Brasileiros ocupam terras bolivianas em toda a fronteira de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rondônia e Acre, mas o problema maior é o acreano. É que, 106 anos depois da chamada Questão do Acre e da conquista de parte do território boliviano pelo Brasil, a desconfiança não passou. "As sequelas ficaram", disse Eduardo Gradilone Neto, diretor do Departamento das Comunidades de Brasileiros no Exterior , do Itamaraty. Os bolivianos temem que a ocupação de terras deles por parte dos acreanos crie uma segunda Questão do Acre. Há mais de 100 anos, mesmo com os tratados sobre fronteiras assinados anteriormente entre Portugal e Espanha nos séculos 18 e 19, restaram ainda alguns problemas fronteiriços que tiveram de ser solucionados no século 20 pela República. Um deles foi a região de seringais que pertencia à Bolívia mas era habitada por brasileiros desde o fim do século 19. Em 1899, recusando-se a reconhecer a autoridade boliviana, o aventureiro espanhol Luís Galvez Rodrigues de Arias, que vivia na região, proclamou a República do Acre, exigindo sua anexação ao Brasil. As forças armadas de ambos os países expulsaram Galvez, mas em 1902, quando os bolivianos arrendaram a área para o Bolivian Syndicate of New York, uma nova rebelião estourou. Comandados por Plácido de Castro, os brasileiros decretaram o Estado Independente do Acre.Em 1903, por sugestão do Barão do Rio Branco, o Brasil acabou por comprar a região de bolivianos e peruanos, estabelecendo suas fronteiras atuais por meio do Tratado de Petrópolis. O Bolivian Syndicate foi indenizado e o Brasil se comprometeu a construir a Ferrovia Madeira-Mamoré, no trecho das cachoeiras do Rio Madeira, para permitir o escoamento e a exportação da borracha boliviana pelos portos de Manaus e Belém. As ferrovia foi feita, mas hoje não existe mais.
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