Porto Alegre se prepara para subida da água e tenta resgatar remanescentes antes de volta das chuvas

Brigadistas buscam convencer últimas pessoas a saírem do centro histórico da capital gaúcha

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Foto do author Paula Ferreira
Atualização:

ENVIADA ESPECIAL A PORTO ALEGRE - Com previsão de chuvas intensas até o início da semana, brigadistas que trabalham no centro histórico de Porto Alegre, uma das regiões mais atingidas pela enchente, e no bairro São João tentam convencer últimas pessoas a deixarem a região antes que o nível da água volte a subir. O Estadão acompanhou uma patrulha das Guardas Municipais de Porto Alegre e de São Paulo na manhã deste sábado, 11, pelas ruas da capital gaúcha.

Guardas municipais de São Paulo e Porto Alegre trabalham em conjunto na capital gaúcha para resgatar remanescentes nos prédios do Centro Histórico antes da elevação do nível das águas. Foto: Wilton Junior/Estadão

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De acordo com o Climatempo, até segunda-feira, 13, deve chover cerca de 300 mm no Estado. A média varia de 140 mm a 180 mm. A concentração dos maiores volumes de chuva na Serra Gaúcha preocupa, já que é onde nascem os rios que desaguam, por exemplo, no Guaíba. Até o momento, o Estado registra 136 mortos em decorrência das inundações.

Neste sábado, sob uma forte chuva, Alex Bittencourt, descia um balde amarrado em uma corda para receber doação de água, entregue por voluntários. O morador está em um prédio no centro histórico junto com outras seis pessoas, que se recusam a deixar o local com a justificativa de que ir para abrigos seria um opção pior do que ficar cercado por água, próximo às margens do Rio Guaíba.

“A previsão é de 20 dias para baixar a água. Vai subir agora de novo, porque vai dar uma chuva na serra. Tem barco para sair”, afirmava o guarda Alessandro Silva, da Guarda Metropolitana de São Paulo, que está no Sul desde o início da semana auxiliando nos salvamentos.

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Guardas municipais patrulham de bote o Centro Histórico de Porto Alegre.RS.  Foto: WILTON JUNIOR/ESTADÃO

Apesar do alerta, o Bittencourt insistiu que as outras pessoas não queriam deixar o local. Segundo ele, ainda há mantimentos como arroz, feijão, e ainda há gás para cozinhar. Os moradores também conseguiram uma bateria para carregar o celular.

“Tem pessoas se arriscando para trazer coisas para vocês. A orientação é todo mundo sair. A gente está entrando aqui todo dia se arriscando. O pessoal tem que sair o quanto antes”, pediu o guarda Pedro Grangeiro.

Apesar da tentativa de convencimento dos brigadistas, o morador resistiu no prédio cercado pelas águas: “Tem muita coisa aqui dentro”, afirmou, justificando ainda que não queria deixar os bens sob risco.

Nas escadas de um banco, dois seguranças espremidos entre a água e o teto também guardavam o local. No trajeto pelo centro, uma embarcação com quatro homens foi interpelada pela guarda. Um dos integrantes do grupo afirmou que eram comerciantes locais e criaram o grupo autointitulado “Segurança Centro” para patrulhar o local.

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Nível da água deve subir em Porto Alegre; somente em 20 dias é que a previsão é que a situação deve melhorar Foto: Wilton Junior/Estadão

A enchente no centro de Porto Alegre, mesmo após a baixa temporária da água, ainda chega a dois metros em alguns pontos. O vazio destoa das ruas movimentadas do centro em dias normais. Palácios históricos, como o Mercado Público, estão cercados pela água. Na rodoviária e na estação de trem, a paisagem, com vagões em meio às águas, mostra como o cotidiano dos gaúchos foi totalmente interrompido pelas cheias. O centro da capital expõe a fragilidade das grandes cidades diante da natureza impactada pelas mudanças climáticas.

Nesse cenário, um idoso e uma mulher acenavam da janela. Diante da aproximação dos brigadistas, no entanto, recusaram o resgate e diziam estar seguros no prédio, sobretudo no próprio apartamento. “Há vários comandantes do Exército aqui. Não se preocupe”, brincou o idoso, que não quis dar o nome e saiu da varanda quando a reportagem se identificou.

Algumas pessoas resistem a sair de casa e grupos de comerciantes circulam de barco para fazer segurança improvisada no centro de Porto Alegre  Foto: Wilton Junior/Estadão

Na mesma rua, sob uma chuva ininterrupta e relevando o risco da inundação, uma mulher em um bote, acompanhada por dois homens, tentava entrar em um prédio abaixando a cabeça para passar por um espaço de menos de meio metro entre as águas e o teto. “Sou proprietária, vim ver como está o apartamento”, disse.

Apesar da incredulidade diante das pessoas que recusavam o resgate, a equipe de socorro mantinha a resiliência:

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“Muita gente já foi resgatada, mas muita gente deixa para última hora. A ideia é sempre ir passando até as pessoas entenderem que a água não vai baixar, com essa chuva, vai aumentar. Às vezes, passando em outro horário, tenham a decisão de sair”, disse o guarda Alessandro Silva.

No bairro São João, durante o período em que a reportagem esteve no local, voluntários iam e voltavam de barcos e jet skis, na maioria das vezes, sem conseguir trazer novas pessoas. Uma das orientações entre os voluntários era parar de fornecer água e mantimentos para as pessoas que resistiam a sair de casa, para que a escassez de insumos force a saída dos lares em risco.

Voluntários percorrem horas até Porto Alegre

Na tarde desta sexta-feira, inúmeros voluntários atuavam no local. O grande número de pessoas e a dificuldade de coordenação dos trabalhos geravam certa desorganização nas ações. A tragédia de grandes proporções tem atraído pessoas de todos os lugares do país para oferecer ajuda nas buscas. No bairro São João, bombeiros e profissionais de saúde do Paraná atuavam para auxiliar na ajuda humanitária. Foi criado um grupo no WhatsApp com cerca de 200 pessoas de Estados como Santa Catarina e Maranhão com interesse de vir para o Rio Grande do Sul.

“A gente demorou mais de 12 horas para chegar aqui. O Brasil inteiro, o mundo todo se comoveu com a situação daqui”, contou a técnica de enfermagem Mackelem Valentim.

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O bombeiro Felipe Stocco também integra a caravana de voluntários que veio do Paraná para Porto Alegre. Ele está utilizando as férias do trabalho para atuar nas enchentes.

“Quando soube o que aconteceu aqui a gente olhou e pensou que tinha que vir. Infelizmente o pessoal por uma questão de estarem apegadas aos bens e estarem com medo de furtos, acabam preferindo ficar. Não tem como obrigar alguém a sair da sua residência”, relatou.

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