RIO - Em março de 2008, ao fechar a compra do Hotel Glória, o empresário Eike Batista anunciou uma grande reforma, de modo a torná-lo um seis-estrelas, um marco na história da hotelaria do Rio, tão luxuoso que poderia figurar no seleto rol dos dez melhores do mundo. “Vamos resgatar o charme dos anos 1920”, prometeu o empresário, à época dono de uma fortuna estimada em US$ 7,5 bilhões. De homem mais rico do Brasil a interno do presídio Bangu 9, foram nove anos e três projetos ambiciosos no setor de turismo abandonados, por falta de recursos.
Todos tinham como horizonte a Olimpíada de 2016. Além do Hotel Glória, cujas obras começaram em 2011 e foram paralisadas em 2013, na esteira da derrocada de suas empresas, Eike deixou para trás a transformação da antiga sede do Flamengo, o Edifício Hilton Santos, na Avenida Rui Barbosa, em um hotel quatro-estrelas, e a conversão da Marina da Glória em um complexo comercial e de lazer.
Eram planos que previam investimentos pesados na mesma área nobre do Rio, que tem como ícone uma paisagem de cartão-postal, formada pelo Pão de Açúcar, o Parque do Flamengo e a Baía de Guanabara. No caso dos prédios, a suspensão dos projetos teve efeito devastador: ambos viraram esqueletos e estão sem perspectivas.
Fracasso. O hotel – primeiro cinco-estrelas do País, fundado em 1922 e que recebeu 19 presidentes da República – está desenganado. Eike o comprou por R$ 80 milhões, com a intenção de reestruturá-lo em dois anos e reabri-lo, como Gloria Palace, para a Copa-2014 e a Rio-2016. No meio do caminho, veio o naufrágio do Grupo X. A poucos meses do início dos jogos, o hotel passou às mãos do fundo Mubadala, de Abu Dhabi, seu credor, com outros ativos.
“A visão empresarial do Eike estava correta. O problema não foi o fato de o projeto ser ambicioso demais, e sim não concluí-lo”, lembra o arquiteto e urbanista Washington Fajardo, que foi presidente do Instituto Rio Patrimônio da Humanidade entre 2009 e 2016. O fato de o projeto ter sido mudado três vezes, ao gosto do novo dono, atrapalhou seu andamento.
Com o aumento da capacidade hoteleira da cidade em 100%, por causa da Olimpíada, é possível que o Glória, assim como o hotel que Eike pretendia abrir no Edifício Hilton Santos, tenha perdido o timing. “O importante é que os prédios não fiquem como estão, porque o abandono impacta a segurança do entorno e deprecia o valor dos imóveis vizinhos”, ressalta Fajardo. “Para nós, o fechamento de um ícone como o Glória foi uma tragédia. Eike nos deu esperanças de abrir um grande empreendimento, mas ele é só um megalomaníaco destruidor”, declarou o taxista Adilson Borges, de 70 anos, há 40 no ponto na frente do hotel.
Sucesso. O caso da Marina da Glória é diferente. Com a compra da concessão, em 2009, Eike pretendia mudar a cara do porto, abrindo restaurantes, lojas, casa de shows, centro de convenções, 800 vagas para barcos e infraestrutura de turismo. O desenho foi barrado na Justiça, pois a Marina é tombada. Eike desistiu da iniciativa em 2013, ano em que seu império ruiu. Com a venda para a empresa BR Marinas e as decorrentes melhorias estruturais, ao custo de R$ 74 milhões, o local, hoje com restaurantes e mais convidativo ao público, foi utilizado com êxito na Olimpíada. Foi cenário do ouro de Martine Grael e Kahena Kunze na vela.
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