Rio celebra 'carnaval da superação' e iluminação cenográfica na Marquês de Sapucaí

Sambódromo ganha novos holofotes depois de dois anos sem desfiles do Grupo Especial; abertura coube à Imperatriz Leopoldinense, seguida da Mangueira

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RIO - Passados dois anos e 53 dias desde a última exibição de uma escola de samba no sambódromo do Rio de Janeiro (a Unidos do Viradouro, campeã de 2020, encerrou o Desfile das Campeãs na madrugada de 1º de março daquele ano), nesta sexta-feira, 22, o palco da rua Marquês de Sapucaí voltou a receber um desfile das 12 melhores escolas de samba do Rio. A abertura coube à Imperatriz Leopoldinense.

Foi em frente ao setor 1 que, pontualmente às 21h, a banda da Guarda Municipal do Rio de Janeiro executou o Hino Nacional e em seguida o hino do Rio de Janeiro (a marchinha “Cidade Maravilhosa”), na cerimônia de abertura do evento. Fora a alegria, só houve um momento inicialmente político: logo após o Hino Nacional, a plateia do setor 1 entoou, em coro bastante intenso, gritos de “fora, Bolsonaro”, em crítica ao presidente da República. 

Imperatriz Leopoldinense abriu a noite de desfiles no Rio com homenagem a Arlindo Rodrigues (1931-1987), cenógrafo, figurinista e carnavalesco. Foto: Carl de Souza/ AFP

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O sambódromo estreia este ano uma iluminação cenográfica multicolorida – antes, só havia holofotes de luz branca. Até o início dos desfiles, essa nova iluminação mantém a pista de desfiles escura, causando a impressão de que o espetáculo ainda está longe de começar. Os holofotes de luz branca só são acesos a partir do início das exibições.

Depois de tanto tempo sem os desfiles, o sentimento predominante tanto na plateia como entre os desfilantes era de alegria e alívio. “Perdi três parentes próximos (vítimas da covid-19), mas felizmente a pandemia passou e estamos aqui”, comemorava a mangueirense Enilda Silva, de 43 anos, no setor 1.

O presidente da Liga das Escolas de Samba (Liesa), Jorge Perlingeiro, classificou o evento como “o carnaval da superação”: “Adiamos quatro vezes (por conta da pandemia), foi uma luta, mas conseguimos realizar essa festa”, disse.

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Rebaixada em 2019 e campeã do desfile da segunda divisão em 2020, a escola de Ramos (bairro da zona norte do Rio) prestou uma homenagem a Arlindo Rodrigues (1931-1987), cenógrafo, figurinista e carnavalesco responsável pelos dois primeiros títulos da Imperatriz, em 1980 e 1981. O desenvolvimento do enredo coube à carnavalesca Rosa Magalhães, que no início da carreira foi subordinada a Rodrigues. Ela estreou no universo das escolas de samba em 1971, como figurinista do Salgueiro, na equipe dele. Dali em diante, Rosa foi parceira e rival do amigo.

Antes de chegar à Imperatriz, Rodrigues fez desfiles memoráveis pelo Salgueiro, onde foi cinco vezes campeão (em 1960, 1963, 1965, 1969 e 1971), e pela Mocidade Independente, onde venceu um desfile, em 1979. Por isso, o enredo da Imperatriz tornou-se uma revisita aos desfiles dessas escolas "coirmãs", retratados em muitas alas e mesmo em carros alegóricos, todos muito luxuosos e com excelente acabamento. Na parte final, claro, foram exaltados os dois desfiles de Rodrigues campeões pela Imperatriz. 

O samba entoado pela Imperatriz tem um trecho com cadência muito mais lenta que a maioria dos sambas-enredo atuais, e fez sucesso com o público – animado também por estar vendo a primeira escola.

Em seguida desfilou a Mangueira, que prestou homenagem a três ícones da escola: o compositor e fundador Cartola (1908-1980), o intérprete Jamelão (1913-2008) e o mestre-sala Delegado (1921-2012). Reconhecido pelos enredos de cunho social, o carnavalesco Leandro Vieira desta vez caprichou nos tons verde e rosa, como na comissão de frente, que representou os sambistas, estrelas deste espetáculo.

Cada escola tem de uma hora a 70 minutos para desfilar, e cada noite de exibições deve terminar por volta das 5h do dia seguinte. A apuração vai acontecer na terça-feira, 26, e as seis escolas melhor colocadas voltarão a se exibir no desfile das Campeãs, no sábado, 30.

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