RIO - Passados dois anos e 53 dias desde a última exibição de uma escola de samba no sambódromo do Rio de Janeiro (a Unidos do Viradouro, campeã de 2020, encerrou o Desfile das Campeãs na madrugada de 1º de março daquele ano), nesta sexta-feira, 22, o palco da rua Marquês de Sapucaí voltou a receber um desfile das 12 melhores escolas de samba do Rio. A abertura coube à Imperatriz Leopoldinense.
Foi em frente ao setor 1 que, pontualmente às 21h, a banda da Guarda Municipal do Rio de Janeiro executou o Hino Nacional e em seguida o hino do Rio de Janeiro (a marchinha “Cidade Maravilhosa”), na cerimônia de abertura do evento. Fora a alegria, só houve um momento inicialmente político: logo após o Hino Nacional, a plateia do setor 1 entoou, em coro bastante intenso, gritos de “fora, Bolsonaro”, em crítica ao presidente da República.
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O sambódromo estreia este ano uma iluminação cenográfica multicolorida – antes, só havia holofotes de luz branca. Até o início dos desfiles, essa nova iluminação mantém a pista de desfiles escura, causando a impressão de que o espetáculo ainda está longe de começar. Os holofotes de luz branca só são acesos a partir do início das exibições.
Depois de tanto tempo sem os desfiles, o sentimento predominante tanto na plateia como entre os desfilantes era de alegria e alívio. “Perdi três parentes próximos (vítimas da covid-19), mas felizmente a pandemia passou e estamos aqui”, comemorava a mangueirense Enilda Silva, de 43 anos, no setor 1.
O presidente da Liga das Escolas de Samba (Liesa), Jorge Perlingeiro, classificou o evento como “o carnaval da superação”: “Adiamos quatro vezes (por conta da pandemia), foi uma luta, mas conseguimos realizar essa festa”, disse.
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Rebaixada em 2019 e campeã do desfile da segunda divisão em 2020, a escola de Ramos (bairro da zona norte do Rio) prestou uma homenagem a Arlindo Rodrigues (1931-1987), cenógrafo, figurinista e carnavalesco responsável pelos dois primeiros títulos da Imperatriz, em 1980 e 1981. O desenvolvimento do enredo coube à carnavalesca Rosa Magalhães, que no início da carreira foi subordinada a Rodrigues. Ela estreou no universo das escolas de samba em 1971, como figurinista do Salgueiro, na equipe dele. Dali em diante, Rosa foi parceira e rival do amigo.
Antes de chegar à Imperatriz, Rodrigues fez desfiles memoráveis pelo Salgueiro, onde foi cinco vezes campeão (em 1960, 1963, 1965, 1969 e 1971), e pela Mocidade Independente, onde venceu um desfile, em 1979. Por isso, o enredo da Imperatriz tornou-se uma revisita aos desfiles dessas escolas "coirmãs", retratados em muitas alas e mesmo em carros alegóricos, todos muito luxuosos e com excelente acabamento. Na parte final, claro, foram exaltados os dois desfiles de Rodrigues campeões pela Imperatriz.
O samba entoado pela Imperatriz tem um trecho com cadência muito mais lenta que a maioria dos sambas-enredo atuais, e fez sucesso com o público – animado também por estar vendo a primeira escola.
Desfile das escolas de samba do Rio
1 / 24Desfile das escolas de samba do Rio
Carnaval no Rio
Da esquerda para direita: Imperatriz Leopoldinense, Escola Viradouro, São Clemente, Beija-Flor e Mangueira. Foto: AP, AFP e EFE
Imperatriz Leopoldinense
Imperatriz Leopoldinense abriu a noite de desfiles no Rio com homenagem a Arlindo Rodrigues (1931-1987), cenógrafo, figurinista e carnavalesco. Foto: Carl de Souza/ AFP
Imperatriz Leopoldinense
Imperatriz homenageou Arlindo Rodrigues (1931-1987), cenógrafo, figurinista e carnavalesco responsável pelos dois primeiros títulos da Imperatriz, em ... Foto: Mauro Pimentel/ AFPMais
Imperatriz Leopoldinense
Imperatriz Leopoldinense foi a primeira escola a desfilar na Sapucaí. Foto: Bruna Prado/ AP
Imperatriz Leopoldinense
Integrantes da escola de sambaImperatriz Leopoldinense durante desfile na Sapucaí. Foto: Antonio Lacerda/ EFE
Imperatriz Leopoldinense
Rebaixada em 2019 e vencedora da segunda divisão em 2020, a Imperatriz terminou o desfile deste ano aos gritos de “é campeã!”. Foto: Antonio Lacerda/ EFE
Mangueira
Mangueira exibiu fantasias e carros alegóricos luxuosos e com acabamento refinado. Foto: Mauro Pimentel/ AFP
Mangueira
Mangueira prestou homenagem a três ícones da escola: o compositor e fundador Cartola (1908-1980), o intérprete Jamelão (1913-2008) e o mestre-sala Del... Foto: Amanda Perobelli/ REUTERSMais
Mangueira
Mangueira homenageou três ícones da própria escola: o compositor e fundador Cartola (1908-1980), o intérprete Jamelão (1913-2008) e o mestre-sala Dele... Foto: Mauro Pimentel/ AFPMais
Viviane Araújo
Comcinco meses de gravidez, Viviane Araújo brilhou à frente do Salgueiro. A rainha de bateria ecoou o enredo da escola: resistência negra. Foto: Antonio Lacerda/ EFE
Salgueiro na avenida
Com o abre-alas "Salgueiro, o Griô do Samba", a escola exaltou personalidades negras através de escudos. A cultura afro-brasileira também foi represet... Foto: Antonio Lacerda/ EFEMais
Salgueiro
Salgueiro exibiu fantasias e alegorias luxuosas, mas teve problemas com o relógio: ao final, as alas tiveram que correr para não extrapolar o limite m... Foto: Bruna Prado/ APMais
Salgueiro
Com o enredo “Resistência”, Salgueiro foi a terceira escola a desfilar. Foto: Mauro Pimentel / AFP
São Clemente
Rir é resistir, esse foi o clima da apresentação da São Clemente. A escola de samba reverenciou o artista Paulo Gustavo, vítima da covid-19. Durante o... Foto: Andre Coelho/ EFEMais
São Clemente
São Clemente homenageou o ator, autor e humorista Paulo Gustavo, morto em 2021 vítima da covid-19. Foto: Silvia Izquierdo/ AP
Dramaturgia no carnaval
O Mestre Caliquinho comandou a bateria da São Clemente. Na foto, a personagem Dona Hermínia - papel interpretado pelo ator Paulo Gustavo - saiu das te... Foto: Amanda Perobelli/ ReutersMais
Saudosismo
Uma espécie de saudosismo ao carnavais do passado. A escola de samba Viradouro teve como referência a Belle Époque para a criação do enredo. Os integr... Foto: Amanda Perobelli/ ReutersMais
Viradouro
Recriar o primeiro carnaval após a gripe espanhola de 1919, bailes à fantasia da época, cartazes com versos de samba e homenagem aos órixas. Esses for... Foto: Pilar Olivares/ ReutersMais
Viradouro
Unidos do Viradouro, de Niterói (Região Metropolitana do Rio), atual campeã do carnaval carioca. Foto: Carl de Souza / AFP
Viradouro
Escola Unidos do Viradouro reviveu o carnaval de 1919, o primeiro após a pandemia de gripe espanhola, que matou 35 mil pessoas no Brasil e que, antes ... Foto: Bruna Prado/ APMais
Rainha na Sapucaí
Sob o amanhecer do dia, arainha Raissa de Oliveira sambou e se emocionou com o público. Este ano, ela comemora 20 anos de trajetória na Beija-Flor. Foto: Amanda Perobelli/ Reuters
Beija-Flor
Reparação histórica, afrofuturismo e fim ao apagamento da cultura negra. Foram com essas representações que a Beija-Flor fez o abre-alas na avenida da... Foto: Amanda Peribelli/ ReutersMais
Beija-Flor
Primeira noite de desfiles das escolas de samba do Rio foi encerrada pela Beija-Flor. Foto: Silvia Izquierdo/ AP
Beija-Flor
Com o enredo “Empretecer o pensamento é ouvir a voz da Beija Flor”, repleto de referências à história, cultura, intelectualidade e personalidades negr... Foto: Silvia Izquierdo/ APMais
Em seguida desfilou a Mangueira, que prestou homenagem a três ícones da escola: o compositor e fundador Cartola (1908-1980), o intérprete Jamelão (1913-2008) e o mestre-sala Delegado (1921-2012). Reconhecido pelos enredos de cunho social, o carnavalesco Leandro Vieira desta vez caprichou nos tons verde e rosa, como na comissão de frente, que representou os sambistas, estrelas deste espetáculo.
Cada escola tem de uma hora a 70 minutos para desfilar, e cada noite de exibições deve terminar por volta das 5h do dia seguinte. A apuração vai acontecer na terça-feira, 26, e as seis escolas melhor colocadas voltarão a se exibir no desfile das Campeãs, no sábado, 30.