Rã bem criada, em piscina de lona

Bem-sucedida invenção do ranicultor Luiz Carlos Dias Faria simplifica a atividade e a torna viável a pequenos produtores

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A iniciativa e criatividade de um ex-piscicultor que decidiu montar um ranário pode ajudar a criação de rãs a se reerguer e a se tornar uma real opção de renda para pequenas propriedades. Há dois anos, Luiz Carlos Dias Faria, de São José dos Campos (SP), trabalha no que ele chama de Projeto TLX. Com novas idéias e algumas adaptações, ele conseguiu reduzir o investimento de instalação do ranário e a taxa de mortalidade dos girinos e organizar os procedimentos de manejo da criação. O resultado é um custo de produção menor e, o mais importante, viabilidade de produção para pequenos produtores. A principal diferença do sistema, quando comparado aos ranários tradicionais, são as instalações. No lugar dos tanques de alvenaria, o criador usa piscinas de lona, de mil litros. Com isso, o investimento inicial para instalar o ranário caiu de R$ 70 para R$ 33 o metro quadrado. O espaço necessário com o novo esquema também é menor, 320 metros quadrados para uma produção de 200 quilos de rã por mês. No sistema tradicional, seriam necessários 700 metros quadrados para a mesma produção. Além do custo mais baixo, a piscina de lona evita que as rãs se machuquem, o que é um problema nos tanques de alvenaria. ''É uma idéia simples, barata e que resolve vários problemas'', diz Faria. CHOCADEIRA Outra invenção que deu resultado foi a estufa adaptada a partir de uma chocadeira de aves usada para a fase pós-desova, quando costuma haver muita mortalidade, principalmente por causa da oscilação de temperatura. ''É uma fase crítica quando a larva se transforma em girino'', diz o criador. ''Testei até uma máquina de sauna para tentar manter a temperatura. Conseguimos reduzir para quase zero a taxa de mortalidade dos girinos.'' Para o vice-presidente da Associação Brasileira dos Criadores de Organismos Aquáticos (Abracoa), Manuel Braz, o novo sistema de criação desenvolvido por Faria pode revolucionar a atividade. Ele acredita que o ranário de alvenaria é um desperdício. ''Além de resolver alguns problemas da criação, é barato, oferece mobilidade e é uma alternativa de diversificação para pequenos produtores e pequenas áreas, porque exige pouco investimento'', diz. ''Podemos promover a ranicultura familiar.'' DA DESOVA À ENGORDA O ranário modelo tem cinco galpões e mais de 70 piscinas, onde são desenvolvidas todas as fases da criação, da desova até a engorda. ''Mas o melhor é desmembrar a criação, ou produzir imagos (fase de reprodução) ou engordar'', diz. Para difundir sua idéia, o criador montou um kit de engorda. Os produtores interessados compram o kit, que custa R$ 1 mil e inclui quatro piscinas, conjunto de telas e mil imagos. ''Desenvolvi um esquema de procedimento diário, para facilitar o manejo, e também oriento sobre todo o processo. Apenas um funcionário dá conta do trabalho.'' O novo sistema animou o ranicultor Noriaki Sudo, que deixou a atividade de criação há oito anos e atualmente trabalha apenas com a venda de rãs. ''Comecei em 1991 e em cheguei a produzir 250 quilos de carne por mês'', diz. Naquela época, gastou R$ 40 mil para instalar o ranário. ''Tive muitos problemas, principalmente porque não havia um sistema de trabalho organizado, nem assistência técnica. Em cinco anos não consegui ter retorno do investimento. Desisti da criação e fiquei só na comercialização.'' Este ano, após conhecer o Projeto TLX, Sudo comprou dois kits e aprovou o sistema. ''Luiz Carlos conseguiu isolar todos os problemas do sistema tradicional. Não imaginava que dava para simplificar tanto'', diz. Toda a produção já foi vendida. ''Este é um ponto importante. Há demanda pela carne de rã, o problema é a oferta.''

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