SIP critica fechamento de TV na Venezuela

RCTV segue no ar pela internet; outras emissoras estão ameaçadas

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Por Roberto Lameirinhas e em Caracas

A Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) condenou ontem o fechamento da Rádio Caracas Televisão (RCTV) e de outros canais a cabo na Venezuela. O presidente da organização, Alejandro Aguirre, questionou a "intolerância" do governo de Hugo Chávez com a liberdade de imprensa no país. "A SIP continuará criticando e condenando as ações de um governo que há muitos anos está se apoiando em leis intolerantes para atacar a liberdade de imprensa e fechar meios de comunicação independentes", disse.Os EUA também manifestaram preocupação com o fechamento dos canais.Enquanto o governo venezuelano renovava ontem as ameaças de fechar mais emissoras de rádio e TV e impunha as condições para que os seis canais que saíram do ar à meia-noite de domingo voltem a transmitir por cabo, funcionários da RCTV trabalhavam normalmente, transmitindo apenas pela internet. Na frente da sede da emissora - cujo sinal aberto havia sido retirado em maio de 2007 por decisão do presidente Hugo Chávez, que se recusou a renovar sua concessão -, havia poucos sinais de protesto, exceto por algumas faixas e inscrições nos muros que pediam respeito à liberdade de expressão.O iluminador Alberto, que trabalha na emissora há mais de dez anos, acredita que o canal voltará ao ar em breve. "Quase três anos atrás eu vi o mesmo filme", disse. Segundo ele, o fechamento de 2007 foi mais traumático. "Sair do sinal aberto parecia que era o fim, mas acabamos voltando. E voltaremos agora também."Numa entrevista à Globovisión ontem à noite, o presidente do grupo proprietário da RCTV, Marcel Granier, disse que está disposto a deixar seu cargo para evitar que a perseguição do governo contra ele prejudicasse a emissora.Por seu lado, o diretor da Conatel e ministro de Obras Públicas, Diosdado Cabello, afirmou que, para a RCTV voltar ao cabo será necessário que seus diretores assumam compromisso com a comissão de submeter-se às normas do governo, aceitando se integrar às redes nacionais e submetendo sua programação à classificação etária. Segundo Cabello, depois de quatro meses, se a RCTV tiver uma programação predominantemente estrangeira, poderá requerer a licença como emissora internacional.Cabello deixou no ar, no entanto, a impressão de que outras emissoras, as quais não denominou, estão em situação irregular pelos critérios da Conatel e também poderiam ser sancionadas.Ao mesmo tempo, cresceram as críticas da sociedade civil à política de Chávez para as emissoras de TV. O arcebispo de Coro, Roberto Luckert, afirmou em entrevista coletiva que o governo se dirigia para uma política de comunicação semelhante à de Cuba. "O Estado é que tem hoje o megalatifúndio da mídia que o governo acusava a oligarquia de possuir", afirmou.EVOO presidente reeleito da Bolívia, Evo Morales, anunciou que pretende fiscalizar o trabalho da imprensa no país. "Estamos discutindo um modo de fazer com que os meios de comunicação não mintam", disse em sua primeira entrevista após a posse.

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