As festas juninas são traço marcante da cultura popular brasileira. Sua formação histórica está ligada ao sincretismo entre sua origem pagã e a celebração de santos católicos. Contudo, as festas receberam influências temporais e regionais, e hoje apresentam muitas variações na decoração, nas comidas e em outras características conforme a localidade.
Os ritmos e danças mais populares, por exemplo, se alteraram ao longo dos anos. “Um fenômeno atual é a abertura das festas juninas para outros gêneros musicais que não o forró ou as marchas juninas”, aponta Alberto Ikeda, professor do Departamento do Instituto de Artes da Universidade Estadual Paulista (Unesp).
Outra mudança atual é celebração de festas também em julho, as chamadas festas julinas, lembra Christian de Oliveira, doutor em Geografia Humana. “Essa mudança ocorre principalmente para aproveitar o período das férias escolares.”
Confira a origem e os significados dos principais símbolos ligados às festas juninas:
Qual é a origem da festa junina?
As festas juninas são uma marca da colonização portuguesa. Elas marcam um ciclo de festividades para celebrar três santos importantes para Portugal e para o cristianismo ocidental: Santo Antônio (dia 13), São João (dia 24) e São Pedro (dia 29).
As celebrações, no entanto, devem ser compreendidas num cenário maior de apropriação de festas pagãs pelo calendário da Igreja Católica, afirma Oliveira. “A Igreja Católica se apropria de festas pagãs, das festas judaicas às indígenas. Esse processo não é exclusivo das festas juninas”.
Por que festa junina tem esse nome?
Inicialmente, os festejos não possuíam nome que os unificasse. O termo ‘festas juninas’ foi criado posteriormente, no período da República (depois de 1889), como uma forma de identificação nacional, explica Oliveira. “Embora outros países latino-americanos e Portugal também tenham as mesmas celebrações, lá não se usa essa expressão.”
Por que festa junina é comemorada em junho?
Os três santos católicos são celebrados no mês de junho: Santo Antônio, no dia 13; São João, no 24; e São Pedro, no 29. Junho também é o mês em que se encerra o período estritamente religioso entre a Páscoa e o Corpus Christi, aponta Alberto Ikeda. “O feriado de Corpus Christi ocorre no limite do começo para o chamado tempo comum. Ou seja, o tempo de festas.”
Além disso, em junho ocorre o solstício de verão, dia de passagem da primavera para o verão. A troca de estações era celebrada pelos povos pagãos europeus, como uma forma de cultuar os deuses da natureza, e estas celebrações foram ressignificadas pela Igreja Católica, explica Ikeda. As festas juninas comemoradas no Brasil guardam um pouco dessa tradição, e são comemoradas em acordo com o calendário de plantio, colheita e de chuvas.
Por que dançamos quadrilha na festa junina?
A quadrilha inicialmente era um conjunto de coreografias com cinco partes, cada uma com ritmos e músicas diferentes. Essas variações eram derivadas das danças palacianas, trazidas juntamente com a Família Real portuguesa, em 1808, conta Ikeda. “O que restou da quadrilha no Brasil foi o último movimento deste conjunto de danças, que era uma polka”.
Historicamente, os ritmos que ficaram marcados como juninos foram a polka e a marcha. Com o tempo, o forró também ganhou expressividade. No entanto, Ikeda explica que as danças e músicas variam conforme a região. “Hoje, dança-se um ritmo chamado siriri no Mato Grosso. Já no Norte do Brasil, há muitos ritmos, como o carimbó e os rituais do Bumba-meu-boi, chamados genericamente de toadas.”
Quais as influências das comidas típicas de festa junina?
Costumes como o quentão e o vinho quente que vêm da Europa e foram adaptados aos produtos locais, diz Sandro Dias, professor doutor do Centro Universitário Senac. “Por exemplo, produzimos a cachaça a partir da cana de açúcar. No entanto, os árabes já tinham o conhecimento da bagaceira e dos alambiques”, conta.
Além disso, ele afirma que pratos como a canjica, o curau, o suco de milho, a pamonha e o cuscuz possuem receitas análogas na Europa e em países árabes. No entanto, não eram consumidos lá, uma vez que o milho é um alimento proveniente das Américas.
Ainda há a cultura do pinhão, ligada à extração nos Estados do Sul do País. “Assim, a festa junina também está ligada à sazonalidade da produção agrícola no Sul”, lembra Dias.
Por que na festa junina tem fogueira?
O fogo está presente em muitas religiões. No cristianismo, por exemplo, ele está presente no uso de velas. No entanto, este elemento também remete aos rituais pagãos, geralmente feitos à noite, explica Christian de Oliveira. Outro ponto importante é que o fogo fez parte do processo civilizatório, ressalta Dias: “Ele está presente não só na fogueira, como também na feitura dos alimentos.”
Ele ainda conta que cada santo possui uma configuração de fogueira diferente: no caso de Santo Antônio, a fogueira deve ser quadrada; no caso de São Pedro, as toras devem ser dispostas de forma triangular; e no caso de São João, a disposição é circular.
Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.