RIO - Um homem não identificado morreu nesta quarta-feira, 15, após trocar tiros com fuzileiros navais na Avenida Brasil, próximo ao Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Into), na zona norte do Rio, no segundo dia de vigência do decreto de garantia da lei e da ordem (GLO), que prevê o emprego das Forças Armadas no policiamento até o próximo dia 22.
Conforme os primeiros relatos, o homem foi baleado após roubar uma moto, ao lado de um comparsa, na pista no sentido do centro e da zona sul. Houve perícia tanto da Polícia Civil quanto de militares da Marinha, fechando três faixas da Avenida Brasil, uma das principais vias do Rio. Haverá duas investigações em paralelo.
Segundo o delegado titular da 17ª Delegacia de Polícia (DP), Mario Silva, uma moto foi roubada. O comparsa que estava com o homem baleado conseguiu fugir, disse Silva, com base nas primeiras informações passadas pelos fuzileiros envolvidos. Por isso, é provável que o homem baleado estivesse na garupa da moto roubada.
Quatro militares participaram da troca de tiros, de acordo com as informações colhidas por Silva com o militares. Os fuzileiros estariam a caminho do serviço de policiamento no Rio. No trajeto em direção ao centro e à zona sul, os militares se depararam com dois homens roubando a moto, disse o delegado Silva. Diante da ordem para pararem, os homens atiraram contra os fuzileiros e houve troca de tiros.
"Segundo os militares, houve troca de tiros e daí, por isso, o pretenso criminoso foi atingido. Houve um ataque, houve uma afronta aos militares fuzileiros, então houve a necessária reação e, em decorrência disso, a morte", disse Silva, logo após terminar o trabalho de perícia.
Em nota, o Ministério da Defesa informou que os fuzileiros faziam patrulhamento nas imediações da Rodoviária Novo Rio, próxima ao local. "Cumprindo as orientações e procedimentos para atuação na Operação Carioca, reagiram atirando somente no assaltante que estava armado", diz a nota do ministério.
O delegado Silva informou que apenas uma moto foi roubada. A vítima, um analista de sistemas que se identificou apenas como Lennon ao jornal "Extra", disse à publicação carioca que estava parado no trânsito quando os dois homens armados fizeram a abordagem e levaram a moto. Os suspeitos se depararam com os fuzileiros logo em seguida.
"Eu fiquei feliz com a presença dos militares, apesar de ficar sem a minha moto, o roubo não foi bem sucedido, já que um deles morreu", disse a vítima ao "Extra".
Relatos ouvidos pelo Estado no local indicam que os suspeitos cometeram mais assaltos antes. Pelo menos mais uma vítima estava dentro da área de isolamento formada pelas perícias da Polícia Civil e da Marinha. O homem teria tido a moto levada, mas o alarme travou o motor e os suspeitos não conseguiram fugir com o veículo. Em seguida, teriam roubado o celular e a carteira de um motorista do Uber. Conforme um relato, os dois suspeitos que participaram do tiroteio com os fuzileiros teriam o apoio de pelo menos mais um homem.
O homem morto teria sido identificado como Gilson da Conceição por uma mulher que seria avó de um dos filhos dele, informou uma autoridade que não quis se identificar. A mulher estava acompanhada de um homem e não quis dar entrevista.
O Ministério da Defesa informou que será aberto um Inquérito Policial-Militar (IPM) para apurar as circunstâncias da morte. Segundo o delegado Silva, o inquérito corre em paralelo com o da Polícia Civil, que ficará a cargo da Delegacia de Homicídios (DH) - os agentes da 17ª DP colheram os primeiros depoimentos e acompanharam a perícia para agilizar o processo.
Para a perícia, ficaram estacionados próximo ao corpo dois caminhões e dois jipes do Corpo de Fuzileiros Navais. A reportagem do Estado contou cerca de 30 militares fardados no local. Além deles, uma equipe de peritos militares estava num carro do 1º Distrito Naval, que fica no Rio.
A perícia levou mais de duas horas, de pouco antes das 10 horas até por volta de 12h15. Os primeiros registros de engarrafamento por causa da ocorrência surgiram às 9h17 na conta do Centro de Operações da prefeitura do Rio no Twitter. O trânsito foi liberado em torno de 12h30.
Com três faixas interditadas para a perícia (duas na pista central, uma na lateral), o engarrafamento motivou reclamações. O vigilante Rodrigo Ângelo, de 31 anos, fazia o trajeto entre a Ilha do governador, na zona norte do Rio, e a Praça Tiradentes, no centro, e ficou uma hora no ônibus, parado no trânsito da Avenida Brasil, até que decidiu saltar e seguir a pé até pegar outro meio de transporte.
Morador da Rocinha, uma das maiores favelas do Rio, entre Gávea e São Conrado, na zona sul, Ângelo acha que há mais segurança com as Forças Armadas nas ruas, mas demonstrou ceticismo em relação à operação iniciada na terça-feira. Segundo ele, assim como ocorreu na Copa do Mundo de 2014 e nos Jogos Olímpicos ao ano passado, quando os militares deixam as ruas, a insegurança volta. "Volta pior ainda", disse Ângelo.
O taxista Afonso Fontoura, de 50 anos, também reclamou. Ele disse que levou duas horas no trajeto entre o Aeroporto Internacional do Galeão, na zona norte, e o local do crime, trajeto de cerca de 14 quilômetros que pode ser feito em menos de 20 minutos de carro. "Isso não pode ter", disse Fontoura sobre o bloqueio das faixas para fazer a perícia. O taxista é indiferente à presença das Forças Armadas nas ruas. Segundo ele, não melhora a segurança. "Para mim, não faz diferença. Tenho 50 anos de Rio de Janeiro, sei como ficar seguro", disse.
As Forças Armadas estão atuando no policiamento do Rio desde terça-feira, 14, com 9 mil homens. A presença dos militares foi autorizada pelo presidente Michel Temer após pedido do governador Luiz Fernando Pezão (PMDB).
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