A agência de análise de risco Standard & Poor's (S&P) rebaixou a avaliação da dívida argentina. A S&P rebaixou a nota (rating) de crédito soberano de longo prazo tanto em moeda local quanto estrangeira de "B+" para "B". A informação foi divulgada num comunicado da agência na segunda-feira. Segundo analistas de finanças da Argentina, a nota argentina passou a se assemelhar às das dívidas do Paraguai e da Jamaica - economias menores que a argentina. O analista de crédito da S&P, Sebastian Briozzo, disse que a nota reflete os "crescentes desafios" do país. Ele explicou: "Aumentou a pressão financeira, fiscal e de inflação da Argentina. Mas continua baixa a possibilidade de o governo adotar medidas corretivas na economia". O anúncio foi feito quando o mercado financeiro argentino já terminava suas operações do dia. Bolsa de Valores Mas analistas especulam que a decisão da S&P poderá refletir ainda mais, nesta terça-feira, na movimentação do índice Merval da Bolsa de Buenos Aires e no valor dos bônus da dívida pública do país. Na segunda-feira, os títulos da dívida pública argentina começaram o dia em alta, mas caíram fortemente no fim da jornada. O fato ocorreu depois que foi divulgada a inflação oficial do país - apontada como "maquiada" pela oposição, economistas de diferentes tendências e por trabalhadores do instituto que mede o indicador. Segundo o Indec (Instituto Nacional de Estatísticas e Censos), o Indice de Preços ao Consumidor (IPC) oficial de julho foi de 0,4%. A inflação acumulada, no ano, é de 5% - cerca de três vezes menor que as estimativas de diferentes universidades e consultorias privadas. A baixa de julho teria ocorrido devido a queda nos preços da carne e do azeite. "Mas a desconfiança no indicador é tanta que ninguém acredita nisso. E nem encontra produtos com menor preço, como sugere o Indec", disse o analista econômico Marcelo Bonelli, da TN (Todo Noticias). "Desconfiança" "A decisão da Standard&Poor's confirma que os mercados estão esperando medidas de fundo por parte do governo argentino. O mercado não espera aspirinas. E uma destas medidas está diretamente ligada a desconfiança gerada pelo Indec", disse a analista de economia da TV América 24. O novo dado do Indec provocou mais um protesto dos trabalhadores do instituto, no centro de Buenos Aires, nesta segunda-feira. Este indicador, como está entendem especialistas, de universidades como Di Tella, estariam provocando "distorções" nos resultados reais sobre inflação, pobreza, dívida pública e crescimento do PIB (Produto Interno Bruto). Na segunda-feira, acompanhando o ritmo no mercado internacional, o indice Merval (que reúne as principais empresas da Bolsa de Buenos Aires) caiu 3,8% - o maior retrocesso desde outubro de 2005. A sexta-feira passada foi marcada pela volatilidade nos títulos da dívida argentina. Os principais jornais do país informaram que os bônus caíram "na pior semana da economia do país em muito tempo". A situação ocorreu pouco depois de confirmado que a Venezuela comprara novo lote de títulos da dívida argentina - com taxas, novamente, acima do mercado. Analistas econômicos, como Mario Blejer, ex-presidente do Banco Central, e Miguel Kiguel, da consultoria Econviews, entendem que a situação atual é um espelho de várias questões. São elas: a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, não pretende "corrigir" os problemas no Indec; apenas a Venezuela compra os papéis da dívida do país, mas com juros altos; a Argentina não tem outro crédito na praça; o governo ainda não teria dado sinais de que negociará sua dívida com o Clube de Paris - o que dificulta o acesso a novos créditos. Esse cenário tem provocado a alta na chamada taxa de risco país da Argentina - que voltou a ser uma das mais altas da América Latina. BBC Brasil - Todos os direitos reservados. É proibido todo tipo de reprodução sem autorização por escrito da BBC.
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