Quais são, quem fez e por que foram prorrogadas as obras na penitenciária de Mossoró

Três serviços ocorriam ao mesmo tempo dentro do presídio de onde fugiram dois presos faccionados do Comando Vermelho; uma das suspeitas investigadas pela PF é a de que obra interna facilitou a saída dos fugitivos

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Foto do author Vinícius Valfré
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Atualização:

BRASÍLIA - O presídio federal de Mossoró (RN) passava por ao menos três obras quando dois presos do Comando Vermelho fugiram, no último dia 14. Havia movimentação interna para ampliação do pátio de banho de sol, para uma adaptação na recepção de visitantes e, ainda, uma ampliação do alojamento de policiais penais.

As informações foram obtidas junto a autoridades envolvidas na crise de segurança instalada depois da fuga. As buscas se estendem por mais de uma semana e os criminosos ainda não foram recapturados.

O contrato foi assinado em abril de 2022, no governo de Jair Bolsonaro (PL), e recebeu um aditivo em abril de 2023, no governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Tecnicamente, ele é chamado de “contrato de manutenção”, que compreende intervenções mais simples, porém de maneira permanente. Assim, acabou renovado por mais um ano, até abril de 2024.

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  • A outra empresa que atua no presídio é a Construtora Dantas. Ela foi contratada em abril de 2023 para um serviço específico, a construção de um “muro em estrutura de concreto armado para divisão do pátio de sol das vivências”, com oferta de materiais, mão de obra e equipamentos.

A obra no pátio foi prorrogada 29 dias antes da fuga dos dois presos, conforme a publicação do dia 16 de janeiro no Diário Oficial da União. Segundo o engenheiro responsável técnico pela obra do pátio, o adiamento foi necessário porque em várias oportunidades a direção do presídio impedia a entrada dos pedreiros. Ele pediu para não ser identificado.

“Pela dificuldade de execução. Às vezes eles fazem manutenção, uns procedimentos lá dentro que eles não explicam qual é e não deixam a gente trabalhar. Foi um prazo que houve por causa da burocracia para entrar lá dentro”, afirmou ao Estadão.

Detentos fugiram da unidade federal de Mossoró na última quarta-feira, 14 Foto: Senapen

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O engenheiro nega que equipamentos da Dantas tenham ficado expostos e tenham sido usados pelos fugitivos.

“A gente está fazendo uma reforma apenas em uma área, está totalmente isolada, não tem acesso a preso, não tem acesso a nada. O que estão falando não tem nada a ver com a obra lá não. Pode ser outra empresa. Eles próprios fazem manutenção, fazem obra lá. A gente é totalmente isolado, não é nem perto de nada”, disse. O dono da construtora, Rafael Dantas, não atendeu aos telefonemas da reportagem.

Uma das linhas da investigação é a de que a fuga foi facilitada por obras internas. Um alicate teria sido usado pelos fugitivos para cortar uma grade. Em nota, o Ministério da Justiça destacou que as condições da fuga são investigadas pela Polícia Federal. A pasta, porém, não respondeu de qual das obras seriam os materiais usados pelos criminosos.

Em entrevista coletiva concedida no dia seguinte à fuga, o ministro Ricardo Lewandowski, citou intervenções dentro da unidade. “O presídio estava passando por uma reforma interna, várias instalações estavam sendo reformadas. Havia operários lá dentro da unidade prisional. Ferramentas existiam lá dentro. Infelizmente, pelas informações que temos, não estavam devidamente acondicionadas e trancadas”, frisou.

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