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O ano do carnaval que não houve

É a hora dos negócios que ainda não começaram sua transformação botarem seus blocos na rua

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Por Silvio Meira

Dois mil e vinte e um será o ano do carnaval que não houve. Quem sentirá na alma são os brincantes para quem carnaval é mais do que um feriado pagão, para quem é uma celebração da alegria do presente e das tristezas do passado nas ladeiras de Olinda, nos blocos de pau-e-corda nas vielas do Recife Antigo e nos maracatus, alfaias a virar em todo lugar. O calendário pode não ter passado para o carnaval, mas ele se acelerou para os negócios. Pode até aparecer no calendário que o ano é 2021, mas não: é 2025, ou mais. A aceleração digital causada pela pandemia, segundo múltiplas pesquisas, é de pelo menos meia década. A supressão do espaço físico catalisou o aprendizado que estava represado por décadas – porque dava para viver sem as habilitações digitais no negócio, na casa, no entretenimento… – e tudo aconteceu em meses.

O desafio dos negócios é seguir seus clientes na velocidade das mudanças. Porque os saltos para o futuro não foram pequenos: o e-commerce levou duas décadas, de 1999 a 2019, para chegar a 6% do varejo brasileiro. Em 2020, foi para 10%, entrando decididamente em categorias que nem apareciam nas estatísticas.

O calendário pode não ter passado para o carnaval, mas ele se acelerou para os negócios Foto: Pixabay

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A aceleração digital é mudança de comportamento em estado quase puro. Passamos a usar o que já tínhamos e não fazíamos ideia de como usar, porque não precisávamos. A necessidade foi a mãe do aprendizado. Uma parte do tempo nas empresas podia ser dedicado, estrategicamente, para aprender sem crises. O ano de 2020 causou um grande número de rupturas.

Mas ainda há empresas – na verdade, a maioria – sem entender o que se passou e as mudanças que já vinham acontecendo. Não é mais digitalização, comprar e instalar tecnologias digitais nos negócios; isso era antes de 2010. A década passada já foi de transformação digital, a combinação de inovação digital com transformação estratégica, que vai se acelerar muito nos anos 2020, exigindo o redesenho das teorias dos negócios e de suas capacidades, para dar conta das rupturas nos mercados, do fim de muitos deles e o surgimento de tantos outros.

No ano do carnaval que não houve, este texto nasceu no Dia do Frevo, nove de ‘frevereiro’. Sabendo a gradação da música-essência de Pernambuco, do mais lento (canção) ao mais agitado (de rua), é a hora dos negócios que ainda não começaram sua transformação botarem seus blocos na rua, ao som de frevos de abafo, coqueiro e ventania, porque ainda há tempo para chegar inteiro no porto digital. Mas, se você não sabia, se ligue: o Bloco da Saudade não sai na Rua do Futuro.

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*É PROFESSOR EMÉRITO DA UFPE E PESQUISADOR DO INSTITUTO SENAI DE INOVAÇÃO. É FUNDADOR E PRESIDENTE DO CONSELHO DO PORTO DIGITAL

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