Quem são os santos brasileiros? Entenda a diferença entre beatificação e canonização na Igreja

Nos últimos meses, duas brasileiras, uma do Ceará e outra de Minas Gerais, se tornaram beatas: Isabel Cristina e Benigna Cardoso da Silva; especialista explica caminho para canonização

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Por Giovanna Castro
Atualização:

No último sábado, 10, a estudante cristã Isabel Cristina, brutalmente assassinada em 1982 em Juiz de Fora (MG), foi beatificada pela Igreja Católica. Em outubro, outra jovem brasileira também passou pelo mesmo reconhecimento pela Igreja: a cearense Benigna Cardoso da Silva. O Estadão conversou com o historiador especialista em religião católica e professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais Rodrigo Coppe para entender o que é beatificação e qual o processo para a canonização de santos.

Isabel Cristina, beatificada no último sábado, 10, tinha uma trajetória de fé junto à Igreja Católica e foi brutalmente assassinada durante uma tentativa de estupro. Sua morte violenta foi considerada pelos católicos um verdadeiro martírio. Foto: Arquivo da Paróquia de Nossa Senhora da Piedade, em Barbacena (MG)/Divulgação

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De acordo com Coppe, a beatificação é uma das etapas de reconhecimento da Igreja Católica em relação à santidade de uma pessoa, enquanto a canonização é o estágio final, quando ela de fato é entendida como santa. “A beatificação é um momento de um processo muito longo de reconhecimento pela instituição católica de um santo”, diz.

Para se tornar um beato, é preciso comprovar que a pessoa foi intercessora de um milagre divino ou vítima de um martírio (quando passa por um grande sofrimento ou é morta em consequência da sua adesão à fé), como foi o caso de Isabel e de Benigna. Já para ser reconhecido como um santo, é necessário mais de um milagre comprovado.

“Para a Igreja Católica, em linhas gerais, é considerado um milagre todo acontecimento sobrenatural, ou seja, que não pode ser explicado pela ciência natural, de causa e efeito”, explica Coppe.

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Benigna foi brutalmente assassinada aos 13 anos em 1941 por um rapaz que a assediava. Ela é venerada por católicos como um mártir da pureza e da castidade. Foto: Vaticano/Reprodução

Reconhecendo a santidade

Segundo o especialista, o processo de reconhecimento de uma pessoa como santa começa a partir do momento em que a comunidade em que ela vive ou viveu a reconhece por sua fé católica, compaixão e caridade. “Ela é indicada então pela própria comunidade ou por um padre ao bispo da região para que sua fama católica seja investigada”, diz.

Após uma primeira investigação sobre a veracidade dos fatos que mostram que a pessoa se destaca como uma cristã de excelência, o bispo entra com um pedido oficial de reconhecimento da pessoa como santa na Congregação para as Causas dos Santos, do Vaticano.

A partir do momento em que são comprovadas as suas virtudes e/ou milagres, ela recebe títulos de reconhecimento por isso – em casos de beatificação e canonização, o próprio papa se pronuncia, reconhecendo aquela pessoa por sua fé e sua atuação na comunidade que condiz com os preceitos católicos.

Se afirmada como santa pela Igreja Católica, a pessoa será reconhecida e cultuada como agente da fé pelo Vaticano e pelas igrejas espalhadas em todo. Já os beatos costumam ser reconhecidos e cultuados em nível regional na comunidade e no País em que viveram.

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“Vale lembrar ainda que existem aqueles que nós chamamos de ‘santos do povo’, que são pessoas que são reconhecidas e cultuadas localmente pela comunidade católica, mas que não passaram ainda pelo processo de reconhecimento pela instituição”, acrescenta Coppe.

Diferença entre venerável, servo de Deus, beato e santo

Além do título de beato e santo, existe também o “venerável” e o “servo de Deus”. Entenda a diferença:

  • Servos de Deus: pessoas que já possuem suas causas de beatificação oficialmente abertas e estão na fase diocesana do processo;
  • Veneráveis: pessoas que já tiveram algumas de suas virtudes reconhecidas pela Igreja, recebendo o título de veneráveis;
  • Beatos: pessoa que comprovadamente foi intercessor de um milagre ou sofreu um martírio;
  • Canonizado: pessoa que tem mais de um milagre comprovado e por isso se torna santa.

Segundo Coppe, nos últimos 50 anos, cada vez mais pessoas “comuns”, como Isabel e Benigna, que não tinham um papel social católico – como padres e freiras – têm sido reconhecidas pela Igreja Católica. Com isso, a instituição visa a mostrar que os preceitos da fé, de compaixão e caridade, podem ser reproduzidos e reconhecidos em todos.

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“O papa Paulo VI, que veio pouco antes do João Paulo II, dizia que ‘o santo e a santa são aqueles que vivem o ordinário de maneira extraordinária, o comum de maneira incomum’. Isso é uma mensagem muito forte para aquelas pessoas que entendiam a santidade apenas como fazer milagres”, explica o especialista.

Saiba quem são os santos brasileiros reconhecidos pela Igreja Católica

  • Santo André de Soveral e companheiros: Mártires de Cunhaú e Uruaçu (Vinte e cinco homens e cinco mulheres mártires)
  • Santo Antônio de Sant’Ana Galvão (Frei Galvão)
  • Santa Dulce dos Pobres
  • São José de Anchieta, SJ
  • Santa Paulina do Coração Agonizante de Jesus
  • São Roque Gonzales, Santo Afonso Rodrigues e São João de Castilho, mártires

Conheça a história dos santos brasileiros

São 37 santos brasileiros – nesta conta, são considerados todos os santos que viveram no Brasil, mesmo que tenham nascido em outros países.

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A primeira personalidade a ser considerada uma santa brasileira foi Amabile Lucia Visintainer (1865-1942), a religiosa Madre Paulina, canonizada por João Paulo II em 19 de maio de 2002. Nascida na Itália, a freira passou a maior parte da vida no Brasil – atuou em Santa Catarina e em São Paulo, onde morreu no bairro do Ipiranga.

Antes, também pelas mãos de João Paulo II, três missionários jesuítas ligados ao Paraguai e mortos em terras brasileiras já haviam sido canonizados. O paraguaio Roque Gonzáles de Santa Cruz (1576-1628) e os espanóis Afonso Rodrigues (1598-1628) e Juan de Castillo (1595-1628) ficaram conhecidos como os “mártires do Rio Grande do Sul”.

O primeiro santo brasileiro nascido no Brasil seria reconhecido apenas em 2007, em missa celebrada pelo papa Bento XVI em São Paulo. O frade franciscano Antônio de Sant’Anna Galvão (1739-1822), mais conhecido como Frei Galvão, é famoso entre os fiéis pelos relatos de curas milagrosas.

Irmã Dulce nasceu em 1914 na cidade de Salvador (BA). Foto: Obras Sociais Irmã Dulce/Divulgação

Um dos fundadores da vila que daria origem à cidade de São Paulo, o jesuíta espanhol José de Anchieta (1534-1597) foi declarado santo em 2014, já pelo papa Francisco. No ano seguinte, acabaria reconhecido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) como um dos padroeiros do País.

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Em 15 de outubro de 2017, Francisco aumentou a lista. Em uma prática relativamente comum de seu pontificado, as canonizações coletivas de grupos, tornou santos, de uma só vez, outros 30 personagens brasileiros: os “mártires de Cunhaú e Uruaçu”, vítimas de dois morticínios realizados em 1645 durante as invasões holandesas ao Brasil.

A mais recente canonização de uma brasileira foi a de Santa Dulce do Pobres. A baiana Maria Rita de Souza Brito Lopes Pontes, Irmã Dulce dos Pobres, morreu em 1992 aos 77 anos e foi canonizada pelo papa Francisco em outubro de 2019.

Segundo a instituição Obras Sociais Irmã Dulce, por volta de 1927, aos 13 anos de idade, a adolescente começou a atender doentes no portão de casa. O local ficaria conhecido mais tarde como “A Portaria de São Francisco”. Conheça a história dela aqui. / Colaborou Edison Veiga

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