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Variante Delta avança e já representa 45% das amostras no Rio; taxa é de 23% na Grande SP

A cepa do coronavírus tem desacelerado planos de reabertura no exterior e avanço em diferentes Estados chama a atenção no Brasil. 'A Delta tomou um espaço muito rápido', alerta especialista do Rio Grande do Sul

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Foto do author Marcio Dolzan
Por Marcio Dolzan, Ítalo Lo Re e Eduardo Amaral

RIO - A variante Delta do novo coronavírus está avançando em diferentes Estados brasileiros. Dados divulgados nesta quarta-feira, 4, pelo governo do Rio apontaram que 45% das amostras analisadas obtiveram confirmação para a nova cepa na capital fluminense. Na Grande São Paulo, a taxa está em 23%, enquanto no Rio Grande do Sul a Delta é identificada em 15% dos casos sequenciados. O cenário tem chamado a atenção das autoridades. 

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A análise periódica de casos de covid-19 no Estado do Rio mostra que a variante Delta do coronavírus está em circulação pelo Estado e se encaminha para se tornar a mais frequente.  Ao todo, pelo menos 38 municípios fluminenses já registram casos dessa variante, identificada originalmente na Índia e mais transmissível. Os estudos ainda não associam, porém, a Delta à maior mortalidade. 

A Delta tem desacelerado planos de reabertura no Brasil e no exterior. De acordo com documento dos Centros de Prevenção e Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, essa variante pode ser tão contagiosa quanto a catapora. Pesquisas também já mostraram que uma só dose da vacina AstraZeneca ou Pfizer não é suficiente contra essa cepa, mas duas conseguem dar proteção. 

Os números do Rio foram apontados pelo programa de vigilância genômica e consideram 368 amostras coletadas entre junho e julho. No período, segundo a Secretaria de Estado de Saúde (SES), 66,58% das amostras eram da variante Gama (identificada originalmente em Manaus e predominante no Brasil) e 26,09% da variante Delta. Na rodada anterior, quando haviam sido sequenciadas 379 amostras, os números apontavam para 78,36% casos da Gama e 16,62% da Delta.

Variante Delta do novo coronavírus já circula pelo Rio de Janeiro Foto: Wilton Junior/Estadão

"Dessa forma, é possível afirmar que a variante Delta está em circulação no Estado do Rio de Janeiro, com tendência de aumento e conversão para se tornar a mais frequente", ressalta a SES.

De acordo com a secretaria, a amostragem apontou ainda 0,8% de incidência da cepa Alfa, identificada originalmente no Reino Unido, e de outra seis variantes, que "não são consideradas como de interesse nem de preocupação pela Organização Mundial da Saúde".

"Ela (se) dissemina muito mais rápido e tem velocidade de transmissão muito maior”, diz o secretário municipal de Saúde, Daniel Soranz. Por isso, é importante acelerar a campanha de vacinação, vacinar o máximo de pessoas possível no menor tempo para garantir a proteção do carioca contra essa nova variante e também nos meses de inverno, que são naturalmente meses de aumento de casos."

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Os dados foram divulgados nesta quarta-feira, 4, menos de uma semana após o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), anunciar um plano de médio prazo para flexibilização das regras de combate à covid-19. A intenção da prefeitura é liberar eventos em ambientes abertos a partir de setembro, quando também será permitido o retorno gradual do público vacinado aos estádios. Em novembro, até mesmo o uso de máscaras deixará de ser obrigatório em alguns ambientes.

Para especialistas, a expansão dos casos da variante Delta pode obrigar a prefeitura a rever esse posicionamento. "O plano anunciado cita - e eu achei muito importante - a avaliação do cenário epidemiológico”, afirma Carlos Freitas, coordenador do Observatório Covid-19 da Fiocruz.

“O plano sinaliza para uma saída, acho isso muito importante no sentido de as pessoas conseguirem enxergar que a pandemia não vai ser para a vida toda. Mas o preocupante é que, com o aumento da variante Delta, temos um aumento nos últimos dias de casos e óbitos por covid-19. Esse é um cenário preocupante. O plano da prefeitura vai ter de ser adaptado ao longo das próximas semanas e meses."

Prevalência da Delta está em alta em São Paulo

A variante Delta (B.1.617.2) já corresponde a 23,53% dos casos de covid-19 sequenciados na Grande São Paulo, ante a 71,21% da variante Gama (P.1), apontam dados de um relatório de monitoramento de linhagens do Sars-CoV-2 publicado no domingo, 1º, pelo Instituto Adolfo Lutz. A ocorrência das cepas foi obtida por meio de sequenciamentos depositados na iniciativa GISAID ao longo dos últimos 21 dias.

Ao todo, segundo o documento do Instituto, a incidência da Delta no Estado agora é de 4%. Já a Gama, que segue sendo predominante em diferentes regiões de São Paulo, corresponde a 80% dos diagnósticos positivos. Porém, enquanto a prevalência da Gama está em queda, a Delta está ganhando espaço em relação ao número total de casos, apontam dados do relatório organizados por data de coleta.

Com 28 novas amostras detectadas, a cidade de São Paulo chegou nesta terça-feira, 3, a 50 diagnósticos positivos da variante Delta. As informações são do monitoramento ativo da Prefeitura, feito em parceria com o Instituto Butantan, do governo do Estado. O procedimento é realizado por meio de cálculo amostral, por semana epidemiológica. Após serem coletadas, as amostras seguem para análise do laboratório do Butantan, onde é realizado o sequenciamento genético.

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Pesquisador do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP), José Eduardo Levi diz que os casos de Rio e São Paulo chamam atenção. “Me parece que começou a subir Delta mesmo aqui (no Brasil), o que é preocupante”, diz. Em maio e junho, relembra, houve zero casos de Delta em São Paulo e apenas um no Rio, mas agora o cenário parece mudar. "Aparentemente, estamos imitando o mesmo fenômeno que aconteceu em outros países”, diz. A principal diferença, segundo ele, é que no Brasil a variante está “deslocando” a Gama, enquanto em países como o Reino Unido ela se sobrepôs à Alfa.

“É bastante complicado falar de qualquer tipo de flexibilização agora, principalmente do uso de máscaras. Ainda não atingimos a cobertura vacinal necessária e também não temos o controle da transmissão", diz Mellanie Fontes Dutra, biomédica e coordenadora da Rede Análise Covid-19. Ela alerta ainda que, mesmo com a vacinação, nem todos os riscos de infecção serão abolidos.

"A vacina reduz substancialmente os riscos, mas em um cenário de alta transmissão ainda temos algum risco”, explica. “E os vacinados precisam ter em mente que a gente não sabe ainda o quanto eles ainda contribuem para a transmissão. Eles podem estar expondo pessoas que são suscetíveis ou que ainda não se vacinaram."

No Sul, Estados querem mais vacina e reforçam vigilância genômica

A chegada da variante Delta preocupa as autoridades dos Estados da Região Sul do Brasil. A situação mais grave até o momento é no Rio Grande do Sul, onde de acordo com o acompanhamento feito pela Secretaria Estadual da Saúde (SES) mostra que os casos detectados com a variante já representam pouco mais de 15% do total de novas amostras sequenciadas no Estado.

O boletim mais recente apontou um total de 45 pessoas infectadas pela variante Delta no Rio Grande do Sul, e já há no Estado a contaminação comunitária, quando a transmissão ocorre entre os moradores da região.

Os dois casos mais recentes, confirmados por exame de sequenciamento genético, foram diagnosticados na cidade de Gramado, na serra gaúcha.

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Entretanto, a variante Delta já tem registros em várias regiões do Estado, mostrando uma velocidade incomum de contaminação, como alerta o especialista em saúde do Laboratório Central do Estado (Lacen/RS), Richard Salvato. “A Delta tomou um espaço muito rápido, coisa que não se tinha observado em nenhuma outra variante.”

Apesar do crescimento de contaminação, o Rio Grande do Sul ainda não registrou mortes em decorrência da variante.

O cenário é um pouco diferente no Paraná, onde a contaminação pela Delta é mais baixa, já que a principal variante no Estado é a P1, ou Gama, que responde mais de 95% dos casos detectados. Entretanto, dos 29 casos de pessoas infectadas, a Secretaria de Saúde paranaense confirmou 12 óbitos pela Delta. Os paranaenses também já têm transmissão comunitária.

A Secretaria de Saúde paranaense confirma que a presença da variante gera grande preocupação, e, para frear o seu avanço, uma das medidas adotadas pelo governo foi pedir 90 mil doses de vacinas contra a covid-19 que seriam enviadas às regiões do Estado que fazem fronteira com países vizinhos.

No Rio Grande do Sul, a ampliação da vacinação também é vista como uma maneira de evitar o aumento de internações por causa da variante. Além disso, o Estado implementou a vigilância genômica, que são testes preliminares feitos pelo Lacen/RS, no qual casos suspeitos passam por um sequenciamento parcial. Logo depois as amostras são enviadas para a Fiocruz, que realiza o sequenciamento completo para confirmar a presença da Delta. No Paraná, a medida não foi adotada.

 

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