JANAÚBA - Em frente ao velório São João Batista, em Janaúba, o sentimento de centenas de pessoas era de tristeza e admiração. Familiares, amigos e trabalhadores comuns se despediram da professora Heley de Abreu Silva Batista, de 43 anos, considerada a heroína da tragédia. Foi velada em caixão fechado para não expor as queimaduras que atingiram 90% do seu corpo.
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Ela ficou conhecida por ter conseguido salvar boa parte das crianças que estavam na creche Gente Inocente e também lutado contra o vigilante Damião Soares dos Santos, de 50 anos, que provocou o incêndio.
De acordo com testemunhas, Heley tentava socorrer as crianças em meio ao incêndio e à fumaça que tomava a creche, pequena e sem muita ventilação, quando percebeu que o vigilante estava retornando para o local, com mais combustível e um palito de fósforo nas mãos.
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Ela amava todas as crianças como se fossem filhas delas. Sem dúvida, ela foi uma heroína
Doralice de Abreu, tia de Heley Batista
A professora tentou impedir o criminoso e os dois chegaram a entrar em luta corporal na unidade. Ambos morreram depois - Santos teve 80% do corpo queimado. A morte de Heley foi confirmada na noite de quinta-feira, 5, por funcionários do hospital onde ela ficou internada, na cidade de Janaúba.
Tragédia em creche de Janaúba, em MG
1 / 27Tragédia em creche de Janaúba, em MG
Incêndio em creche na cidade de Janaúba
A investigação da Polícia Civil aponta que ele teria premeditado o crime. Na casa do vigia foram achados galões com combustível. Foto: Fredson Souza/Estadão
Incêndio em creche na cidade de Janaúba
Segundo a prefeitura de Janaúba, desde 2008 Santos era vigia noturno da escola. Ele tinha problemas mentais, estava sob tratamento médico e já havia s... Foto: Polícia Militar/Minas GeraisMais
Incêndio em creche na cidade de Janaúba
O vigia Damião Soares dos Santos, de 50 anos, chocou a cidade de Janaúba, a 559 quilômetros de Belo Horizonte, ao colocar fogo na creche Centro Munici... Foto: Fredson Souza/EstadãoMais
Incêndio em creche na cidade de Janaúba
Viaturas, bombeiros, policiais militares e civis de ao menos cinco cidades foram acionados para ajudar no socorro das vítimas. Foto: Polícia Militar/Minas Gerais
Incêndio em creche na cidade de Janaúba
Cerca de 50 alunos e professores estavam na creche no momento da tragédia. Foto: Polícia Militar/Minas Gerais
Incêndio em creche na cidade de Janaúba
A comoção com o caso foi tão grande que o Hemocentro Hemominas de Montes Claros teve que ser fechado após o número de doadores exceder a capacidade do... Foto: Rosana Silva/ HemominasMais
Incêndio em creche na cidade de Janaúba
Amigos e familiares das vítimas apreensivos sobre informações do lado de fora do Hospital Regional de Janaúba. Foto: Fredson Souza/Estadão
Incêndio em creche na cidade de Janaúba
Cortejo fúnebre da menina Ana Clara Ferreira Silva, de 4 anos Foto: Thiago Queiroz/Estadão
Sobreviventes
Wanderson dos Anjos Pena acompanha os filhos Italo e Webert, que sobreviveram à tragédia no Centro Municipal de Educação Infantil Gente Inocente, em J... Foto: Tiago Queiroz/EstadãoMais
Sobreviventes
O menino Murilo Ramos Dias, de 3 anos, foi um dos sobreviventes da tragédia em Janaúba Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Enterro de Ana Clara Ferreira Silva
Uma van escolar foi usada para transportar amigos ao enterro da menina Ana Clara Ferreira Silva, de 4 anos Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Enterro de Ana Clara Ferreira Silva
Amigos chegam para acompanhar o enterro de Ana Clara Ferreira Silva, de 4 anos, uma das vítimas do incêndio criminal na creche Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Enterro de Ana Clara Ferreira Silva
Vários amigos de Ana Clara acompanharam a cerimônia Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Enterro de Ana Clara Ferreira Silva
Cenas do enterro da menina Ana Clara Ferreira Silva, de 4 anos, no Cemitério Campo da Paz em Janaúba (MG) Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Enterro de Ana Clara Ferreira Silva
Tristeza e comoção marcaram o enterro de Ana Clara, de apenas 4 anos Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Enterro de Ana Clara Ferreira Silva
Parentes e amigos acompanharam o enterro da menina Ana Clara Ferreira Silva, de 4 anos, no Cemitério Campo da Paz Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Enterro de Ana Clara Ferreira Silva
Flores e mensagens de apoio foram deixadas no túmulo de Ana Clara Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Enterro de Ana Clara Ferreira Silva
Parentes e amigos prestaram as últimas homenagens a Ana Clara Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Velório de Heley de Abreu Silva Batista
Com 90% do corpo queimado, a professora Heley foi velada com caixão fechado Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Heley de Abreu Silva Batista
Segundo familiares, a professora Heley de Abreu Silva Batista, de 43 anos, já havia perdido o filho mais velho, afogado na piscina de um clube, há cer... Foto: Tiago Queiroz/EstadãoMais
Heley de Abreu Silva Batista
Heley deixou outros três filhos, um bebê de um ano e dois adolescentes, além do marido Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Velório de Heley de Abreu Silva Batista
'Foi uma heroína. Nossa família é de professores e, quando assumimos uma sala de aula, damos a vida pelos alunos, no sentido figurado. Ela deu, de fat... Foto: Tiago Queiroz/EstadãoMais
Velório de Heley de Abreu Silva Batista
'Ela amava todas as crianças como se fossem filhas delas', afirma a professora Doralice de Abreu, colega de Heley de Abreu Silva Batista Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Velório de Heley de Abreu Silva Batista
Segundo testemunhas, a professora Heley tentava socorrer as crianças em meio ao incêndio, quando percebeu que o vigilante estava retornando ao local, ... Foto: Tiago Queiroz/EstadãoMais
Velório de Heley de Abreu Silva Batista
Crianças levaram flores para homenagear a professora Heley de Abreu Silva Batista Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Janaúba
O prefeito de Janaúba, Carlos Isaildon Mendes (PSDB), acompanhou os resgates e homanagens às vítimas do incêndio criminoso na creche Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Janaúba
O coronel Primo, do Corpo de Bombeiros, foi um dos responsáveis por resgatar as crianças atingidas pelas chamas na creche Foto: Tiago Queiroz/Estadão
Iniciado na manhã desta sexta-feira, 6, o velório da professora se estendeu por horas e o corpo de Heley foi transportado para o cemitério em um carro dos bombeiros, com a presença do prefeito de Janaúba. A atitude da professora foi elogiada por policiais militares e por bombeiros de Minas, que destacaram sua coragem diante da tragédia.
Presente no velório, um representante da Associação de Professores de Escolas Públicas de Minas Gerais afirmou: “Perdemos um bandeira, mas ganhamos um mastro. Ela vai ser para sempre um símbolo da categoria”.
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“Ela amava todas as crianças como se fossem filhas delas”, disse a tia da vítima Doralice de Abreu, de 65 anos, que também é professora. “Sem dúvida, ela foi uma heroína.”
Boa parte da família de Heley trabalha em Educação e ela sonhava em dar aula desde criança, segundo familiares. Formada em Administração e Pedagogia, Heley trabalhava em creches há mais de oito anos, mas havia sido empossada recentemente na Gente Inocente, após passar em concurso da cidade.
“Quando assumimos uma sala de aula, damos a vida pelos alunos, mas no sentido figurado. Ela deu, de fato”, afirmou Doralice.
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O marido da vítima manteve-se ao lado do caixão o tempo inteiro e recebeu abraços e condolências de todos os presentes. Além dele, Heley deixou três filhos - um bebê de um ano e dois adolescentes.
A madrinha de um dos filhos de Heley, Rejane Rodrigues Brito, lamentou nesta sexta a morte a amiga, nas redes sociais. “Você acaba de descansar, deixando seus filhos, marido, família e amigos. Foi uma heroína no último momento. Nem ao menos pensou em você: só em ajudar esses anjinhos que não sabiam o que era o significado da palavra maldade. Que seus filhos nunca apaguem da memória a mãe heroína que tiveram.”
Segundo familiares, a história de Heley já estava marcada por uma tragédia ocorrida anos atrás. A professora havia perdido um filho, o mais velho, que morreu afogado na piscina de um clube. O caso foi há cerca de uma década, segundo relatos de familiares.
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De família muito católica, Heley também dava cursos de noivo - e teria uma aula para ministrar nesta sexta. Os familiares dela, no entanto, disseram que perdoam o agressor. “Talvez ele também tenha sido uma vítima, usada pelo inimigo.”
Entre colegas, Heley era vista com uma pessoa extrovertida, bem-humorada e sempre feliz. “O que levou ela a morrer foi o ato de amor e coragem”, disse a professora Jucilene Santos, de 36 anos, que também trabalha na Gente Inocente.