A criança Agatha Félix, de 8 anos, será enterrada neste domingo 22, no Cemitério de Inhaúma, na Zona Norte do Rio de Janeiro. O corpo só foi liberado às 21h30 de sábado, após um problema com o scanner corporal usado na perícia. De acordo com o Instituto Médico Legal, o equipamento tem três travas e uma delas não estava destravada corretamente por ter sido utilizado na capacitação de funcionários durante a semana. A menina foi assassinada com um tiro de fuzil pelas costas, na presença do avô, dentro de uma Kombi no Complexo do Alemão na última sexta-feira, 20. Agatha é ao menos a 16ª criança morta por disparos de arma de fogo na região metropolitana da capital fluminense neste ano, segundo levantamento divulgado pela organização Fogo Cruzado, que mantém um aplicativo que informa ocorrêncais de tiroteio na região. A família de Agatha acusa a Polícia Militar do Rio pelo disparo. A gestão Wilson Witzel (PSC) diz que havia um "confronto" no momento do disparo e informa que o caso está sob apuração.
Desses 16 baleados, quatro foram mortos, de acordo com o levantamento. Há envolvimento de policiais nos tiroteios que resultaram nas mortes de Jenifer Silene Gomes, de 11 anos, e de Kauã Vítor Nunes Rozário, também de 11. Em fevereiro, quando Jenifer morreu, sua família afirmou à imprensa carioca que o disparo havia sido dado por um policial à paisana que estaria perseguindo traficantes. Ela estava na porta de um bar, descascando cebolas, na favela de Jacarezinho, quando foi atingida.
Já Kauã estava andando de bicicleta, no Bangu, quando policiais e criminosos entraram em confronto. Um taxista também foi morto pelas balas perdidas e uma terceira pessoa também foi atingida.
O levantamento do Fogo Cruzado aponta que apenas em março nenhuma criança foi atingida por tiros na região, quando quatro houve quatro vítimas. Dois eram fetos, ambos de mães que estavam no oitavo mês de gestação. Um deles, que se chamaria Arthur, chegou a ficar um mês internado antes de morrer.
De janeiro a agosto, a polícia fluminense matou 1.249 pessoas – alta de 16,2% ante o mesmo período de 2018. Witzel defende abertamente o uso de atiradores de elite em operações policiais em comunidades, assim como o uso de snipers para abater bandidos.
Em nota, ao comentar a morte de Agatha, a gestão Witzel afirmou que a política de segurança “é baseada em inteligência, investigação e reaparelhamento das polícias”. Destacou ainda a queda de 21% dos homicídios dolosos nos primeiros oito meses do ano, menor índice para o período desde 2013.
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