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Programa de alunos da USP ajuda ex-detentos na busca por bolsas de estudo e vagas de trabalho

O projeto Nova Rota oferece bolsas de estudos, preparação profissional e mentoria para quem saiu da prisão e busca uma nova chance

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Por Fabio Tarnapolsky
Atualização:

Inserir alguém que já nem se sente mais parte da sociedade. Esse é o objetivo do projeto Nova Rota, criado em 2019 por alunos de Direito da Universidade de São Paulo (USP), que oferece mentoria e ajuda de custos para ex-detentos entrarem na faculdade ou retornarem ao mercado de trabalho - e ficarem longe do crime de vez.

Dados do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) apontam que a população prisional do Brasil hoje supera 900 mil detentos, dentre eles muitos jovens periféricos com poucas oportunidades educacionais. Segundo os idealizadores do programa, o objetivo é tirar os egressos do sistema carcerário dos “círculos de vulnerabilidade” e evitar a reincidência.

Equipe do projeto Nova Rota, formada por estudantes da USP. Foto: Thomas Freier

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“Importado” de uma ação chamada Gauss, também de estudantes da universidade, o Nova Rota consiste em dar bolsas de estudo a antigos detentos agora em liberdade ou prisão domiciliar e ajudá-los a conseguir emprego. A ideia surgiu em São Paulo e hoje está também no Rio.

Os selecionados recebem auxílios conforme suas condições e objetivos e são acompanhados pelos voluntários. Segundo Katherine Almeida Martins, assistente de gabinete do TJ-SP e coordenadora do programa, a estruturação do projeto ocorreu após os criadores enxergarem o problema de forma mais ampla. “Na inocência de só dar a bolsa, a gente se deparou com a realidade das pessoas que têm moradia e família para cuidar. Às vezes, não há disponibilidade para um curso integral”, disse.

“O que eram, em princípio, bolsas de universidade, foi readequado às necessidades das pessoas. Propomos cursos técnicos, profissionalizantes, supletivos e cursos de Inglês. Abrimos vários ramos dentro dessas perspectivas de ajuda de custo”, complementou.

Além da capacitação, o Nova Rota também oferece ajuda psicológica aos seus participantes, em uma espécie de mentoria, para que assim não fiquem desamparados em uma jornada que requer também boa saúde mental.

Uma das beneficiárias é Débora Dias, residente da Zona Leste que foi presa em 2017 por porte de drogas na comunidade de Santa Rosa, em Mauá, na Grande São Paulo. Ela tem 23 anos e foi detida com 18, na última série do ensino médio, pouco tempo após ter feito inscrição na Fuvest, o vestibular da USP. Dedicada aos estudos, enfrentava outros problemas.

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“Eu tinha uma vida conturbada”, relembra. “Um dia, a polícia invadiu a favela e fui pega”, conta. A partir daquele momento, o sonho de entrar na faculdade foi interrompido.

Débora Dias, de 23 anos, é uma das bolsistas do projeto e cursa publicidade na UNIP. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

Débora cumpriu sua pena e foi libertada três anos depois. Em busca de uma retomada, teve contato com o programa Recomeçar, um dos parceiros do Nova Rota. “Eles falam rapidinho da faculdade, e mais sobre as chances de emprego, porque as pessoas querem botar comida na mesa”, conta.

Apaixonada por escrita, design gráfico e audiovisual, a jovem pesquisou diferentes carreiras para seguir. Ela cogitou Filosofia, Cinema e Design, mas acabou optando por Publicidade, onde enxergou como o curso ideal para seus gostos. Ajudada pelo Nova Rota, conseguiu bolsa na Universidade Paulista (Unip), onde começou a estudar ainda em 2022.

Débora trabalha como operadora de telemarketing em uma agência de viagens, serviço “que envolve sonhos de pessoas”, como ela mesma descreve. Conciliar o trabalho com os livros se mostrou outro desafio e, por isso, a estudante corre atrás desde já de um emprego em sua área para aplicar tudo aprendido no ensino superior.

Débora tem que "se virar" para conciliar estudos e trabalho enquanto cursa Publicidade. Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal

CONTiNUA APÓS PUBLICIDADE

Para se tornar bolsista do Nova Rota, o candidato deve preencher um formulário prévio com informações básicas, como tempo de egresso, moradia, renda, idade, gênero, etc. Depois, é pedida uma carta de motivação e, na terceira etapa, são feitas entrevistas de seleção. “O que acaba às vezes pesando quando há empate é a situação de vulnerabilidade, quem realmente não teria capacidade de estudar sem a bolsa”, conta Katherine. Caso a necessidade maior seja um emprego, o candidato é encaminhado para os programas parceiros.

O projeto tem apoio de empresas e órgãos públicos, além de pessoas físicas. Há ainda uma ação de crowdfunding (vaquinha coletiva) na internet, que pode ser acessado em: https://www.projetonovarota.org/faça-parte. O sonho dos idealizadores é expandi-lo para todo o Brasil. Até agora, o Nova Rota já tem uma aluna formada e duas concluem o curso em breve. “Pessoas que passaram a vida nessa situação de exclusão têm vontade de seguir com a gente”, finaliza a advogada.

Para mais informações sobre o programa, basta acessar o site: https://www.projetonovarota.org/

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Equipe do projeto Nova Rota, formada por estudantes da USP. Foto: Luca Jardim
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