Professores da rede pública dão aulas com diplomas falsos em São Paulo

'Estado' levantou 19 casos; Prefeitura expulsou acusados, mas vários continuam na rede estadual

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As escolas públicas de São Paulo têm professores que dão aulas com diplomas falsos. O Estado levantou 19 casos de professores que apresentaram títulos fraudados à Prefeitura de São Paulo e acabaram expulsos. A maioria permaneceu por poucos meses na rede, mas há quem tenha dado aulas com documentos falsos no município por até três anos - outros continuam nas redes estadual e de prefeituras vizinhas.Na porta de uma escola estadual na Vila Matilde, zona leste da capital, alunos aprovam as aulas de matemática da professora M.N.R. "Ela é brava, mas é boa professora", disse um aluno de 13 anos que tem aulas com ela na 8.ª série B. A professora passou em um concurso da Prefeitura de São Paulo em 2005, mas, na apresentação do título (de matemática), a Secretaria da Educação apurou que era falso. O caso foi encaminhado imediatamente para o Departamento de Processos Disciplinares (Proced), mas a investigação ficou parada e ela deu aulas até 2008 - quando, enfim, teve a posse anulada.A falsa professora já lecionava na rede estadual, sem que o Estado duvidasse do documento - situação que permanece. A reportagem fez contato com ela, que bateu o telefone assim que foi informada do tema. "Vocês não têm o direito de tocar nesse assunto", gritou. A Secretaria de Educação afirmou que vai apurar o caso encaminhado.Também exonerada pela Prefeitura da capital, R.S.G., de 57 anos, confessou ao Estado que comprou um diploma para tentar dar aulas na rede. "Estava desesperada e precisava de dinheiro. O cargo (de professora de desenvolvimento infantil) pedia diploma de magistério e eu não tinha. Então procurei uma pessoa no centro da cidade e comprei", diz ela. "Foi desespero, errei."O caso ocorreu em 2004 e ela deu aulas por cerca de seis meses até ser desligada, em 2005. No primeiro contato, R.S.G. disse que havia pedido demissão da Prefeitura e depois abandonado a educação - o que não é verdade. Hoje ela é diretora de uma escola municipal no Parque Brasília, em Guarulhos - cargo que já ocupava antes de 2004. Questionada, defendeu-se: "Tenho diploma de Pedagogia, certinho, só comprei aquele". Na escola, é conhecida por outro nome. A diretora afirma ter se formado em Pedagogia na Universidade de Guarulhos (UnG). A instituição informou que ela foi aluna, mas não poderia confirmar se houve formatura. A prefeitura da cidade diz que apurará o caso.Investigações. Dos casos ocorridos na Prefeitura da capital levantados pela reportagem, dez são de professores concursados e nove, de temporários. Todos foram descobertos pela própria secretaria municipal.Os concursados incluem os dois casos já citados. Os oito restantes apresentaram falsos títulos para evoluir na carreira. Tinham habilitação, mas tentaram novo cargo e salário com outro diploma (neste caso, falso). Uma docente tentou virar coordenadora pedagógica. Servidores antigos também tentaram a fraude, como M.G.V.A.F., que atuava em uma creche na zona leste havia 17 anos.Seis desses casos foram registrados neste ano. Em 2011, foram oito - todos de professores temporários. A professora M.R.P.V. é um deles. Atuou na educação infantil desde 2009 e tentou no ano passado uma nova posição no ensino fundamental. Mas apresentou título falso e foi descoberta. "Vi no Diário Oficial que ela forjou o diploma. Nem acreditei. Era séria", disse uma educadora que trabalhou com ela.Outro professor, M.R.C.A., deu aulas por quase um ano na Prefeitura - até ter o contrato anulado em agosto de 2011. Professor de artes, também lecionou até o ano passado em uma escola estadual na zona sul de São Paulo. A secretaria não informou se também descobriu a fraude, mas a reportagem apurou que ele abandonou as aulas. Ele foi aprovado em concurso em Ferraz de Vasconcelos, mas, segundo a prefeitura dessa cidade, ainda não foi convocado. Atualmente, comanda uma adega.O advogado Adib Kassouf Sad, presidente da Comissão de Direito Administrativo da OAB-SP, diz que os casos levantados são apenas uma parte da realidade. "As secretarias são vítimas, mas lamentavelmente os casos não são isolados. O trânsito de documentos é complexo e burocrático e fica muito difícil ter certeza absoluta da validade de todos."

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