Os novos números do Censo divulgados nesta sexta-feira, 27, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revelam que o Brasil está cada vez mais feminino. Em 2022, 51,5% da população brasileira (104.548.325) eram mulheres, ante 48,5% (98.532.431) de homens – cerca de 6 milhões de mulheres a mais. Segundo os demógrafos, as chamadas causas externas, como acidentes graves e violência urbana, que vitimam muito mais homens do que mulheres, explicam essa diferença.
A razão de sexo, o número de homens para cada cem mulheres, passou de 96, em 2010, para 94,2 em 2022. O Sudeste tem a menor proporção de homens, com uma razão de sexo de 92,9 em 2022. Por outro lado, a maior razão de sexo está na Região Norte, 99,7. Foi o primeiro censo que mostrou um número de mulheres maior que o de homens nesta região.
A razão de sexo por grupos etários mostra a maior proporção de homens desde o nascimento até os 24 anos. A partir do grupo etário que começa aos 25 anos, a população feminina ultrapassa a masculina.
“Nascem mais meninos, mas morrem também mais meninos, principalmente entre os adultos jovens. A gente tem, no Brasil, uma sobremortalidade masculina muito grande, muito maior do que a da população feminina”, afirmou a demógrafa Izabel Guimarães Marri, gerente de população do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). “As causas da morte dessa população jovem adulta masculina estão relacionadas a causas não naturais, que são as causas violentas e os acidente, que acometem muito mais a população masculina dos 20 aos 40 anos de idade do que a feminina”, disse ela.
De forma geral, em todo o mundo, a expectativa de vida das mulheres é sempre maior do que a dos homens. Isso é atribuído ao fato de as mulheres se cuidarem mais, se alimentarem melhor e frequentarem mais os médicos. Na faixa etária acima dos 65 anos é muito comum o número de mulheres ser mais elevado.
“Em todos os países, em condições normais, nascem de 3% a 5% a mais de homens do que de mulheres, isso é universal”, disse o demógrafo e sociólogo José Eustáquio Diniz. “As estatísticas também mostram que, em todos os países, no topo da pirâmide, tem sempre mais mulher do que homem. Mas essa diferença começa a aparecer, em geral, a partir dos 50/60 anos. No Brasil, é muito mais cedo, aos 25 anos”, explicou.
Para Diniz, para além da questão da violência, a cultura machista estimula os homens a correrem muito mais riscos, muitas vezes desnecessários. “Essa cultura do macho alfa estimula as brigas de torcida, as brigas de bar, a direção menos cuidadosa”, avalia o especialista. “Isso leva os homens a se arriscarem mais e a se cuidarem menos.”
Na análise de Diniz, o processo de envelhecimento da população é acompanhado da feminização da população e também do empoderamento das mulheres. No caso do Brasil, ele lembra, o nível educacional das mulheres já é superior ao dos homens. “Um país com mais mulheres e mulheres mais educadas é novidade na história do Brasil em que, até cem anos atrás, as mulheres eram analfabetas e, em sua maioria, não tinham emprego remunerado”, afirmou. “Essa é uma nova realidade.”
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