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Transformação e trabalho

Trabalho pode ser descrito pela combinação de padrões, aprendizado, por meio de inteligência artificial, sobre os padrões de trabalho e robótica

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Por Silvio Meira

Voltamos ao tema trabalho – e seu processo de transformação – no mês em que se comemora o dia do trabalho, porque, talvez, este seja um dos mais preocupantes aspectos da transformação digital que já ocorre em todos os mercados, em todo o mundo. Por que tanta preocupação, agora? Porque nem sempre o futuro é feito de rupturas, exceto quando passamos por grandes transformações, como agora; aí – com o impacto de inteligência artificial, por exemplo – as mudanças são tão dramáticas que pode não haver conexões entre antes e depois, principalmente para as pessoas. 

No curso de milênios, inovações radicais mudaram o trabalho Foto: Amir Cohen/Reuters

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Trabalho pode ser descrito pela combinação de padrões [de ação humana para resolver problemas, descobertos em grandes volumes de dados capturados no ambiente], aprendizado [realizado por máquinas, por meio de IA, sobre os padrões de trabalho...] e robótica [automação, abstrata na forma de software ou concreta, talvez móvel, como veículos autônomos]. O uso desta equação para codificar e transferir trabalho de humanos para sistemas de informação já afeta todo trabalho do planeta e deslocará 15% do emprego, no Brasil, em 15 anos.

No curso de milênios, inovações radicais como o arado mudaram o trabalho. Ao mesmo tempo, a velocidade de disseminação de inovação no passado sofria de uma lentidão que trabalhava a favor das pessoas afetadas pela inovação. Mas a combinação de revoluções de hardware e software e de autonomia num mundo em rede é tão rápida que pode não dar tempo para a maioria das pessoas e nem de economias de se adaptar.

Enquanto a transformação digital muda sociedade, economia e negócios, é preciso redesenhar aprendizado, formas, métodos e processos para organizar o trabalho e reformar todo o contexto no qual ele o e emprego se inserem. Sem isso haverá depressão econômica e social nos próximos 10 ou 15 anos

E inteligência artificial mudará o trabalho mais do que qualquer outra tecnologia, pois nem o trabalho cognitivo está a salvo de sua influência. Um dos problemas mais complexos é que o "tipo errado" de IA – o que apenas substitui trabalho humano, em vez de expandir a capacidade humana – pode fomentar e aumentar a desigualdade em vez de gerar prosperidade. A urgência por políticas públicas efetivas para tratar a transformação digital nunca foi tão clara. Sem elas, dezenas de milhões de brasileiros estarão à deriva, entregues à própria sorte. E isso é um mau agouro, mesmo para os que tenham a competência – e sorte – de encontrar trabalho no futuro digital. *É PROFESSOR EMÉRITO DA UFPE E PESQUISADOR  DO INSTITUTO SENAI DE INOVAÇÃO. É FUNDADOR E PRESIDENTE DO CONSELHO DO PORTO DIGITAL

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