Uma confissão ao Ministério Público Estadual provocou uma reviravolta no caso Priscila Belfort, desaparecida desde janeiro de 2004. A desempregada Elaine Paiva da Silva, de 27 anos, disse que seqüestrou e assassinou Priscila com uma quadrilha de pelo menos dez pessoas, em maio de 2004, por ordem do traficante Nílson da Silva, do Complexo da Maré, preso no Complexo Penitenciário de Bangu 1. Além de Elaine, três pessoas estão presas. A polícia iniciou ontem buscas ao corpo na Fazenda Nossa Senhora da Boa Esperança, na Estrada do Ipiba, em São Gonçalo (Grande Rio), onde Elaine afirmou que Priscila foi enterrada. Foram encontrados e encaminhados para a perícia um osso, restos de uma camisa e uma sandália. As buscas foram suspensas ontem até que a quebra do sigilo telefônico de Elaine comprove que ela fez contatos com Priscila. "O principal é a localização do corpo e os depoimentos. O depoimento dela possui contradições, mas seria inusitado uma pessoa se apresentar como autora de um crime que não cometeu", disse o promotor da 2ª Central de Inquéritos do Ministério Público de Niterói, Rubens Vianna. O promotor encontrou Elaine na segunda-feira. A reunião foi intermediada pela equipe do programa Linha Direta, da TV Globo, que exibiu o caso Priscila no dia 28 de junho e desde então vinha sendo procurada por Elaine, que se dizia interessada em trocar a confissão pelos benefícios da delação premiada. Elaine contou aos promotores que recebeu um telefonema de Nílson da Silva em outubro de 2003. Ele pediu que ela fosse ao encontro de Aílton Conceição Lopes, morador do Morro da Caixa D?água no Complexo do Alemão (zona norte), e de um homem identificado com Adriano, morador da Favela do Gato, em Niterói. Aílton, que tem passagem na polícia por roubo, e Adriano teriam oferecido R$ 1,5 mil para que Elaine participasse do seqüestro. "Ele disse que ela (Priscila) e o namorado tinham uma dívida com um casal de R$ 9 mil em drogas, como cocaína e ecstasy. O plano era seqüestrar ela para pressionar o namorado" , disse Elaine ao Estado. O casal foi identificado por Elaine como Paulo e Adriana - a polícia acredita que o homem tenha relações com a família Belfort. Elaine contou que marcou um encontro com Priscila na Avenida Passos, no centro do Rio, para discutir a dívida. A jovem foi rendida ao entrar no carro onde estavam três homens e levada para uma casa no bairro de Itaipu, em Niterói (Grande Rio). "Ficamos lá um mês e meio. Avisaram que a polícia estava vindo porque nos denunciaram. Fomos para o Morro do Estado, onde ficamos por dois meses", contou Elaine. Em maio, a quadrilha recebeu telefonema do presidiário que contratou o grupo. Ele teria afirmado, segundo Elaine, que não recebeu o pagamento e sugeriu que "fizessem o que quisessem" com a vítima. O grupo se dividiu. Uns defendiam abandonar Priscila viva e outros queriam matá-la, com medo de um reconhecimento. A segunda proposta venceu e Priscila foi levada para a localidade Rio do Ouro, em São Gonçalo, e morta com um tiro na cabeça e três no peito. Elaine confessou que deu o primeiro tiro, na cabeça, e que antes deu calmantes à vítima. O delegado da 75ª Delegacia de Polícia, Anestor Magalhães, disse duvidar do depoimento de Elaine e acreditar que Priscila não tinha envolvimento com drogas. Apesar disso, prendeu ontem três pessoas denunciadas por Elaine: Aílton Conceição Lopes, o Tigre, apontado como traficante do Morro da Caixa D?Água, Silvana Luiz de Oliveira, ex-namorada de Elaine, e o filho dela, Hugo de Oliveira Lopes. Eles estão detidos temporariamente e negam o crime. "Não acredito em nada até que o corpo apareça", afirmou a mãe de Priscila, Jovita Vieira. Pai de Luiz Cláudio Corrêa Fortes, namorado de Priscila na época do desaparecimento, o ex-deputado federal Márcio Fortes (PSDB) disse que "Ele (Luiz Cláudio) não quer falar com a imprensa porque a imprensa não tem nada a ver com isso. E eu tenho muito menos a comentar".
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