RIO - O protético Eron Melo, que costuma participar de manifestações no Rio fantasiado de Batman e recentemente posou para fotografias ao lado do deputado federal Jair Bolsonaro (PP-RJ), foi rechaçado e agredido por ativistas nesta sexta-feira, 9, durante ato convocado pelo Movimento Passe Livre (MPL) contra o aumento de 13,3% na tarifa dos ônibus municipais, no centro do Rio.
Ele chegou por volta das 19 horas, quando os manifestantes já caminhavam em direção à Central do Brasil pela Rua Primeiro de Março, e foi recebido aos gritos de “fascista”. Melo segurava um cartaz com a inscrição “#luto Je Suis Charlie”, em referência aos atentados em Paris, que foi arrancado de sua mão. Em seguida, envolveu-se em uma briga com um pequeno grupo. Policiais que estavam ao lado não interferiram. “Deixa eles se matarem”, comentou um dos PMs.
“Ele foi rechaçado por apoiar o Bolsonaro, que é a favor de bater em mulher, e também porque apoiou ato em apoio aos militares no ano passado”, disse o estudante de Geografia Mateus Rodrigues Queiroz, de 20 anos. Melo foi fotografado ao lado de Bolsonaro durante manifestação contra a presidente Dilma Rousseff (PT) realizada na orla de Copacabana, em 15 de novembro.
Ele ficou menos de cinco minutos no ato do MPL. Deixou o local pela lateral do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em fuga, amparado por dois ativistas, enquanto outros gritavam: “fascista”, “oportunista”. Em depoimento ao coletivo Linhas de Fuga, Melo declarou: “Se eles dizem que é um ato popular, como querem definir quem pode e quem não pode? Eu tenho a minha filosofia pessoal, não sou de direita e nem de esquerda. Que a população se organize de forma partidária, sem esses pseudoanarquistas. Era um ato contra a Dilma, e daí que tirei foto com o Bolsonaro?”
O protesto reuniu mil pessoas, segundo estimativa de um oficial da Polícia Militar, e 5 mil, de acordo com o MPL do Rio. PMs dos Batalhões de Choque e de Grandes Eventos acompanharam a passeata, fazendo um cerco aos ativistas. Dentro da estação ferroviária Central do Brasil, onde foi realizado um protesto, policiais formaram um cordão atrás das catracas. Após a dispersão, quando um grupo de menos de 50 pessoas retornava para a Cinelândia, por volta das 21 horas, policiais lançaram duas bombas de efeito moral e usaram balas de borracha contra ativistas acusados de incendiar sacos com lixo nas calçadas. Pelo menos dois ficaram feridos. Uma estudante negra foi arrastada e espancada por um PM, que a imobilizou no chão, pressionando seu rosto contra um degrau. Algemada, ela foi levada para o quartel central da PM, antes de seguir para uma delegacia.
Policiais também perseguiram manifestantes no entorno da Câmara Municipal e pelo menos dois foram detidos. Eles foram liberados em seguida, após revista, sob protesto de ativistas, que gritavam: “Manifestante não é bandido, foi a PM que matou o Amarildo”, em referência ao pedreiro Amarildo de Souza, assassinado por policias da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Favela da Rocinha, em julho de 2013, segundo denúncia do Ministério Público. O MPL do Rio convocou nova manifestação para o dia 16, às 17 horas, na praça da Candelária.
No Rio, a passagem dos ônibus municipais subiu de R$ 3,00 para R$ 3,40 no último sábado. O reajuste de 13,3% é questionado na Justiça pelo promotor Rodrigo Terra. Pela primeira vez, o prefeito Eduardo Paes (PMDB) incluiu na tarifa custos com gratuidades e com a compra de novos ônibus equipados com ar-condicionado, que representam R$ 0,20 por passagem. Esse adicional não estava previsto no contrato com as concessionárias. Também foram anunciados aumentos de 12,45% na tarifa dos ônibus e vans intermunicipais, a partir de amanhã, do Bilhete Único (12,46%), a partir de 1º de fevereiro, das barcas (5,75%) e dos trens (3,66%), ambos a partir de 12 de fevereiro.
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