Podia ter sido tudo muito ruim naquela saída, tudo ocorrendo ao contrário do desejado, ou podia se tratar de um retorno após uma semana fora de casa, cheia de perturbações. Porém, quando eu subia pela ladeira da Quitite, sabendo já estar a tão poucos metros de casa, sentia paz. E segurança (irreal, mas quê importa?).
Era bom sentir aquela paz. Chega a ser tranquilizador tão somente relembrá-la, nesse momento.
Mas reconfortos assim somem com o tempo. Alguma hora na vida, enfraquecem-se os alicerces que nos dão segurança -- pais, tutores, lugares, amigos, crenças, lembranças-- e aí ou você reúne forças (sei lá da onde) e vira o próprio alicerce de si mesmo e de outros, ou torna-se um animal amedrontado em forma de gente que morre metaforicamente de fome, pois não se lança mais à caça.
Muitos oscilam entre esses dois extremos. E assim vivem a vida até que ela de chofre finde.
Quando eu via a placaEstrada do Quitite, em 1985, tudo era mais fácil. Real e simbólico tão próximos e tão separados. A Estrada do Quitite real, a que está lá hoje 30 anos depois, não é mais um alicerce para mim. E por isso é que nunca mais posso voltar lá, para manter a chama da sua força acesa enquanto possível. Para carregar esse simbolismo até que tudo um dia se esmaeça num mistério muito maior.
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