‘Prazo de restabelecimento da energia melhorou, mas não é satisfatório’, diz presidente da Enel

Líder da empresa no Brasil, Antonio Scala admite que empresa ‘não estava preparada’ para lidar com evento climático extremo de 2023, apontado como inesperado, mas lista ações de melhoria na resiliência da rede

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Por Juliana Domingos de Lima e Luciana Collet (Broadcast)
Atualização:
Foto: ALEX SILVA
Entrevista comAntonio Scalapresidente da Enel

Depois de dois apagões que atingiram milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo em 2023 e 2024, a Enel, concessionária italiana responsável pelo fornecimento de energia, diz que vem adotando medidas para melhorar a qualidade do serviço e também obter a renovação do contrato com o governo federal, que se encerra em 2028. Entre as previsões, estão o aumento de 60% nos investimentos - cerca de R$ 25 bilhões nos próximos três anos.

No entanto, parte das melhorias massivas de infraestrutura, como o enterramento de fios em bairros de alta densidade populacional, terá de esperar um novo contrato, segundo o presidente da empresa no Brasil, Antonio Scala.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast Energia, Scala detalhou as medidas implementadas neste ano para responder às interrupções no fornecimento de energia e o que vê como avanços na qualidade da rede e do atendimento aos clientes, incluindo a possibilidade de rastrear o processo do reparo para o restabelecimento da rede.

Ainda assim, afirma que diante de eventos climáticos extremos sempre haverá interrupções de energia, admitindo o despreparo da empresa para lidar com a tempestade que causou o primeiro grande apagão recente, em novembro de 2023.

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De 2023 para 2024, o prazo de restabelecimento foi reduzido, mas segue alto. O apagão deste ano também atingiu mais pessoas (3,1 milhões), o que o executivo atribui à alta densidade de clientes por quilômetro de rede da Grande São Paulo - 20 vezes superior à média do País, segundo a Enel.

Leia a entrevista completa abaixo:

O senhor assumiu a presidência da Enel em novembro de 2023, após um apagão que deixou milhões de pessoas no escuro por vários dias na capital paulista. Em outubro deste ano, a falha de operação se repetiu, atingindo inclusive mais pessoas. Por que a empresa não conseguiu evitar esse novo apagão? Na avaliação de vocês, qual foi o problema?

Tanto o evento de novembro do ano passado, quanto o evento de outubro de 2024 foram eventos atípicos e extremos pela própria magnitude. O evento de 2024 foi ainda mais forte e abrangente do que aconteceu em 2023: o vento chegou a mais de 107 km/h nas estações que temos em São Paulo. Há estudos meteorológicos que estimam que, nas áreas mais atingidas, o vento chegou a mais de 120 km por hora. Quando acontece um evento desta gravidade, sempre se vão gerar falhas relevantes na rede e um transtorno para toda a população.

É importante comentar que este evento de outubro de 2024 não somente foi mais abrangente - foram 3 milhões de clientes, comparado com os 2 milhões do ano passado - mas a gravidade das falhas foi mais profunda, atingindo as linhas de alta tensão e subestações. Os postes que precisavam ser reconstruídos por efeito de quedas ou de falhas severas foram mais de 400 este ano comparado a menos de 200 do ano passado. Ou seja, por efeito da força do evento, apesar de ter havido um número maior de podas realizadas, gerou um dano quase 50% mais forte.

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Apesar disso, graças a algumas das ações que já estavam em marcha quando aconteceu este evento, a resposta operacional da empresa foi bastante melhor do ano passado.

O problema foi o fato que o evento aconteceu na sexta-feira à noite, sem ter um prognóstico meteorológico que informava sobre esse risco, um pré-alerta meteorológico de (que seria) um evento dessa gravidade.

São Paulo teve dois grandes apagões, em 2023 e 2024. Foto: Tiago Queiroz/Estadão

Sabemos que, com as mudanças climáticas, eventos dessa magnitude vão ser cada vez mais frequentes na cidade. Vai ter outro apagão em 2025? Os paulistanos vão ter que lidar com isso novamente?

O Brasil e São Paulo, em particular, são áreas que não tinham, na história, eventos com essa gravidade. Isso complica a resolução do problema porque a infraestrutura que existe foi pensada e realizada com um contrato que tinha o objetivo de facilitar a universalização do fornecimento de energia elétrica, em um contexto onde esse tipo de evento climático tão severos não aconteciam. Por isso, é um tema que é muito infra-estrutural.

Então, por um lado, no curto prazo, o que estamos tentando fazer é maximizar a capacidade de prontidão, tanto melhorando a qualidade no dia a dia, quanto nesses casos climáticos severos para ter uma infraestrutura mais resiliente, o que não significa que se acontece algo extremo não vamos ter impacto.

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A Enel foi então pega no contrapé pela falta de histórico de eventos climáticos extremos?

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O evento de 2023, efetivamente, foi inesperado, foi a primeira vez que aconteceu um evento dessa gravidade, em que a empresa não estava preparada. Este ano, apesar de ter um evento com mais abrangência, conseguiu-se recuperar de forma muito mais rápida. Imaginando um evento igual ao ano passado, o prazo provavelmente seria ainda mais curto. Mas este é um caminho que continua.

À meia-noite do mesmo dia, no caso de outubro de 2024, já reconectamos quase um milhão de clientes, contra cerca de 100 mil clientes reconectados no mesmo tempo no ano passado. Em 24 horas depois do evento, reconectamos quase 80% de clientes, 102,4 milhão clientes, comparado com menos de 60% de novembro do ano passado, 1,2 milhão. Conseguimos reconectar o dobro, em comparação com novembro de 2023. Olhando o tempo de recomposição total, os últimos clientes que tiveram as falhas mais complexas, chegamos a finalizar tudo em 5 dias e algumas horas, comparado com 7 dias e algumas horas do ano passado. O prazo de restabelecimento tanto da maioria dos clientes quanto dos mais afetados foi melhor. Mas é um número que claramente não é satisfatório, tanto para a empresa quanto para os clientes e é por isso que, por um lado, seguimos com o plano que já estava definido, mas também aceleramos este plano, do ponto de vista de investimentos e de preparação operacional.

Sabendo que outubro é quando começam as chuvas em São Paulo, não tinha como a companhia estar mais preparada, já com um número de equipes maior?

Para enfrentar esse tema do período chuvoso, algo que acontece na normalidade, desde a metade de outubro deste ano, aumentamos dos 50% as turmas que estão dedicadas diariamente na resolução de falhas. A parte dos eventos climáticos extremos, a cada dia temos falhas em uma rede tão grande, e uma parte das turmas internas e externas estão dedicadas diariamente só a fazer isso. Depois, quando é uma emergência, outras turmas voltam. Tipicamente, o patamar de São Paulo era ter entre 350 e 400 turmas diariamente dedicadas à resolução de falhas. Desde novembro de 2024, incrementamos esse número a 600 turmas. Isso vai dar um impacto imediato na qualidade, porque se reduz, de forma bastante importante, o tempo médio de atendimento. Fechamos novembro de 2024 com um tempo médio de atendimento de pouco mais de 400 (minutos), que se compara com 1.240 minutos de novembro do ano passado e 800 minutos da média de 2023. Várias das ações que começaram desde março deste ano já permitiram reduzir progressivamente esse número.

Esse tempo de resposta diz respeito a quando a falha é detectada?

Esse é o tempo entre a revelação da falha, que pode acontecer porque o cliente liga, ou porque, em função do tipo de falha, nós sabemos que uma área é atingida, até a resolução.

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Uma coisa que as pessoas reclamaram muito é da falta de previsão, de muitas vezes não ter uma resposta em relação a isso. Isso vai mudar?

Implementamos nas últimas semanas e agora estamos enviando aos clientes, quando tem falha, uma espécie de “tracking” do caso, como acontece quando você compra algo, informando ao cliente que a falha foi detectada, foi despachada uma turma para chegar e analisar o que aconteceu, que a turma chegou a um lugar e está resolvendo. É algo que ajuda o cliente a entender qual é o estado de avanço, que era algo que efetivamente faltava, algo não tão fácil, do ponto de vista técnico, de implementar. Demorou alguns meses, mas isso agora foi implementado, na semana passada, ou algumas semanas atrás, algo muito recente, que permite acompanhar por e-mail, em alguns casos por WhatsApp. Estamos no caminho de estender essa informação em todos os canais, no site, de forma que o cliente possa ter a máxima visibilidade e transparência de como o caso dele está sendo acompanhado.

Esse tracking inclui uma estimativa de quantas horas ou dias o fornecimento será restabelecido?

Sim, agora isso se confirma quando o técnico chega e analisa efetivamente a falha, e também (avalia) quanto vai ser o tempo exato de resolução da falha. Estamos também trabalhando para incluir uma estimativa mais assertiva desde o começo. No caso inicial é uma estimativa quase estatística, porque até o técnico chegar e analisar efetivamente quanto precisa o reparo é uma estimativa de máxima. O que vamos implementar também de imediato é uma estimativa de quando o caso vai ser designado ao técnico. Estamos tentando implementar várias ações para dar mais transparência aos clientes da situação da rede em geral e da situação pontual.

Já neste outubro do ano passado, publicamos no site, primeiro de São Paulo, depois também das outras distribuidoras, antes uma lista e agora uma mapa interativo, que mostra a situação da rede em tempo real, atualizada cada X minutos, que mostra por cada município, quantos são os clientes, quantos são os clientes que têm falta de luz, de forma a uma visibilidade cheia.

Também estamos informando no site, por recorrência agora trimestral, como avança o plano de poda, uma das atividades que é bastante relevante, e este caso da comunicação individual aos clientes, para informar sobre a situação dos casos específicos deles. Isto é um outro capítulo onde estamos trabalhando, que em geral é um pouco um capítulo de ter mais transparência, tanto com o cliente particular específico, quanto com a comunidade toda sobre os principais dados da rede concessão.

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Rua Luminárias, na zona oeste de São Paulo, sem energia elétrica após chuva atingir a cidade. Foto: Daniel Teixeira/Estadão - 23/10/2024

O que está sendo feito para evitar novos apagões em São Paulo?

Desde o começo deste ano, em 2024, começamos com um plano bastante abrangente para melhorar a qualidade da rede em vários âmbitos, tanto com ações de curto prazo, mais imediatas, como, por exemplo, a revisão do protocolo de atendimento emergencial, (aumentando) o número de turmas que conseguimos mobilizar, quanto com ações na parte técnica, de atendimento ao cliente, das relações com prefeituras e instituições.

Fizemos também ações de médio prazo, que já conseguem entregar resultados. A mais relevante foi o incremento bastante radical do número de podas que se vão fazer na cidade. Começamos este ano a realizar mais de 600 mil podas, já em novembro se realizaram 600 mil, contra o número do ano passado, que era na ordem de 300 mil.

A primeira revisão do protocolo ocorreu no final de 2023, com parte das ações que se implementaram durante este ano. Também revisamos o plano de investimento de forma bastante radical. No final de 2023, começo de 2024, comunicamos um plano de investimento bastante robusto, com um crescimento forte comparado com o passado, e agora esse plano foi aprimorado ainda mais. O investimento é o que permite solucionar de forma mais estrutural, mas precisa de mais tempo para entregar os resultados.

Quais outras mudanças já foram e estão sendo implementadas?

Um elemento que foi bastante um pilar da mudança do protocolo de atendimento emergencial que definimos no começo de 2024, foi definir uma estrutura de pré-alertas e tentar melhorar a capacidade de fazer um prognóstico meteorológico para pré-mobilizar os recursos em caso de eventos severos.

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Isto não acontecia?

Isto não acontecia. Fizemos uma parceria com o Cemaden, uma parceria de estudo com a Unicamp, fizemos também parcerias com entes externos para tentar melhorar isto, mas efetivamente, tanto no evento 2023 quanto no evento 2024, a capacidade de fazer uma previsão meteorológica desta gravidade não chegou a tempo.

O pré-alerta meteorológico era um elemento bastante fundamental na capacidade da empresa de mobilizar ao máximo os recursos, coisa que se consegue fazer em pouquíssimo tempo durante a semana, mas que no final de semana precisava deste pré-alerta para conseguir a mobilização máxima em até 24 horas. Uma mudança bastante radical, a mais relevante que fizemos depois deste segundo evento de outubro de 2024, é reestruturar a prontidão das turmas, tanto interna quanto dos provedores terceiros, para ter a mobilização máxima em até 24 horas durante o fim de semana.

O que isso significa exatamente?

Isso significa que segundo o protocolo de atendimento que definimos, temos um número de turmas que precisamos ter na rua para atingir eventos desta gravidade. Estas turmas, durante os dias normais, em parte trabalham para fazer resoluções de falha, em parte trabalham para fazer outras atividades e, em fase de emergência, se concentram todos em fazer reparo de falhas. Mas, durante sábado, domingo e feriados, tipicamente este número baixa, porque algumas atividades só se executam durante os dias (de semana). A mudança foi introduzir a ferramenta contratual de sobreaviso, tanto para o pessoal próprio, como para os serviços que temos com contratistas, para assegurar que, em caso de necessidade, apesar de não ter nenhum pré-alerta devido ao prognóstico meteorológico, as pessoas que estão de folga têm que voltar e isso nos permite chegar ao volume target de pessoal para atingir casos emergenciais mesmo se a emergência acontece sem pré-alerta e durante o sábado e domingo.

Qual é esse volume de pessoal para os casos emergenciais?

O número estimado é da ordem de turmas operacionais de cerca de 1.250 turmas no caso de São Paulo, o que significa mais ou menos o dobro em termos de pessoal. Isso é o número que definimos como mobilização máxima dedicada à resolução de falhas em eventos climáticos extremos, como os casos que aconteceram em outubro e novembro do ano passado. As turmas são compostas no mínimo por duas pessoas, em alguns casos por mais pessoas em função do tipo de trabalho que se precisa realizar.

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Como está a relação com entes estaduais e municipais? Existe algum tipo de ruído na comunicação? Qual a estratégia para restabelecer uma relação de confiança e cooperação?

A cooperação em geral com o poder público municipal, estadual e também federal é um elemento chave, porque muitas das coisas que precisam ser feitas podem ser feitas melhor ou só podem ser feitas trabalhando em conjunto.

Devo dizer que do ponto de vista operacional, nossas equipes sempre tiveram uma relação muito produtiva e aberta com o pessoal das prefeituras de São Paulo e de outros Estados, mesmo durante as fases emergenciais. O pessoal da Enel estava no Smart Sampa, o pessoal do Estado estava aqui na empresa, e isso facilitou e ajudou a solução de problemas operacionais no campo durante os eventos, e isso continua de forma recorrente.

Também do ponto de vista institucional estamos tentando nos reaproximar, porque é claro que estes tipo de eventos criam dificuldades nos relacionamentos, mas para nós uma reaproximação é fundamental porque é ela que pode nos ajudar a sermos mais eficazes neste caminho de melhoria.

E tem encontrado abertura para essa reaproximação?

É um caminho em curso.

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Tem um processo ainda para se resolver até o caminho da renovação da concessão, que claramente vocês estão buscando. Vão esperar um novo contrato para realizar os investimentos mais robustos?

Nós estamos já fazendo muito, muitos operadores em uma situação como essa - não ter ainda a certeza da renovação, não ter ainda a certeza das condições dos novos contratos - pararia os investimentos. Nós estamos fazendo exatamente o oposto: neste ano de 2024 e ainda mais em 2025, estamos aumentando de forma substancial os investimentos, já apostando nessa mudança de marco regulatório. Claro que algumas coisas mais estruturais, como tomar um grande bairro e fazer um grande enterramento, não podem ser feitas se não tem uma clareza definida nesse sentido. Mas, várias outras ações de recondutoramento de cabos, de incremento das conexões entre as redes, de digitalização das redes, pode-se fazer também no contexto atual. É o que já fizemos em 24 e vamos fazer ainda mais em 2025.

Para falar de um exemplo de resiliência que não passa pelo enterramento, nós começamos na segunda metade deste ano um piloto de resiliência em três áreas da cidade. Uma dessas áreas, o Parque dos Príncipes, não estava ainda finalizada, mas já tinha uma boa parte dos investimentos realizados quando aconteceu o evento de outubro.

Quais são os tipos de investimentos?

Recondutoramento, que significa trocar os cabos sem isolamento por cabos isolados, que vão ter um contato leve com a vegetação, não geram falhas. Aumento significativo dos elementos de telecontrole e automação das redes, então a capacidade de isolar falhas sem impactar os clientes que estão ao lado. Neste caso, há um custo unitário importante como investimento, não tão abrangente como um enterramento, mas foi muito relevante. Nesse bairro específico, durante o evento de outubro, só aconteceram falhas pontuais, por impacto com vegetação própria do cliente. Então, podem existir soluções menos invasivas que o enterramento, mas que podem igualmente facilitar a resiliência. O que fazemos nas podas do dia a dia é evitar o contato entre galhos e rede elétricas nas situações ordinárias, para limitar o risco de ter uma interferência, e o que compete na parte da distribuição é olhar a saúde da vegetação, de árvores que não estão diretamente em contato. isso significa que podem existir casos de árvores que não tenham uma situação saudável, ou que estejam perfeitamente bem, mas quando ocorrer um evento de vento de 120 quilômetros por hora, cairão igualmente. Então, em um caso como este, quando há uma rede aérea, sempre se gera [falhas].

O piloto no Parque dos Príncipes está concluído?

Esse piloto estava quase todo implementado. Isso é particularmente interessante, não apenas para medir o desempenho em um caso extremo, mas também para medir o desempenho no dia a dia e foi realizado exatamente com esta finalidade, de ter depois uma comparação, tanto em situações extremas, quanto no dia a dia, com a história própria do bairro no passado e o desempenho de outros bairros. Durante os próximos meses, teremos muito mais dados e informações sobre o impacto deste projeto.

Pode-se esperar uma ampliação para outros bairros?

Está já em curso em outros dois, que são Alvarenga (em São Bernardo do Campo) e Alto de Pinheiros, que estão em andamento e serão finalizados nos primeiros meses de 2025.

Não há previsão para uma expansão mais ampla dessas medidas infraestruturais na cidade, uma meta em relação a isso?

Vamos já fazer alguns investimentos desse tipo de forma massiva, mas para um elemento mais transformador, um novo marco contratual é necessário. Isso é algo que tem bastante alinhamento no setor todo. Hoje existem várias questões que limitam.

Quando vamos fazer um investimento desse tipo, os clientes daquele bairro se beneficiam desse investimento e todo o mundo paga por esse investimento. Mas sendo uma coisa limitada, o impacto é muito residual. Para ter algo mais massivo, o que pode de verdade fazer a diferença é ter um marco contratual mais moderno.

Apesar disso, o plano de investimento que temos nas condições atuais vai investir em automação, digitalização de medidores, aumento da malha, recondicionamento das redes. São investimentos que ajudam a ter menos falhas e tempo de retomada mais curto e que vamos fazer (ainda dentro desse contrato). Mas o enterramento em um grande bairro, com alta densidade, precisa de um marco contratual diferente.

A Enel anunciou um aumento significativo nos investimentos recentemente. O que mudou?

Entre o fim de 2023 e o início de 2024, já tínhamos divulgado um plano de investimento do Brasil de 2024 a 2026 de R$ 18 bilhões, que representava um aumento substancial em relação aos anos passados. Em São Paulo, por exemplo, um investimento anual da ordem de R$ 2 bilhões, contra uma média de R$ 1,4 bilhão dos seis anos anteriores, que já era superior aos R$ 800 milhões anuais do padrão de investimento na Eletropaulo, pelo controlador anterior. Agora, apresentamos um plano em que vamos aumentar ainda mais tanto o investimento total quanto a cota dedicada às redes. No Brasil, passamos a pouco mais de R$ 25 bilhões, mas, sobretudo, aumentou o porcentual de distribuição, que passou a 95% do total, de R$ 15 bilhões do plano anterior, a cerca de R$ 24 bilhões no período 2025 a 2027. Então, já era um plano de descontinuidade, comparado com os investimentos realizados no passado, foi elevado em mais 60%, tanto em São Paulo, quanto nas outras distribuidoras, é uma mudança bastante estrutural.

É um aumento relevante, estava subdimensionado anteriormente?

Estamos fazendo investimentos que, em uma situação de que não havia eventos climáticos extremos, provavelmente não seriam necessários nessa intensidade. Também estamos considerando ter uma evolução do marco contratual, já que há um debate em andamento e isso, se feito da forma correta, vai mudar o patamar dos investimentos no Brasil todo. O aumento não será apenas em São Paulo, mas também nas áreas da distribuição que temos no Rio de Janeiro e no Ceará, porque apesar de não terem eventos tão catastróficos quanto os que aconteceram em São Paulo, igualmente vivem o tema de mudança climática e exigem um nível de confiabilidade e resiliência diferente.

Qual o destaque do novo plano?

O número inclui uma componente relevante de investimentos específicos para resiliência, porque já olhamos uma janela temporal que inclui anos que podem estar sob um novo marco contratual. O contrato atual foi realizado 30 anos atrás, quando o objetivo era universalizar o serviço, ter custo baixo e uma qualidade de serviço melhor, ano após ano, em situações ordinárias. A lógica do contrato era não gerar necessidade para os clientes de pagar um custo elevado para eventos esporádicos. Agora, a universalização não existe mais, porque foi feita. Mas existe o tema da mudança climática, então o desafio é a resiliência. É necessário um contrato que defina objetivos e metas, uma política pública específica para definir onde investir em resiliência, quem vai pagar esta conta, como vai ser realizada. Há vários detalhes que ainda têm de ser definidos, mas o ponto de precisar desse tipo de investimento está claro. Por isso, o plano contempla uma componente relevante, sobretudo em 2026 e 2027, de investimentos que já imaginam ter um esquema contratual diferente, que vá apontar a investimentos mais transformadores de resiliência na rede.

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