Dezenove dos 32 seqüestros registrados no ano passado na região de Campinas (SP) foram realizados pela quadrilha de Wanderson Nilton de Paula, o Andinho, mas os números ainda podem aumentar na próxima semana, informou hoje o diretor do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) da Polícia Civil de São Paulo, delegado Godofredo Bittencourt Filho. Bittencourt disse que, nas 19 ações de seqüestro da quadrilha, 25 pessoas foram levadas para o cativeiro, entra elas 12 mulheres e 3 crianças. Além de participação direta e indireta nestas 19 ações, Andinho já teria confessado, segundo o delegado, assaltos em seis residências em bairros de classe média alta nas cidades de Campinas e Valinhos. O seqüestro com desfecho mais violento foi o da cigana Rosana Melotti, assassinada a tiros em frente à porta de sua casa, em janeiro. Bittencourt confirmou as versões de que Rosana foi morta porque as negociações do resgate, feitas diretamente com o marido dela, haviam chegado a um impasse. "A quadrilha fez isso para mostrar que não estava de brincadeira", disse o delegado. No mesmo cativeiro em que se encontrava Rosana, permaneciam confinadas a empresária Luzia Aparecida Vilani e Júlia Cavalcante, libertadas em dias depois, com o pagamento do resgate. Bittencourt disse que Andinho admitiu ter participado do seqüestro da cigana, mas atribuiu a outro integrante do bando, Anderson Manzini, que está foragido. A estrutura da quadrilha, que era composta por oito líderes - quatro dos quais ainda foragidos -, foi desvendada pelo delegado da Delegacia de Roubos do Deic, Eduardo Dutra de Carvalho. "Acumulamos muitas provas e depoimentos de testemunhas, de modo que Andinho não teve saída e acabou confessando seu envolvimentos nestes 25 casos", disse Carvalho. "Mas é possível que novos casos apareçam, assim que as investigações prosseguirem." Além dos líderes, Carvalho estima que outras oito ou dez pessoas participaram dos 19 seqüestros. "Eram bandidos sem envolvimento direto com a quadrilha, contratados para cuidar do cativeiro e realizar pequenas tarefas", afirmou ele. Os delegados do Deic se recusaram a comentar as investigações da participação de Andinho no assassinato do prefeito de Campinas, Antônio da Costa Santos, o Toninho do PT. "O caso está sendo investigado pelo DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa) e corre em segredo de Justiça. Não nos cabe falar dele", afirmou Bittencourt. Mas Carvalho deixou escapar, quando foi perguntado sobre o caso durante a entrevista coletiva realizada hoje, que Andinho negou participação no assassinato. Bittencourt, enquanto tentava traçar o que chamou de "perfil psicológico" de Andinho, disse que o seqüestrador se comportava de maneira contraditória com suas vítimas no cativeiro. Era capaz de gestos delicados, como comprar um videogame e dezenas de jogos para um dos meninos seqüestrados, ou de gestos violentos como colocar a arma na testa e proferir ameaças e impropérios contra outro. "Ele usava drogas e perdia o emocional", repetiu várias vezes o delegado. "É uma pessoa má e capaz de gestos muito violentos."
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