegaram ao hospital por volta das 17h do dia 3 de julho. A filha estava com crise ansiedade, a mais grave desde que a doença manifestara, há cerca de dois anos. Ela estava muito agitada e foi necessário o esforço de três pessoas para segurá-la.
Ainda de acordo com Raquel, assim que chegou, Vitória foi medicada com Haldol, antipsicótico para crise de agitação, e morfina, indicado para dor. Já mais calma e no quarto, a mãe conta que foram administrados mais dois medicamentos: “Midazolam, um sedativo benzodiazepínico muito utilizado no centro cirúrgico e para entubar paciente, e Fentanila, um opioide 100 vezes mais forte que a morfina, com efeito analgésico e sedativo, usado em processo de entubação”.
Raquel conta que dez minutos após a ultima medicação, Vitória teve uma parada cardiorrespiratória e foi reanimada. “O médico disse que ela havia passado o braço pelo pescoço, pressionado a traqueia”, relata a mãe.
Vitória foi entubada e, segundo Raquel, já não demonstrava nenhuma reação depois da reanimação. “Perguntei ao médico se ela tinha morrido. Ele disse que não, que estava estável”, conta a mãe. Mas, um outro médico do hospital avaliou Vitória e adiantou que ela tinha um dano cerebral grave.
Às 23 horas do mesmo dia, Vitoria foi levada a uma unidade de saúde de Aparecida de Goiânia, na região metropolitana da capital, e, segundo Raquel, o médico que a recebeu afirmou que ela havia chegado em estado gravíssimo e com dano cerebral grave. “Ele me disse: ‘o colega desovou sua filha aqui, ela já chegou sem vida’”, relata Raquel.
No dia 5, ela foi transferida para outro hospital e, no dia 9 de julho, foi declarada a sua morte encefálica. A causa da morte deve ser esclarecida com exames complementares, afirma o laudo.
Os pais de Vitória foram ao hospital em busca do prontuário da filha e foram informados que o documento havia “sumido”. O médico, de acordo com Raquel, teria preenchido outro prontuário para lhes entregar. Mas neste, afirma a mãe, além de não constar os medicamentos administrados no dia do atendimento da filha, relatava que Vitória teria tentado se suicidar, ingerindo 60 comprimidos de Clonazepam, remédio para ansiedade, e 60 comprimidos de carbonato de lítio, utilizado no tratamento de transtorno bipolar.
A mãe nega. Segundo ela, se Vitória tivesse ingerido aquela quantidade de medicamento, não estaria agitada ao chegar ao hospital.
Raquel é farmacêutica no hospital em que a filha foi atendida, na cidade de Silvânia, e teve acesso às receitas dos medicamentos administrados na filha. Ela afirma que houve erro médico. “O protocolo adotado para crise de ansiedade não foi o recomendado”, diz.
No último dia 9, a polícia cumpriu mandado de busca e apreensão no hospital. Segundo o delegado à frente do caso, Leonardo Sanches, em busca de indícios de que os documentos que o hospital encaminhou à polícia “não correspondiam com a verdade dos fatos”.
A pedido do delgado, a Justiça afastou os três envolvidos na suposta manipulação dos documentos: a secretária de Saúde do município, Laydiane Gonçalves Ribeiro, o médico e diretor clínico do hospital, Murilo Dell Eugênio, e a coordenadora da enfermagem, Eliane Aparecida dos Santos.
O advogado da família da estudante, Jales Gregório, afirma que além do erro médico, os envolvidos agiram para dificultar a investigação, ocultando e alterando informações sobre o atendimento de Vitória, e coagindo testemunhas.
Em nota, a prefeitura de Silvânia diz que “segue acompanhando e colaborando com as investigações e com as solicitações das autoridades policiais, buscando os esclarecimentos dos questionamentos levantados”. Foi aberto um processo interno para apuração do caso.
O Estadão não localizou as defesas de Laydiane, Murilo e Eliane.
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