PORTO ALEGRE - A equipe de investigação do assassinato de Bernardo Uglione Boldrini, de 11 anos, já começou a ouvir os policiais que prenderam o pai do garoto, o médico Leandro Boldrini, de 38 anos, logo depois da descoberta do corpo, no dia 14 de abril. O primeiro dos três depoimentos foi prestado nesta quarta-feira, 23, e o último está agendado para sexta-feira, 25. O conteúdo não foi revelado, mas servirá para esclarecer se a versão correta é a da própria polícia, que afirma que Boldrini recebeu a notícia da morte do filho com frieza, ou a do advogado Jáder Marques, que sustenta que seu cliente "desabou" e chegou a avançar contra sua mulher, Graciele Ugulini, 32 anos, madrasta do menino, ao saber do desfecho do caso.
A delegada de Três Passos, Caroline Bamberg Machado, disse que o advogado, em petição, apontou três policiais como testemunhas do momento da prisão, solicitando que eles fossem ouvidos. Segundo Caroline, a solicitação será atendida. Ela evitou dar detalhes do que os policiais disseram, mas fez sua própria narrativa. "Não vou entrar em discussão com o que o advogado falou e não falou", esquivou-se, na entrevista coletiva mais recente que deu, no final da tarde de quarta-feira. "Eu dei ordem de prisão para ele (Boldrini) e para ela (Graciele) e ambos estavam extremamente frios", reiterou.
O corpo de Bernardo foi encontrado em 14 de abril, em Frederico Westphalen, dez dias depois de o garoto desaparecer da casa da família, em Três Passos. Naquela mesma noite, o casal e também a assistente social Edelvânia Wirganovicz, de 40 anos, foram presos temporariamente, pelo prazo de 30 dias, porque a Justiça entendeu que a medida poderia preservar eventuais provas e acalmaria o clamor público. A polícia vem afirmando desde então que os três estão envolvidos no crime, mas falta descobrir qual foi a conduta individual de cada um.
O advogado de Boldrini nega que ele tenha participado. O representante de Graciele diz que ela ainda não se manifestou. O defensor de Edelvânia admite que ela ajudou a ocultar o cadáver, mas não teria presenciado nem se envolvido com o "evento morte".
Peritos. Na busca de provas complementares aos depoimentos e imagens de câmeras de segurança, três peritos de Porto Alegre estiveram em Três Passos, no centro e no interior de Frederico Westphalen, a 80 quilômetros, nesta quinta-feira. A equipe seguiu o roteiro que a madrasta teria feito no dia 4 de abril, data tida como a do desaparecimento do garoto.
Além de marcar posições de locais como a casa de Boldrini, a casa de Edelvânia e o buraco no qual o corpo do garoto foi escondido, para estudos de distância e tempo de percurso, os técnicos colheram amostras de substâncias que possam ser comparadas com as que foram encontradas nos automóveis que teriam sido usados no dia do crime e com o cadáver. Até o início da noite, a equipe não havia comentado o trabalho do dia.
A delegada Caroline Bamberg Machado admitiu que a espera pelo resultado das perícias pode levá-la a pedir prazo superior aos 30 dias iniciais para conclusão do inquérito. "Há perícias que são mesmo demoradas", reconheceu. "Se o resultado vier antes dos 30 dias é lucro", previu.
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