Após a chuva intensa de quinta-feira, 23, e com mais precipitação prevista para o fim de semana, o Rio Grande do Sul está em alerta hidrológico e geológico para novos deslizamentos, elevação de rios e avanço das inundações. A situação gerou a evacuação e a recomendação da saída da população em municípios do interior, como em áreas de Cruzeiro do Sul, no Vale do Taquari, e Pelotas, na região sul, nesta sexta-feira, 24.
O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) emitiu um alerta de possibilidade “muita alta” para inundações diante da elevação do rios e previsão de acumulados de até 150 mm de chuva. Já o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) colocou todo o Estado em alerta para chuva intensa, assim como toda a parte costeira em alerta de “perigo” para ventos fortes.
A maior preocupação é com as regiões mais castigadas com os eventos extremos desde o fim de abril. Entre elas, estão o Vale do Taquari, a Serra Gaúcha, a Grande Porto Alegre e parte da região sul, no entorno da Lagoa dos Patos.
Em Porto Alegre, os vãos deixados pela remoção de comportas começaram a ser preenchidos por uma barreira de sacos de areia e cimento. Isso porque começou um segundo repique do Lago Guaíba neste mês, que voltou a passar dos 4 metros, enquanto a cota de inundação é de 3 metros.
Os novos alagamentos que ocorreram na quinta-feira, 23, começaram a recuar em Porto Alegre pela manhã, porém o retorno da chuva forte pela tarde trouxe preocupação. Já a enchente segue elevada em parte dos bairros afetados desde o início do mês, especialmente na zona norte, no extremo sul e nas ilhas, como no Sarandi, no Humaitá, no Lami e no Arquipélago.
Uma das principais vias da capital gaúcha, a Avenida Ipiranga teve faixas interditadas nesta sexta diante da abertura de um buraco em uma tubulação abaixo de uma das pistas em frente à Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Ao longo da avenida, trechos do talude de contenção do Arroio Dilúvio já haviam desmoronado nas últimas semanas, derrubando partes da ciclovia.
Nesta sexta, com o solo encharcado, a chuva e o sistema de escoamento de água praticamente colapsado, Porto Alegre emitiu um alerta para alto risco de deslizamentos, processos erosivos e rolamento de blocos em áreas suscetíveis. O alerta abrange trechos de 24 bairros das zonas norte, leste e sul, como Sarandi, Cristal, Lomba do Pinheiro e Mario Quintana.
No Vale do Taquari, Cruzeiro do Sul, um dos municípios mais devastados pelo extremo climático, passou por mais uma evacuação. Na madrugada, a Defesa Civil anunciou a retirada de famílias de um bairro em risco de deslizamento.
Além disso, também na Região dos Vales, os Rios Caí e Cadeia voltaram a se elevar e estão em risco iminente de transbordamento mais uma vez. Com a força das águas, as passarelas flutuantes instaladas pelo Exército em Candelária e entre Arroio do Meio e Lajeado foram arrastadas pela correnteza, deixando novamente localidades ilhadas.
Há alerta de ventos de até 80km/h na parte leste do Estado, o que abrange a região metropolitana, o litoral, parte da Serra Gaúcha e o entorno da Lagoa dos Patos. Essas ventanias têm influenciado no escoamento de água, principalmente causando um represamento no Lago Guaíba.
Na região sul, a Lagoa dos Patos segue acima da cota de inundação, com a expectativa de que continue a receber grande volume de águas do Guaíba nos próximos dias.
A prefeitura de Pelotas anunciou novas áreas com alerta vermelho (de evacuação imediata) no mapa de risco na manhã desta sexta. “Estamos com uma situação de alta e uma chuva em pouco tempo, com esse volume grande, tem um impacto”, justificou a prefeita, Paula Mascarenhas (PSDB), ao anunciar a decisão em rede social.
Segundo o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer), há ao menos 75 bloqueios em rodovias estaduais e federais, o que inclui rompimento de pontes. Na capital gaúcha, o prefeito Sebastião Melo (MDB), anunciou a criação de um segundo “corredor humanitário”, para ligar a Avenida Assis Brasil à rodovia Freeway, para desafogar o fluxo para a região metropolitana e o interior.
A Barragem Salto, em São Francisco de Paula, na serra, está classificada em alerta de emergência, com “risco de ruptura iminente”, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Ao todo, a agência nacional e o Estado monitoram outras sete barragens em nível de alerta e 10 em estado de atenção.
Ao menos, 145,8 mil imóveis estão sem energia elétrica, segundo o Governo do Estado. Após semanas de problemas, o fornecimento de água foi restabelecido em grande parte dos municípios. O balanço mais recente aponta 1.063 escolas impactadas (o que inclui aquelas que viraram abrigos, estão com problemas de acesso e foram inundadas, dentre outros problemas).
Na rede estadual, 588 escolas não retornaram. Além disso, 141 colégios que haviam retomado as atividades tiveram as aulas suspensas na região metropolitana, no Vale do Taquari e na região da fronteira, como em São Leopoldo, Porto Alegre, Estrela e Santana do Livramento ao menos até a próxima semana.
Na capital, não há previsão para a reabertura do aeroporto, da rodoviária e das estações do trem metropolitano. As viagens terrestres para fora do Estado estão sendo direcionadas para Osório, no litoral norte, enquanto uma ação de malha aérea emergencial aumentou o volume de voos em aeroportos do interior gaúcho e de Santa Catarina. Além disso, a Base Aérea de Canoas começará a receber voos comerciais a partir da segunda-feira, 27 (saiba mais sobre preços e rotas aqui).
Segundo balanço deste sábado, 25, da Defesa Civil, mais de 2,3 milhões de pessoas foram diretamente impactadas, das quais 581,6 estão desalojadas e 55,7 mil em abrigos. O balanço parcial aponta 165 mortes confirmadas, além de 64 desaparecidos. Ao todo, 469 dos 497 municípios gaúchos foram afetados desde o início da chuva extrema, das enchentes e dos deslizamentos, que começaram no fim de abril.
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