Quem era a empresária morta a tiros na 25 de Março; pesquisa aponta risco às mulheres

Jane Domdoca tinha uma distribuidora de cosméticos e foi assassinada pelo ex-marido; levantamento divulgado neste Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra a Mulher diz que 2 em cada dez brasileiras já foram ameaçadas de morte por parceiro ou ex

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Foto do author José Maria Tomazela
Atualização:

Jane Domdoca, a influenciadora de 42 anos baleada e morta na tarde de sábado, 23, na região da 25 de Março, em São Paulo, era dona da distribuidora de cosméticos DomDoca Esmalteria. Apenas na página da loja no Instagram ela tinha mais de meio milhão de seguidores.

Gianeriny Santos Nascimento, a Jane Domdoca, que também era tratada como Haney, foi assassinada pelo ex-marido. Ele foi preso em flagrante por feminicídio. O caso é investigado em segredo de justiça.

Mulher foi baleada e morta neste sábado pelo ex-marido na Ladeira Porto Geral, no centro de São Paulo. Foto: Reprodução/TV Globo

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Uma pesquisa do Instituto Patrícia Galvão divulgada nesta segunda-feira, 23, Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra a Mulher, aponta que 2 em cada dez brasileiras já foram ameaçadas de morte por parceiro ou ex.

Assim, estima-se que quase 17 milhões de brasileiras viveram ou vivem situação de risco de feminicídio. Seis em cada 10 conhecem ao menos uma mulher que já foi ameaçada pelo atual ou ex-parceiro ou namorado.

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A influenciadora foi morta na porta de sua loja, na Ladeira Porto Geral, via de acesso à 25 de Março, maior centro de comércio popular de São Paulo. A loja compartilhava dicas de produtos e promoções da unidade.

Jane mantinha também uma página pessoal, com 66,8 mil seguidores, na qual, além das rotinas de trabalho, compartilhava passeios no exterior, fotos com celebridades e ao lado ou ao volante de carros de luxo. Ela se apresentava como CEO da Domdoca Esmalteria.

‘Pessoa querida’

Nas redes sociais, amigos, clientes e conhecidos lamentaram a morte de Jane. “Tiraram uma pessoa muito querida de nós! A linda Haney, nossa Jane Domdoca, uma mulher forte, generosa, determinada, que sempre apoiou, acolheu e incentivou outras mulheres a lutarem por sua independência, se tornarem empreendoras”, postou a professora e cientista social Laine Daniel, de quem Jane foi aluna. ”Mais uma vítima de feminicídio, que a justiça dos homens e de Deus seja feita”, acrescentou.

“Ela foi uma pessoa amada e deixa lembranças que permanecerão para sempre em nossos corações. Que Deus dê força e consolo aos familiares e amigos neste momento difícil”, diz nota de pesar divulgada pela empresa. Nesta segunda-feira, 25, a loja estava fechada por luto e havia policiais militares em frente ao local.

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Jane deixou cinco filhos e dois netos. Os dois mais novos, de 5 e 10 anos, eram filhos do homem que a matou. Ela foi sepultada neste domingo, 24, em cerimônia fechada, apenas para familiares e amigos próximos.

Mais mulheres negras

Segundo a pesquisa “Medo, ameaça e risco: percepções e vivências das mulheres sobre violência doméstica e feminicídio”, 21% das mulheres já foram ameaçadas de morte por parceiro ou namorado e, destas, 3% já sofreram ameaça de mais de um parceiro. No recorte por raça, 16% dos casos envolvem mulheres brancas e 26% mulheres negras. De cada 10 mulheres ameaçadas, 6 romperam o relacionamento.

Com parceria da Consulting Brasil e apoio do Ministério das Mulheres, o estudo entrevistou 1.353 mulheres com mais de 18 anos entre os dias 23 e 30 de outubro. Para 90% das entrevistadas, o feminicídio pode ser evitado se a mulher receber proteção do Estado e da sociedade, mas consideram que a medida protetiva nada vale se o agressor não a respeita e a polícia não garante sua segurança.

Sensação de impunidade

Apenas 20% das mulheres ouvidas acreditam que homens que cometem violência são presos. Para 95%, os homens têm convicção na impunidade, mesmo sabendo que violência doméstica é crime. Já 60% acham que os casos de feminicídio estão atrelados à sensação de impunidade.

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Para 8 de cada 10 mulheres, aumentar a pena para o crime de violência doméstica contra a mulher pode contribuir para evitar mais feminicídios. Para 90%, evitar o crime é mais importante que punir o assassino.

A ampla maioria (75% das mulheres brancas e 82% das mulheres pretas) acredita que se sentiriam mais seguras para denunciar se tivessem mais apoio do Estado. Para 80%, a polícia não leva a sério uma denúncia de ameaça e nem o risco que a mulher corre. O mesmo porcentual avalia que os serviços de atendimento são bons, mas não dão conta de atender toda demanda.

Quase a metade – 44% - das mulheres temeram serem mortas ao passar pela situação de ameaça, mas nem todas – 37% - denunciaram à polícia. De cada 3 ameaçadas de morte, 1 denunciou à polícia e pediu medida protetiva.

Apenas 1 em 4 mulheres terminou o relacionamento após longo tempo sofrendo violência. Já 64% das mulheres disseram que, se ficarem sabendo de violência contra outra mulher, denunciam à polícia.

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  • Dependência e medo - Para 64% das mulheres, a dependência econômica do agressor é apontada como o principal motivo para elas não conseguirem sair da relação violenta. O medo é apontado por 46% como um forte motivo e, nesse caso, mais pelas mulheres negras (49%) do que pelas brancas (44%).
  • Cultura machista - Para 89% das mulheres, o feminicídio acontece por motivo de ciúmes e possessividade do parceiro. A cultura machista é apontada por 44% como motivo para o feminicídio íntimo (cometido por parceiros ou namorados).
  • Terminar relação - De cada 10 entrevistadas, 7 concordam que as mulheres ameaçadas não acreditam que podem ser assassinadas. Para 85%, terminar a relação é a melhor forma de acabar com o ciclo de violência e evitar o feminicídio. Já 90% concordam que a mulher ameaçada deve denunciar o agressor imediatamente. Quase todas as entrevistadas disseram que uma arma de fogo em casa desestimula a mulher a denunciar a violência e aumenta o risco de que ela seja assassinada.
  • Ligar para 190 - Seis de cada 10 mulheres disseram de forma espontânea que, em caso de ameaça, deve ser acionado primeiro o 190 (Polícia Militar). O Ligue 180 (governo federal) foi citado por 1 em 4.
  • Delegacia da Mulher - De forma espontânea, a Delegacia da Mulher é identificada por 70% como o local no qual uma mulher ameaçada pode buscar ajuda. Na pergunta estimulada, o percentual sobe para 97%.
  • Campanhas - Para 80%, devem ser ampliadas as campanhas para prevenir a violência contra a mulher, inclusive com a ajuda de influenciadores digitais.

“A pesquisa revela que as mulheres consideram que houve um aumento dos casos de feminicídio nos últimos anos e essa percepção se deve principalmente à sensação de impunidade”, diz Jacira Melo, diretora executiva do Instituto Patrícia Galvão. “As vítimas de ameaças de parceiros têm muito medo e precisam do apoio do Estado para saírem dessas relações violentas e serem protegidas contra as ameaças de morte e o risco real de feminicídio.”

A reportagem apresentou os dados da pesquisa à Secretaria da Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP) e aguarda retorno sobre os apontamentos que envolvem a polícia.

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